É de um teleférico que Monchique precisa?
Na organização de uma cidade/vila, é fundamental definir um conceito estratégico, utópico que seja, para obrigar a um fluxo de entendimento sobre a atividade humana essencial ao burgo. A casa é um primeiro conceito cósmico de espaço organizado e potencialmente positivo na construção dinâmica da vila/cidade, com os seus sonhos e pensamentos onÃricos. A utopia é necessária para uma reforma visionária enquadrável na quimera social da vila.
A cidade/vila é o espelho da organização social e relacional. Ao analisar Monchique – entre outras vilas – no conjunto das suas estruturas, incluindo naturalmente as ruÃnas, o abandono de casas e equipamentos, existentes e não-existentes – denota-se um certo envelhecimento e desagregação formal.
As ruÃnas representam, por isso, um valor onÃrico que é necessário valorizar numa estratégia de desenvolvimento sustentável e compreensÃvel ao cidadão comum, assumindo o mesmo esse valores como tal e não projetando noções de incúria ou vandalismo primário.
Assim, as ruÃnas não podem ser assumidas unicamente como espaços para estacionar veÃculos ou fazer mostras de atividades desenquadradas, numa memória pouco ou nada trabalhada. Ou seja, para que um espaço que retém um determinado tempo comprimido (histórico) ao longo de vivências passadas e presentes, possa ser libertado num conceito de desenvolvimento atual ou futuro, é necessário conjugar e projetar uma dialética objetiva para que o intimismo privado ou social do espaço acompanhe a libertação do pensamento dialogante com a nova função, isto é, ilumine a sÃntese do imemorial com a lembrança.
As ruÃnas devem por isso ter uma estratégia definida a partir de algo e refletir um conceito estratégico que incorpore um simbolismo e uma virtude de desenvolvimento sustentável. Devem revestir-se de um conceito global e estrategicamente definido.
Os recursos são normalmente escassos e, por conseguinte, devem ser repartidos em planos setoriais de modo a progredir faseadamente no espaço/tempo e na consciencialização do cidadão como valor pessoal de sonhos e projeções do eu-individual e colectivo.
Construir o futuro com devaneios que vivenciamos no passado é útil, num espaço temporal de discussão dialogante, pois consolida os sonhos e estabelece um cenário enquadrável com a realidade objetiva. É seguramente importante que a discussão à volta das nossas necessidades seja confrontada com as ruÃnas, para que se projetem num bem comum e social. O bem social e o ambiente envolvente são complexos quando estruturados globalmente e depressa perdem atualidade para o cidadão que vive numa múltipla e acelerada movimentação, sendo necessário recriar um dinamismo próprio de flexibilidade, maturação, mas também de prazer estético, ritmo, estÃmulo e capacidade de expressão.
A imagem da cidade/vila é uma imagem renovada e recriada com os sonhos e utopias que habitam o nosso pensamento mais inconsciente e que projetam os nossos devaneios mais puros e intangÃveis num confronto sistemático com a realidade.
Fotografias de: CARLOS ABAFA