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Anda, vamos plantar uma árvore!

Cada respiração liga-me a ti. Normalmente, o ar é um fundo invisível no meu dia-a-dia. Não lhe dou muita atenção. Mas quando há poluição, fumo, nevoeiro, vento, neve ou chuva forte, lembro-me de que o ar faz parte dos quatro elementos que me formam e de que sou constituído. Socorro, não consigo respirar! Quando estou doente, e se torna difícil respirar, o ar volta a ter a sua importância muito especial. O “ar está pesado” tem um significado diferente em várias línguas. Ele entra no meu corpo, nos meus pulmões e na minha circulação sanguínea, e é levado pelo vento por toda a Terra. O ar forma a atmosfera, e é composto por muitos e variados elementos, dos quais o oxigénio é o que mais necessito. Inspiro uma pequena quantidade de CO₂ e expiro muito mais CO₂ do que inspirei. Não reparo nisso, por ser natural, e parte do quotidiano. Do primeiro ao último respirar, o ar está em mim e eu estou nele. O ar consegue ser ruidoso, soprar, gritar, sussurrar e murmurar, quando as folhas das árvores na floresta me falam de si. É o ar que me transmite a música aos ouvidos, e toda a informação, falada por ti, as tuas palavras e o teu silêncio. O ar tanto transporta o canto do rouxinol, como o grito da águia. Respirar é vida, é corpo e alma. Quando o ar é bom, somos habitados por um bom espírito. O ar não é palpável, mas sem ele não há vida. O ar é simultaneamente o real e o mental. Ele transmite, comunica e conduz a informação numa velocidade que lhe é muito própria. Inspiro e expiro, cuidadosamente e atenciosamente. Com cada respiração, descubro-me, encontro-me e ponho-me em causa, questiono a minha condição humana, os meus sentimentos e a minha felicidade.

Anda, vamos a pé e deixamos o carro aqui. O ar está quase sempre em movimento, ligado aos outros elementos do nosso planeta Terra. Está vivo. E, mesmo quando o ar está parado, flutua e faz-nos suar pelos poros, quando aquece. Para mim, o ar que fica cada vez mais quente, superando a temperatura do meu corpo, é desconfortável, e não o consigo suportar muito tempo, esse ar demasiado quente. O ar numa sauna fica rarefeito e depois de alguns minutos preciso de um arrefecimento abrupto. Quanto maior a altitude, mais rarefeito fica o ar, ao ponto de eu poder vir a perder os sentidos. O ar é, na minha vida, o meu primeiro alimento, e quanto mais frio fica, mais lentamente me movo dentro dele. Os meus pulmões começam a doer, quando respiro ar gelado. Respiro fundo, quando pratico desporto. Volto a poder respirar fundo depois de ter deixado de fumar.

Que prazer poder sentir ar puro nos meus pulmões! É o ar que transmite o perfume de uma rosa, que contrasta com o cheiro pestilento de uma pocilga cheia de esterco e estrume. Com o ar e por ele escapa o espírito santo do medronho, tal como a alma deixa o corpo quando este falece. O ar é o clima. Retiramos ar ao fogo, ele extingue-se. Cada incêndio florestal tira-nos ar puro, devolvendo-nos ar queimado, e o fumo e a tosse levam a doenças. Com cada incêndio florestal subimos a temperatura da nossa atmosfera. Uma ameaça para a vida, e quase como se estivéssemos a ficar sem ar. Como é bom poder respirar fundo e encher os pulmões com ar puro, abrir o peito, encolher a barriga e voltar a expirar. Toda a árvore saudável, e toda a floresta intacta, encontrando-se num equilíbrio natural ancestral, transforma CO₂ em oxigénio, ajudando-nos a viver. Até ao nosso último sopro de vida.

Em Memória. As fotografias retratam o Senhor Joaquim Nunes Sequeira, de 92 anos de idade, na sua floresta histórica de sobreiros, na terça-feira 17 de julho deste ano. Na altura, este agricultor vivia com o seu cão e o seu burro em Corte Grande, perto de Monchique. Vemo-lo aqui, frente a um dos seus sobreiros de 2.000 anos, com um perímetro de 10,35 metros. Joaquim Sequeira bebe água da sua fonte e só come carne uma vez por semana. Na sua pequena horta, cultiva legumes para consumo próprio: tomate, curgetes, pepinos …

Joaquim Sequeira e a sua mulher, Dª Maria Júlia da Silva, têm três filhas, Maria de Lourdes, Idalina e Isabel Maria, e um filho, Zé Manuel.

Na noite de domingo para segunda-feira de 5 de agosto, toda esta floresta, património da humanidade de Monchique, ardeu. Não houve comando da Proteção Civil que considerasse estes sobreiros suficientemente importantes para tentar protegê-los com uma brigada de bombeiros. Estamos de luto por esta floresta de sobreiros, e temos a esperança que chova em breve, e que aconteça um milagre. Por vezes, os sobreiros recuperam de um incêndio, renascendo para a vida. A esperança é a última a morrer.

About the author

Uwe Heitkamp, 53 anos, jornalista e realizador, vive 25 anos em Monchique, Portugal. Adore caminhadas na montanha e natação nas ribeiras e barragens. Escreve e conte histórias sobre os humanos em relação com a ecologia e a economia. Pense que ambas devem ser entendido em conjunto. O seu actual filme “Herdeiros da Revolução” conta durante 60 minutos a história de uma longa caminhada, que atravessa Portugal. Dez protagonistas desenham um relatório da sua vida na serra e no interior do país. O filme mostra profundas impressões entre a beleza da natureza e a vida humana. Qual será o caminho para o futuro de Portugal? (Assine já o ECO123 e receberá o filme na Mediateca)

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