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Nº 129 – A água

Sábado, dia 9 de julho de 2022.

… é um bem cada vez mais escasso. Há algum tempo atrás, esta realidade chegou mesmo a provocar uma forte crise conjugal. As pessoas discutem por tudo e por nada, não apenas por dinheiro. Até mesmo um simples duche pode ser o suficiente para destruir uma amizade…

O que aconteceu? Imagine uma mulher a tomar duche. O marido não está em casa. Ao acabar de se ensaboar, falta repentinamente a água… Na cidade, realmente, ninguém está a contar com cortes de água. Pensam que ela corre fresca da torneira e está sempre disponível, tal como a eletricidade, nas tomadas. Apenas quando a água deixa de correr tomamos consciência do seu valor. Se não se operarem mudanças, teremos que adotar medidas restritivas: ou choverá durante várias semanas, a fio, ou teremos que aplicar restrições ao seu consumo. Na cidade, os cortes de água são anunciados pelos serviços apenas em cima da hora. Há que fazer parecer que tudo continua normal. Há que evitar a todo o custo o prenuncio de uma catástrofe! Será que as pessoas não têm consciência de que, após estes longos períodos de seca extrema – muitas barragens estão quase vazias – e que é inevitável que a água seja cortada durante o dia? Será necessário tomar duche todos os dias, lavar os carros e regar a relva? As pessoas pensam apenas em si próprias, não é?

A crise só chega aos lares quando nestes falta a água para o banho ou para fazer café.

Quem se quiser ir preparando para este verão e para a escassez do bem mais precioso da Terra, pode, como medida de resiliência, guardar sempre um garrafão de cinco litros de água na casa de banho. Pergunto-me como irão explicar o racionamento de água aos milhões de turistas? Os turistas tomam dois duches por dia, no mínimo…

 

Quem quiser passar a fazer parte da solução para o problema, que fuja da cidade e venha morar para o campo, onde terá a possibilidade de construir uma cisterna. Sair da cidade e vir para o campo tem muitas vantagens. Basta um pouco de chuva para encher uma cisterna, se a sua água for canalizada do telhado para a cisterna através de caleiras. E o nível de água na cisterna dá-nos uma ideia das reservas que ainda temos. Os rio, os ribeiros e as barragens vão secando progressivamente. Quem vive no campo tem por hábito verificar a quantidade de água que ainda tem na sua cisterna para poder tomar duche ou desenvolver outroas atividades.

E…

devo confessar que eu, o autor desta história, também vivo no campo. Plantar algumas árvores autóctones no seu jardim na época certa resolve as crises climáticas a nível pessoal. Esta seria a única possibilidade verdadeira de combater a seca extrema: Plantar e cuidar continuamente de árvores autóctones, amieiros, freixos, tílias, castanheiros, carvalhos e alfarrobeiras, conforme a região. Não plantar eucaliptos e acácias, que absorvem muita água. Após poucos anos, mesmo uma pequena floresta irá proporcionar sombra e as raízes irão reter a água, como uma esponja. Assim também se resolveria o problema do duche, porque a água do duche poderia ser aproveitada para regar jovens árvores, canalizando-a diretamente do duche para a jovem floresta, desde que não contenha os microplásticos e tensioativos sintéticos adicionados aos shampoos comuns. O consumidor de água passaria a ser, ao mesmo tempo, amigo da natureza. Estas florestas saudáveis e diversas também contribuem para resolver o problema do CO2 na atmosfera. Uma solução lenta. Muito lenta. A não ser que todos os cidadãos terrestres participassem, plantando a sua árvore. É um pequeno princípio para uma solução. Cada um de nós pode contribuir com algo para resolver um problema global.

 

Temos que resolver o problema do desperdício de água. Há simplesmente pessoas a mais a desperdiçar água neste planeta. Não quero só criticar. Tome duche uma a duas vezes por semana, algo que também pode levar a crises conjugais, mas resolve a minha crise climática pessoal.

Normalmente, a água cai do céu trazida pela chuva. Porém, tem chovido cada vez menos, e menos regularmente por estas latitudes. Há que armazenar a água da chuva e lidar com ela cuidadosamente. Já escrevi detalhadamente sobre as bolotas que coleciono no outono durante as caminhadas e que agora se transformaram em pequenas árvores, cada uma no seu vaso. Coloquei algumas bolotas diretamente na terra, mas, infelizmente, em menos de uma semana, foram descobertas pelos javalis, que as comeram. Tal como as pessoas, a seca extrema está a afetar os muitos javalis que atualmente vivem no campo e que acabam por procurar ansiosamente por alimento e por água. Pelo menos, estes não têm que tomar duche. Que sorte!

Mas também as abelhas e muitos outros insetos anseiam por água, bebendo sofregamente dos pratos dos vasos das pequenas árvores. É uma situação extrema. Somos muitos a partilhar este planeta, não é verdade?

Uwe Heitkamp (60)

jornalista de televisão formado, autor de livros e botânico por hobby, pai de dois filhos adultos, conhece Portugal há 30 anos, fundador da ECO123.
Traduções: Dina Adão,  Rudolfo Martins, Kathleen Becker
Photos:Uwe Heitkamp, dpa

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