Home | Notícias | Maçãs da Nova-Zelândia, abacates de Portugal, bife do Brasil

Maçãs da Nova-Zelândia, abacates de Portugal, bife do Brasil

Environmental Research Letters, 14(2019) 094007. doi:10.1088/1748-9326/ab2d56
Environmental Research Letters, 14(2019) 094007. doi:10.1088/1748-9326/ab2d56

Lisboa/Berlim. As cidades são determinantes para que a alteração climática seja travada ou até mesmo evitada. O transporte de longa distância de produtos alimentares provoca muitas emissões de CO2. A utilização dos recursos locais pode reduzir essas emissões.
Milhões de toneladas de alimentos são transportados todos os anos para as nossas cidades. Esse transporte traz alimentos de todo o mundo, que partem por estrada, via férrea ou por mar e provocam quantidades gigantescas de emissões. Uma equipa de cientistas do Instituto para Estudos Climáticos de Potsdam (Alemanha) fez, pela primeira vez, um estudo sobre as potencialidades da produção alimentar local para alimentar as cidades no presente e no futuro.

Environmental Research Letters, 14(2019) 094007. doi:10.1088/1748-9326/ab2d56

Estes são três exemplos de produtos ligados à terra que são transportados por longas distâncias através do globo para alimentar as pessoas nas cidades. “Atualmente, esses transportes são responsáveis por uma forte pegada ecológica. Torna-se claro que o crescimento demográfico não implica só um crescimento das cidades e suas infraestruturas, mas também um aumento dos recursos necessários e das emissões de gases de estufa”, explica-nos Prajal Pradhan, um dos autores do estudo. “Por isso, questionámo-nos que impacto teria se as cidades obtivessem os seus produtos alimentares de produções locais? Quantas pessoas poderiam ser alimentadas dessa forma, e quanto CO2 se pouparia com a redução das necessidades de transporte – e também se há mais fatores que são importantes e estão ligados a esta questão, como por exemplo a alteração dos estilos de vida ou o crescimento da área urbana.”

O trabalho dos cientistas concluiu que o crescimento das cidades é o principal fator a influenciar as necessidades futuras em relação aos alimentos nas cidades. Seguem-se o estilo de vida e as tendências alimentares, como por exemplo um consumo crescente de carne. O terceiro fator são as alterações climáticas e as suas consequências, como o impacto sobre a produção agrícola.

Os cientistas analisaram mais de 4.000 cidades com mais de 100.000 habitantes. Na área metropolitana de Lisboa vivem 2 milhões de pessoas. Para analisar os hábitos de consumo, as cidades foram agrupadas em áreas metropolitanas ligadas entre si. Outros exemplos para áreas metropolitanas são megacidades como Nova Iorque, Guangzhou, Tóquio e a Cidade do México, áreas com 40 milhões de habitantes. As cidades analisadas somam 2,5 bilhões de pessoas – o que corresponde a cerca de 70 por cento dos habitantes nas cidades do globo.

O estudo fornece uma primeira análise do potencial global da autoprodução das cidades e do fornecimento pela agricultura local, em combinação com outros efeitos relevantes. É demonstrado que uma produção local otimizada pode reduzir em dez vezes as emissões mundiais originadas pelo transporte de alimentos – o valor corresponde à poupança de quatro por cento da totalidade das emissões de CO2 . A produção local de alimentos pode reduzir a dependência do transporte, mas o crescimento imparável das cidades e a alteração dos hábitos de consumo e do clima podem reverter esse efeito. A produção de alimentos in loco pode ser uma adaptação que aumenta a segurança alimentar e fecha ciclos de nutrientes, contribuindo assim para a proteção do clima.

Uwe Heitkamp

traduções: Fernando Medronho & Penny e Tim Coombs

Check Also

Depois das eleições é sempre antes das eleições

Sábado, dia 16 de março de 2024. O soberano pronunciou-se. É assim numa Democracia. O …

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.