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Transportes publicos

Anotado ao Pormenor.

Um teste de Uwe Heitkamp

À espera do autocarro. Conto os carros que passam; um/um, dois/um, três/um, quatro/um, seis/um, sete/um, oito/um, nove/um, dez/um, onze/um, doze/dois. Ali estava ele, o primeiro carro com duas pessoas lá dentro.

Somos todos parte deste congestionamento diário.
Somos todos parte deste congestionamento diário.

Até à próxima paragem de autocarros ando 1,1 km. No caminho para lá, a vizinha pergunta-me por que vou a pé? O carro está avariado? Não, não, respondo-lhe eu, costumo deixar o meu carro durante um mês na garagem. Ela olha para mim desconfiada, enquanto rega as plantas em frente à sua casa com uma mangueira.
A família da minha vizinha tem um fraco por carros. O marido dela tem uma oficina de automóveis na aldeia que fica a oito quilómetros daqui. Os meus vizinhos são uma família de três membros com cinco automóveis.
Como estrangeiro tenho um desconto em tolerância por este tipo de ideias. Essas pessoas também podem andar a pé ao calor do Verão. Se lhes dá para isso…

Para além de uma garrafa de água levo um diário na minha mochila. É aí que escrevo, esboço todos os acontecimentos em palavras e frases para reter o que se passou à minha volta ao longo do Verão, pois o ser humano é esquecido. O caderno também deve responder a algumas perguntas existenciais. O que é que uma pessoa pode mudar no seu comportamento para ser neutra em relação ao meio ambiente?
Poderei contribuir para que se gastem menos matérias-primas, ou para que se emita menos dióxido de carbono, e se faça menos lixo?
Vou dar um primeiro passo em direcção ao “abdicar”.
Durante o Verão, as ruas, no Algarve, estão tão apinhadas que quase levam todas as pessoas à loucura. Cada um de nós faz parte deste congestionamento diário. Então, porque não deixar, de vez em quando, ficar o carro estacionado na garagem de casa por um mês e andar de autocarro?

Sexta-feira, 18 de Julho.
Paragem Caldas de MonchiqueNa paragem de autocarros. Mais de uma vez, olho para o papel que imprimi com o horário da companhia de autocarros Frota Azul.

Certifico-me de que realmente um autocarro vai parar aqui a uma determinada hora, já que na própria paragem de autocarros não há nenhum tipo de informações para os clientes. Durante um mês, quero colocar-me o desafio de só andar de autocarro e de comboio, de bicicleta ou a pé. Recebo um patrocínio da companhia de autocarros EVA para um bilhete de 7 dias pelo preço de 36,50 euros, que permite viajar por todos os trajectos desta companhia regional.

Finalmente vem o autocarro a fazer a curva e pára num local do outro lado da rua, onde não está sinalizada nenhuma paragem de autocarros. Atrás do autocarro começa a criar-se um engarrafamento. No próprio autocarro, que tem mais de 48 lugares sentados e 18 lugares em pé disponíveis, 15 passageiros já estão sentados, outros nove juntam-se a eles no caminho. Informei-me acerca dos valores das emissões de CO2 de cada autocarro e tiro o meu calculador climático da mochila: o autocarro da companhia emite 280 gramas de CO2 por cada quilómetro percorrido. 24 passageiros viajam 20 km no percurso de Caldas de Monchique até Portimão. Resultado: só 233 gramas de emissões de CO2 por passageiro. Se eu tivesse viajando com o meu próprio carro (1200 cc, 65 cv, 160 gramas de CO2 por Km), emitiria, pelo mesmo percurso, 3,2 quilos de CO2. No caminho de regresso só viajam 13 passageiros no autocarro: 430 gramas de emissões de CO2 por passageiro.
O que poderia tornar a viajar de autocarro em Portugal mais atractivo? O que poderia motivar as pessoas a deixar os seus carros estacionados, ou melhor, a abdicar deles e a passar a usar o autocarro ou o comboio?

 

Domingo, 20 de Julho.
Hoje planeio uma viagem mais longa. Às 10 horas, viajo para Portimão com o autocarro de domingo, mudo de autocarro e continuo a viagem para Faro. Para uma distância de menos de 100 km viajo durante três horas e 15 minutos. Nada que se compare a um tempo recorde!

Para uma distância de menos de 100 km, viajo durante três horas e 15 minutos. Talvez seja um recorde!

No autocarro estão oito pessoas sentadas, cinco em idade de reforma e um jovem casal da Escandinávia. Outras duas senhoras mais velhas entram depois de mim. Viajamos os 20 km até Portimão num autocarro da marca Mercedes bastante velho. Sobre cada um de nós cai a emissão de 560 gramas de CO2 pelos 20 quilómetros percorridos. Com o meu carro emitiria seis vezes mais gases nocivos para o ambiente mas seria duas vezes mais rápido. Em última análise, por que é que a rapidez nos é tão importante? O que é que a rapidez nos dá realmente?

Maria José Batista
Maria José Batista

Todos os domingos, pelas 11 horas o “Interurbano“ sai de Portimão com destino a Faro. Eu também tenho a possibilidade de ir para Faro de comboio, no entanto, à ida, prefiro ir de autocarro. A motorista do autocarro, Maria José Batista, é uma das pouquíssimas mulheres num mundo dominado por homens. Ela tem de provar todos os seus conhecimentos quando conduz pelas aldeias da Mexilhoeira da Carregação, Estômbar, Lagoa, Porches, Armação da Pêra e Alcantarilha, e curva na pequena rua estreita da aldeia de Pêra – numa rua onde nem sequer dois carros ao lado um do outro se conseguem esgueirar. E agora ela atormenta o seu velho autocarro da companhia Setra por entre as ruelas estreitas e apita para outros autocarros que vêm em sentido contrário. Com largos movimentos de braços espanta condutores para ruas laterais ou pede-lhes que façam marcha atrás, até que ela própria consiga manobrar os 12 metros de percurso. Passamos pelo porto de Albufeira, as ruas estreitas a subir e chegamos à central de autocarros. Vista para o mar. Pausa para fazer chichi.

As filas no autocarro começam a ficar vazias. Agora só somos doze passageiros num autocarro de 48 lugares sentados até Loulé. A partir de Loulé somos apenas nove passageiros com bilhetes comprados. Quando na paragem terminal pergunto quantos quilómetros é que o autocarro percorreu exactamente de Portimão a Faro, Maria José Batista responde que foram 89km. Portanto, tiro o calculador climático e faço a conta, 89 km de percurso x 280 gramas de CO2 por quilómetro: em média 12 passageiros, dá 2,077kg por passageiro…

Para o caminho de volta escolho apanhar o comboio das 16:17 horas de Faro para Portimão. È menos lento. Segundo o simulador da companhia de comboios CP com 60km de viagem sou responsável pela emissão de 1,02 kg de CO2. O bilhete custa seis euros. Espero novamente pelo comboio de ligação de Portimão para Monchique, desta vez, por uma hora inteira. Às 18:30 horas a viagem continua, finalmente. 20 km de percurso x 280 gramas de CO2 por km percorrido: em média 16 passageiros = 350 g de CO2 por passageiro.

Total de emissão de CO2 do dia: 4,007 kg. Com o carro teria emitido 26,88 kg de CO2 e teria gasto mais de 21 euros em combustível. Será que alguém pensa na sua produção pessoal de CO2 quando entra no carro?

Tempo é dinheiro.
Quem anda de autocarro, de bicicleta ou com amigos de carro, anda muito a pé e deixa frequentemente o carro parado ou partilha o próprio carro com amigos e vizinhos, emite extremamente menos CO2 e deixa muito poucas marcas ecológicas. Mas quem anda, na sua região, sozinho no carro e vai de carro às compras, passear, vai ver lojas e leva-o para o trabalho e anda de um lado para o outro com ele, não vive apenas mal ecologicamente, vive de modo não-ecológico. Andar de carro é caro, em todos os aspectos. Tirei um tempo para contabilizar este facto junto de motoristas de autocarros. (ver quadro) É verdade que andar de carro facilita tudo e reduz o tempo gasto.

Se viajo de autocarro ou de comboio, sou realmente mais lento, descontraio, vivo de forma menos tensa e ganho até mesmo tempo, por exemplo, para pensar. Andar cada vez mais a pé ou de bicicleta é puramente uma questão de hábito. Superar conta e onde há vontade há caminho. O dia em que a era do andar de carro particular será uma questão de sentido em termos de mobilidade, está cada vez mais próximo.

Terca-feira, 5 de Agosto.
O dia de trabalho de um jornalista. Saio de casa a pé às 7:30 h em direcção à paragem de autocarros. Às 8:15 h o autocarro que vem de Monchique pára nas Caldas e leva-me até Portimão. 18 passageiros. Não renovei o meu bilhete de livre-trânsito. Quero saber quanto custa um bilhete. São 4,20 euros. Chegada a Portimão 8:45 h. Compro um bilhete na estacão de comboios para o Livramento que fica a 80 km de distância. Preço 7,75 euros.

Janela numa carruagem da CP
A janela através da qual olho para fora é tão antiga que tudo parece leitoso e turvo

Às 9:19h vou de viagem numa carruagem da CP dos anos 1970 em direcção a Faro e Tavira. A janela através da qual olho para fora é tão antiga que tudo parece leitoso e turvo. Arranhado ou simplesmente sujo? Os vagões são velhos e a suspensão de molas parece estar avariada. Em cada curva o vagão parece que vai rachar. Será que existe uma inspecção-geral para comboios? Chegada ao Livramento às 11:09h.

Visito uma empresa agrícola que cultiva fruta tropical em muitos hectares de terra. Estou a fazer uma pesquisa para uma reportagem curta e uma entrevista. 14:16h. Viagem de regresso em direcção a Portimão para ocidente. Os passageiros compram o bilhete para Portimão junto ao condutor no comboio. Os caminhos-de-ferro tiraram todos os guichés e funcionários das pequenas estacões de comboios. Paragem em Faro, uma hora e vinte minutos. 16:17h a viagem continua para Portimão, chegada às 17:30h. Uma hora de espera até à chegada do próximo autocarro para Monchique. Pago novamente 4,20 euros e viajo com outros 14 passageiros montanha a cima. Carrego no botão para parar antes da paragem mas o condutor está profundamente entretido a conversar com uma passageira. Tenho de chamá-lo em voz alta. Travagem a fundo. Falta de atenção é realmente o maior problema entre condutores de autocarros. Também há sempre passageiros que são deixados numa paragem à espera, esquecidos. Admira-me que ainda tanta gente viaje de autocarro. Às 19:30h estou novamente em casa. Estive a viajar durante 12h.

Resumo
Quatro semanas, de 15 de Julho a 11 de Agosto desloquei-me de autocarro e comboio pelo país, mas também mais frequentemente de bicicleta. Em última análise, também descobri algo em mim: fiquei simplesmente mais em casa, ao passo que com o carro teria saído para fazer mais qualquer coisa rápida. Eu só me movia quando era realmente necessário. Mas os transportes públicos do Algarve ainda podiam exercer muitos mais efeitos positivos.

Frota Azul
Paragem sem horários

Uma companhia de autocarros que não tenha informações para os clientes sobre horários, não se pode admirar por não ter novos clientes. Os autocarros viajam cerca de 80% vazios pelos percursos. É a base de qualquer conceito comercial dar o maior número de informações possível ao cliente. Isso começa com os horários em todas as paragens de autocarros e termina com um preço justo, transparente e compreensível e uma política de descontos para todos os viajantes.

Durante o teste, nenhum motorista me informou, nem a mim nem a outros passageiros, que poderia ter um desconto de 33 por cento na linha da Frota-Azul, caso comprasse, no mínimo, 5 viagens com antecedência. E quantos novos clientes se deixariam conquistar, só por um passe mensal que fosse válido em todas as linhas dos Algarve?
Para mim foi, simplesmente, demasiado caro carregar todas as sextas-feiras um bilhete grátis de fim-de-semana em Portimão. O custo não justifica os meios.

Um pai de família contou-me que, durante um ano, a sua família pagou sempre os 4,30, na totalidade, entre Monchique e Portimão, antes de ele próprio ter tomado a iniciativa de se informar sobre descontos. Informou-se também sobre o desconto em bilhetes para crianças de idades entre os quarto e os nove anos, pelos quais, até então, sempre pagou o preço inteiro. Um bilhete para uma viagem de autocarro de 25 km de Monchique a Portimão custa 4,30 euros. Uma viagem de autocarro 18km de Caldas de Monchique até Portimão custa 20 cêntimos menos, portanto, 4,10 euros. Por outro lado, uma viagem curta de 7 km de Caldas a Monchique ainda custa 2,25 euros. Alguma coisa salta à vista?

Perguntei ao motorista de domingo, que viajava com 8 passageiros num autocarro com capacidade para 48, porque não levava um autocarro mais pequeno da garagem? Encolhe os ombros. Consumo de 32 litros de Diesel numa distância de 100km. Uma maior flexibilidade interna seria, certamente, apropriada neste caso, tanto por motivos económicos como ecológicos.

Vamos partir do seguinte princípio: a companhia de autocarros EVA – Frota Azul investiria activamente os seus autocarros e descontos, por exemplo, nas próprias paragens de autocarro. Eles têm centenas delas. Não teria assim mais clientes, uma melhor utilização dos equipamentos, mais ganhos anuais e mais meios próprios para fazer investimentos? Por exemplo, para comprar uma dúzia de autocarros eléctricos novos?

Para o gerente da Eva – Frota Azul não pode ser indiferente, reter informações e ficar satisfeito com os clientes que não têm outra escolha senão o autocarro: reformados, alunos, pessoas que viajam em regime pendular e indivíduos socialmente fragilizados, que não conseguem comprar um carro, ou clientes ecologicamente conscientes, que não querem comprar um carro!

Certamente que juntos estes grupos são uma minoria. 20 por cento é uma piada.

Por exemplo, para se preencher metade dos assentos, os transportes públicos teriam experimentar novas estratégias na própria companhia e para procurar, precisamente, lá novos jovens grupos-alvo (clientes) e, de certeza, que também os encontraria lá. No entanto, isto só funciona com pessoal atento, criativo que pense activamente em conjunto e que seja altamente motivado. Será que existe esse tipo de pessoas entre nós?
Autocarros e comboios também podem garantidamente ser um pouco mais rápidos.

Viajar com duas linhas de comboios e electrificada no Algarve já seria bom para chegar ao nível do resto da Europa. A orientação é para subir e não para descer de nível, ou será que não é assim? Autocarros, táxis e carros eléctricos deveriam, basicamente ter uma faixa própria nas estradas nacionais, para que pudessem escapar ao congestionamento catastrófico do Verão. A frota da EVA – Frota Azul também precisaria de uma modernização e de menos tipos diferentes de produtores. Isto criaria sinergias.

BicicletaJá que estamos a falar de mobilidade, não podemos esquecer nem os ciclistas nem os peões. Também eles precisam de um espaço no conceito de mobilidade. Precisamos de ciclovias e caminhos para peões que dêem acesso para entrar nas cidades e sair delas! Precisamos de locais mais seguros para deixar as bicicletas. De momento dá-se prioridade absoluta aos carros. Mas dentro de 90 por cento dos casos, só está sentada uma pessoa no carro, o condutor. Que desperdício de recursos! Se quisermos tornar a nossa economia mais eficiente, temos de distribuir melhor os recursos e partilhá-los uns com os outros e desconstruir o nosso egoísmo diário.

O nosso país não se pode dar ao luxo de penalizar os autocarros e os comboios no conceito de mobilidade; pelo contrário, todos no país deveriam ter a vontade e um interesse acrescido, mais tempo, mais trabalho, mais energia, mais paciência e ainda muito mais dinheiro para investir no sistema de transportes públicos.

Onde há vontade também há um caminho. Em algumas cidades do norte da Europa muitos autocarros já vão buscar os seus clientes a casa e também os voltam a levar para casa. Pequenos autocarros, claro. Não deveríamos deixar, então, que as nossas palavras fossem seguidas por acções concretas?

Recapitulação.

congestionamento

Quem nasceu em 1960 ou mais tarde, passou toda a sua vida adulta com os seus carros; muitas vezes mais tempo com e no carro, do que com o parceiro ou com os filhos.

A maior parte dos adultos hoje também viu como árvores foram derrubadas para se construírem estradas; como campos se transformaram em auto-estradas e como os seus queridos foram levados para o hospital como vítimas de acidentes.

Nada disto prejudicou a dependência em relação aos carros nem mudou os comportamentos de mobilidade. O que justifica o facto de termos um carro como o sonho de liberdade a seguir? Eficiência? O facto de pouparmos tempo? Será que conduzir um carro fica mais barato?

Quem se questiona sobre a aquisição de um automóvel, na maioria dos casos, não tem consciência dos verdadeiros custos do seu carro. Muitas pessoas associam os custos operacionais para o combustível, óleo do motor e dos cuidados com o carro com o custo total de um veículo. Mas isto está errado. Ainda tem de se acrescentar a esses custos a perda de valor com os quilómetros percorridos (depreciação), eventualmente os custos e juros de um crédito, os custos da oficina de reparação para a inspecção, arranjos e novos pneus e preços fixos como impostos, o seguro, estacionamento, e talvez a renda da garagem. Com uma quilometragem de 10.000 km por ano, por exemplo, de um Renault Clio 1.5 dCi energia 90 cv, valor de reposição 18.900 euros, exactamente 5.352 euros mensalmente ao todo (mensalmente 446 euros), para 20.000 km viajados já são 6.682 euros ou 557 euros mensalmente. E ainda se podem contar com portagens para auto-estradas, custos para a saúde e o meio ambiente. O facto é que na compra de um carro novo, nos primeiros quatro anos para a manutenção, gasta-se mais ou menos o mesmo que o valor do carro em primeira mão. *

custos do carro

Auto-estrada – Portagens 0.08 euros por km

Quem não se ocupa somente dos custos económicos do carro, mas quer fazer a contagem real dos verdadeiros custos dos quilómetros percorridos, tem também de colocar um preço nos efeitos externos como a poluição do meio ambiente, o barulho, etc. Portanto, hoje em dia a maior parte dos desastres e custos ambientais (barulho, poluição do ar), mas também investimentos em infra-estruturas (construções e manutenção de equipamentos de transporte) são pagos pela população. Estes poluentes, que não são custos que se possam pagar, são chamados custos externos. Estes custos públicos não estão incluídos no preço para os serviços de mobilidade, que o condutor individual tem de pagar, portanto, não são considerados na decisão de obtenção de um transporte individual. Segundo cálculos actuais, a Sociedade Anónima BRISA cobra portagens em auto-estradas locais de oito euros por 100 km. Sobre um quilómetro de auto-estrada, contabilizam-se assim, custos adicionais no valor de oito cêntimos.

Taxas para emissões de CO2 18,40 euros por 10.000 km

No entanto, os custos para as emissões de dióxido de carbono ainda não estão incluídos numa portagem do género. No ano de 2013 os direitos de emissão de CO2 para uma tonelada (1.000 kg) custavam 14,26 euros no mercado de licenças de emissão (EU Emission Allowances), quase a preço de bananas considerando os prejuízos que o CO2 causa à atmosfera. Um Renault Clio na nossa versão emite, segundo documentos oficiais do registo de veículos 129/CO2 por km. Em 10.000 km percorridos resultam assim, 18,40 euros adicionais.

Financiamento de crédito e juros 0,127 (0,125) euros por km

Sabendo que os bancos em Portugal exigem os juros mais elevados e concedem os juros mais baixos sobre o capital da zona euro, a ECO123 procurou um banco num outro país do euro. Cada cidadão português tem o direito sem restrições de abrir uma conta própria nos 18 países do euro, depositar o seu dinheiro nesses países e também de pedir créditos.

Se quiséssemos comprar o carro totalmente com financiamento externo e quiséssemos 20.000 euros em crédito e liquidá-lo em 48 meses, teríamos de pagar cerca de 6% de juros. (em Portugal, em média 11,9%) Com uma taxa mensal no valor de 470 euros (em Portugal 573 euros), os custos de financiamento ficariam no total em 2.546 euros (em Portugal 7.504). Por uma quilometragem anual de 20.000 quilómetros os custos para se manter um carro sobem, portanto, para 0,127 euros por quilómetro. Por uma quilometragem de 10.000 quilómetros, os custos sobem consequentemente para cerca de 0,25 euros por quilómetro.

Pelo facto de nós não termos forçosamente de comprar um carro com os 20.000 euros, e poderíamos aplicá-lo no mercado de capitais, teríamos ainda de contar com juros imputados. Tratam-se lucros de juros, que seriam conseguidos, caso o capital em vez de ir para a compra de um automóvel, tivesse sido aplicado no mercado de capital. Com uma taxa de juros de 4%, em dez anos estes juros dariam o retorno de 8.000 euros ou 67 euros por mês: lucros com os quais se poderia pagar confortavelmente metade de um bilhete de autocarro…

Por uma viagem de 100 quilómetros com o carro recai inclusivamente uma taxa de custos de crédito de 66 euros para um desempenho de 20.000 quilómetros por ano ou por uma quilometragem 10.000 quilómetros por ano até mesmo uma taxa de 87 euros.

Combinado com os custos do financiamento resultam custos no valor de 0,04 euros (10.000 euros por 36 meses) +juros sobre o capital próprio sobre os outros 10.000 euros por quilómetro percorrido no valor de 0,0188 euros e no valor de 0,0588 euros. Para um percurso de 100 km com o carro os custos são de 73 euros (quilometragem 10.000 km por ano) ou 53 euros (quilometragem 20.000 km por ano).

Um exemplo, dois números, três comparações

Uma viagem de Faro a Lisboa Gare-Oriente, segundo o Google-Maps, são exactamente 274km a percorrer

  1. Com o Renault Clio o percurso custaria 180,84 euros por uma quilometragem de 20.000 km por ano ou 238,38 euros por uma quilometragem de 10.000 km por ano. O valor das emissões é de 35,35 kg CO2 em 274 km.
  2. Num voo com um Airbus A 320 de Faro para Lisboa na classe económica e um percurso de 274 km a 6.800 m de altitude, um passageiro emite 60 kg de CO2. Preço do bilhete do avião pela TAP: 139,90 euros.
  3. Uma viagem de comboio com um Alfa Pendular (2.Classe) só custa 22,20 euros com 6,47 kg de emissões de CO2 – no Intercidades 21,20 euros com emissões de 5,65 kg CO2.

Mais perguntas?

instituicões

(1) Informações ACP, ADAC, RAC, sem custos de Banco, Crédito e juros, sem portagens, sem emissões de CO 2 , Preço de Diesel: 1,40€ /ltr.

About the author

Uwe Heitkamp, 53 anos, jornalista e realizador, vive 25 anos em Monchique, Portugal. Adore caminhadas na montanha e natação nas ribeiras e barragens. Escreve e conte histórias sobre os humanos em relação com a ecologia e a economia. Pense que ambas devem ser entendido em conjunto. O seu actual filme “Herdeiros da Revolução” conta durante 60 minutos a história de uma longa caminhada, que atravessa Portugal. Dez protagonistas desenham um relatório da sua vida na serra e no interior do país. O filme mostra profundas impressões entre a beleza da natureza e a vida humana. Qual será o caminho para o futuro de Portugal? (Assine já o ECO123 e receberá o filme na Mediateca)

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