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Nº 53 – Valorização

Sábado, 19 de Setembro de 2020

Vamos pôr os pontos nos “is”. Das muitas notícias que se encontram na ordem do dia esta semana há duas que se destacam. As restrições na área do turismo devido à pandemia estão a ter os primeiros efeitos positivos no clima.

Os representantes da Associação Rodoviária de Transportes Pesados de Passageiros do Porto (ARP) salientam, num comunicado à imprensa, que o seu negócio depende de atividades de grupo, de excursões, visitas turísticas, viagens e transferes para os hotéis e para o aeroporto. Há mais de 2.000 autocarros e 2.500 motoristas que estiveram parados durante os últimos 180 dias, e que, provavelmente, assim permanecerão. Encontram-se em risco os postos de trabalho dos motoristas e a sobrevivência das empresas. Como muitos dos autocarros são adquiridos com recurso a crédito, há que equacionar igualmente a sua devolução. Por isso, vamos lá pedir mais subsídios ao Estado…

Devolução dos autocarros? Cá está algo de benéfico para a nossa Terra mãe. Mas, como a sustentabilidade raramente é critério de prioridade no setor do turismo, esta notícia não foi divulgada e não suscitou soluções. Mais fácil será andar com lamúrias. Como pode o Governo continuar a injetar dinheiro num setor antiquado que amanhã deixará de existir de qualquer forma? Cada autocarro que fique parado nestes tempos de pandemia – por não haver procura ou por constituir um risco para a saúde pública – representa uma diminuição da queima de combustíveis fósseis e menos CO2 na atmosfera.

O modelo atual de turismo em Portugal está muito mal arquitetado. As emissões de CO2 e outros fatores ambientais nunca são tomados em consideração. Não fazem parte do modelo de negócio. E, enquanto os custos para a manutenção de uma natureza intacta, para a diversidade das espécies e conservação dos biótopos não entrarem no balanço empresarial, não irá haver futuro possível para os autocarros e seus motoristas, e nem para aviões, hotéis, restaurantes, carros de aluguer e aquaparques. Profissões como ser piloto ou assistente de bordo eram o sonho de muitos cidadãos e hoje são um pesadelo a descartar. Precisamos de um leque de novas visões, sustentáveis.

É aqui que entra a segunda notícia, enviada por Paulo Guerra dos Santos à ECO123, e que revela que em Portugal existe uma rede de ciclovias de 5.283 km, com 19 percursos de longa distância. E até já existe um guia com todas as rotas. Não iremos nesta short story comparar as viagens de autocarro a possíveis alternativas de bicicleta, mas propomos que se saia da zona de conforto quando se pensa na aplicação dos valores dos apoios estatais, no seu sentido, no seu valor estratégico para o futuro, se quisermos mesmo ir em direção a uma vida livre de emissões no dia-a-dia e nas viagens. Pensamos em percursos que se percorram de bicicleta, em caminhadas e em viagens de comboio, mas também no papel do autocarro nos transportes públicos. Aconselhamos vivamente a pesquisa do website www.ecovias.pt, disponível em Português e Inglês.

E que mais? Talvez a sensacional notícia divulgada pela ARP na qual os autocarros passarão a ser elétricos para que possamos viajarmos de A para B sem provocar emissões.

Uwe Heitkamp (60)

jornalista de televisão formado, autor de livros e botânico por hobby, pai de dois filhos adultos, conhece Portugal há 30 anos, fundador da ECO123.

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