Enquanto jornalistas, interrogamo-nos frequentemente se estaremos a fazer bem aos outros e a nós próprios, quando fazemos incidir sobre eles o foco do interesse público. Isto aplica-se, sobretudo, quando nos referimos a pessoas ainda em desenvolvimento e fazemos apreciações sobre os aspectos “bons” e “menos bons” dos seus projetos.
No Crowdfunding PPL português, chamou-me a atenção um projeto de dois jovens, denominado Orus-Clothing. É dirigido por Francisco Duarte e Pedro Gonçalves, ambos com 21 anos. Os dois vivem e trabalham em Santarém. Fiquei a saber isto em http://ppl.com.pt/pt/prj/vestuario-orus. O Site www.orusclothing.com é feito profissionalmente. No seu filme para o projeto de Crowdfunding chegavam mesmo a saltar para dentro de uma piscina com água – provavelmente cheia de cloro – todos vestidos. Como as imagens estão em movimento, podemos também vê-los a sair da piscina, novamente secos. A técnica torna quase tudo possível, atualmente. O que não quer dizer que a roupa que comercializam, destinada a homens e mulheres, seja igualmente boa. Mas imaginamos que sim, porque é fabricada a partir de algodão produzido organicamente, processado com energias renováveis e em comércio justo.
O seu projeto pretende angariar 2.655 Euros e quando, três dias depois, voltei a investigar, já estavam reunidos dez euros, isto é, um por cento dessa soma. Desejamos, naturalmente, sucesso aos dois jovens, porque ainda lhes faltam 2.645 Euros para atingirem o grande objetivo. O seu sucesso pode depender das estrelas mas também de todos nós. Talvez os patrocinadores ajudem? Há um produtor de café, vários atores de telenovelas e também futebolistas profissionais da primeira Liga. E se todos contribuírem com um par de centenas de euros para ajudarem os seus amigos? Caso isto funcione, o projecto de crowdfunding encerra com êxito a 8 de Julho às 18 horas. Caso não funcione, todos os patrocinadores recebem o seu dinheiro de volta e, depois, os dois jovens podem mesmo ir tomar banho.
Como jornalista, perguntei-lhes, onde produziam as roupas. Queria apurar se, com o seu negócio, eles iam criar postos de trabalho em Portugal ou no Bangladeche. Queria saber onde e como era cultivado o algodão. Queria saber se as cores eram produzidas química ou naturalmente. Coloquei a ambos uma série de perguntas completamente provocatórias, mas bem-intencionadas, a que eles responderam. Contudo, tenho de admitir que não fiquei totalmente satisfeito com as suas respostas. Enviaram-me, por email, certificados de uma empresa holandesa, que pretende ter testado uma empresa Inglesa, que fabrica as T-Shirts. Não fiquei convencido. Podia também tratar-se de uma falsificação. Mas suponhamos, de boa-fé, que é tudo de confiança e está tudo certo e o algodão é „ECO“, ainda assim, com o fabrico em Inglaterra mantém-se o consumo de energia de transporte de Inglaterra para Portugal. Não teremos ainda em Portugal indústria têxtil capaz de fabricar camisas e casacos? Ela não terá também capacidade para produzir ECO? Isso não criaria postos de trabalho?
Rapazes, vocês evitaram sempre estas minhas perguntas. Não me conseguiram convencer realmente com as vossas respostas. Apesar disso, creio que a vossa iniciativa é digna de referência e louvável. Cabe a cada um decidir se vos apoia ou não. Talvez vocês acabem até por concluir que, em Portugal, também se podem produzir roupas muito fixes. Boa sorte!
Autor: Uwe Heitkamp | Fotografias: ©www.orusclothing.com