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Jardins de mercado no Algarve: Um casamento entre Alcachofra e Cogumelo-Ostra

Sábado, dia 23 de março de 2024.

Hortas de mercado – a tendência mundial do movimento agrícola de pequena escala, que emprega técnicas de agricultura biológica e regenerativa, chegou ao Algarve. Cada vez mais explorações agrícolas oferecem os seus produtos nos mercados de agricultores de Lagos a Tavira, algumas entregam mesmo uma cabaz de vegetais semanalmente à sua porta.

Se ainda não conhece o termo “horticultura de mercado”, trata-se, em poucas palavras, de pequenas explorações agrícolas intensivas e herdades que cultivam uma diversidade de produtos hortícolas e frutícolas e vendem os seus produtos diretamente aos consumidores locais através de mercados agrícolas de proximidade, bancas nas próprias explorações agrícolas, ou em mercearias e restaurantes locais.

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Frequentemente, as hortas mercantis recorrem a um modelo de agricultura apoiada pela comunidade (CSA), no qual os consumidores pagam uma prestação, o que permite oferecer cabazes de hortícolas semanalmente como forma de cobrir as suas despesas. Através da otimização do sistema de cultivo, da utilização de soluções tecnológicas simples e de uma conceção inteligente da exploração agrícola, estes agricultores esforçam-se por oferecer soluções mais ecológicas e destacam a melhoria dos solos como regra fundamental para o sucesso da agricultura.

É uma bela manhã de inverno ensolarada nos campos entre a Carrapateira e Aljezur e tenho um encontro marcado com um dos fundadores da Fazenda Compadres. A história desta fazenda tem como pano de fundo o testemunho fascinante de dois autodidactas, idealistas e entusiastas, que se conheceram em Aljezur porque os seus filhos frequentavam a mesma escola. O americano Skeets e o venezuelano Manuel deixaram para trás as suas carreiras, nos Estados Unidos e em Barcelona, para perseguirem o seu sonho de um estilo de vida mais sustentável e saudável. E, unidos pelo seu amor pela música, rapidamente encontraram uma fórmula vencedora: o cultivo de cogumelos especiais e funcionais para uso gastronómico e medicinal.

Um apartamento em Aljezur foi convertido numa verdadeira quinta de testes e, pouco depois, ampliado para algo maior: a Mushroom Compadres. Um armazém convertido no Rogil é agora lar de uma quinta de cogumelos, onde se cultivam cogumelos juba de leão, cogumelos-ostra, Reishi, cogumelos cauda-de-peru e Maitake, com o objetivo de criar tinturas e alimentos que proporcionem às pessoas produtos deliciosos e de alta qualidade e ajudem ao seu bem-estar físico e mental.

Mas esta é apenas metade da história dos Compadres: o entusiasmo de Skeets convenceu o seu amigo para mais uma aventura e começaram, assim, a utilizar a agricultura regenerativa por forma a devolver os alimentos às pessoas. A filosofia da Fazenda Compadres prende-se com a restituição da soberania alimentar à comunidade local. Ao mesmo tempo que se apresenta como modelo para um novo tipo de economia circular: troca de alimentos por terra; a terra da fazenda é arrendada a uma família israelita para cultivo de legumes, e estes são, por sua vez, processados pelo camião de alimentos local.

É também estabelecida uma simbiose perfeita entre a exploração de cogumelos e a horta, uma vez que o substrato que sobra dos cogumelos, já rico em micélios, é utilizado como fertilizante para todos os vegetais da exploração. O substrato é misturado com cortiça e composto de minhocas, produzido pelo próprio agricultor, proporcionando assim a base para uma colheita bem sucedida na quinta.

É claro que os primeiros dois anos tiveram os seus altos e baixos, como é habitual nas hortas comerciais, existem uma série de tentativas e erros, uma vez que todos os locais têm as suas condições específicas, quer seja vento, frio, calor ou humidade. Trata-se de adotar os melhores produtos hortícolas para as condições específicas de Aljezur e uma colheita de batata congelada é apenas parte de um ciclo de experimentação e adaptação da horta. Mas agora, no seu terceiro ano, a pequena equipa da Fazenda Compadres, no inverno composta por quatro pessoas, prepara-se para a nova estação.

Melhorar e ampliar a horta, semear, plantar, construir um galinheiro móvel, cuidar da floresta alimentar, entes de abrirem a fazenda ao público, a fim de vender hortóclas ao público, avulso e em caixa. Esta estação, a quinta comercializará hortícolas e frutos ao longo do ano a chefes de restaurantes locais, como o Cera, em Aljezur, e o Fermento, em Sagres.

Quando a época de cultivo estiver em pleno andamento (provavelmente no final de abril), a Fazenda Compadres abrirá as suas portas, todos os dias da semana, entre as 9h00 e as 16h00, para clientes e visitantes, e o food truck Fala Figo, que se encontra no mesmo terreno, servirá refeições com produtos da quinta. A Fazenda Compadres situa-se na N268, em Monte Ruivo/Aljezur. A loja dos Compadres de Cogumelos está aberta no Rogil, entre segunda e sexta-feira, das 9h00 às 15h00, na Rua Professora Ema Vieira Alvernaz, 30.

Legenda das imagens:
3486: As mudas são iniciadas nas estufas
3488: Os canteiros são preparados para a época de plantação
3494/3495 Gonçalo faz parte da equipa desde o início
3497: A floresta alimentar também serve de quebra-vento, protegendo o jardim da brisa atlântica
3499: As alcachofras aguardam o período de floração, nesta época
3514: Os quebra-ventos fornecem um abrigo essencial para as plantas jovens

Helge Hübner (50 anos) ,

trabalhou como dramaturgo em teatros alemães antes de emigrar para Portugal. É pai de dois filhos e vive na Serra de Monchique. Traduções: Dina Adão, John Elliot, Rudolfo Martins, Kathleen Becker, Patrícia Lara
Photos:Helge Hübner

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