ZERO EMISSÕES
EDITORIAL Nr.33
Fizemos a promessa de alcançar a neutralidade climática de 2025 em diante. Para o conseguirmos, é fundamental elaborar um plano, e nós fizemo-lo em 2019. Nesta edição iremos descrever-lhe os meios para o conseguir. Há já 12 anos que produzimos a nossa própria energia limpa. Em 2010 e 2011 efetuamos um investimento em 20 módulos solares, que instalamos em dois seguidores solares. Esta tecnologia permite a produção de mais cerca de 25 por cento da energia, porque os módulos movem-se lentamente seguindo a posição do Sol. Desde então, produzimos mais eletricidade limpa do que a que consumimos, cerca de duas vezes e meia a mais. O sistema está, entretanto, amortizado e já compensou as emissões em CO2 decorrentes da sua produção. E ainda funciona perfeitamente, tendo superado tempestades e o incêndio florestal de 2018. Quando há trovoadas, desligamos os disjuntores e só os voltamos a ligar depois, quando o Sol brilha novamente, para produzir a nossa própria eletricidade limpa. Em Portugal, o Sol brilha 300 dias por ano. A ideia era tornarmo-nos mais independentes dos produtores industriais de energia. Agora, somos independentes. E, desde 2016, essa energia (grátis!) também nos permite carregar a nossa viatura elétrica, sempre que a deslocação é inadiável.
E evitar usar o carro é inevitável quando se publica uma edição impressa. Precisamos de papel reciclado e tinta, das máquinas da tipografia e de eletricidade limpa. Temos que fazer chegar a revista às leitoras e aos leitores, as assinaturas seguem por correio e as restantes são enviadas através de outros canais de distribuição, como as bancas. Analisámos tudo criteriosamente, calculando rigorosamente os quilogramas de CO2. O que for rigorosamente medido, também pode ser reduzido. Basta, para isso, tomar a iniciativa de analisar quanto CO2 é provocado na lida da casa, escritório, trabalho e mobilidade, entre outros. Temos um livro onde registamos com rigor as viagens e os quilómetros efetuados com o nosso carro elétrico. E essa viatura também já se amortizou, porque após seis anos e 95.000 km, a pegada ambiental resultante da sua produção já foi compensada. É também devido às emissões que já não produzimos quatro edições impressas por ano. Após três anos de transição, chegámos a uma nova realidade: A ECO123 teve duas edições impressas o ano passado, e, enquanto houver papel – e a partir deste ano -, teremos apenas uma edição impressa, sempre no final do ano: The Best of ECO123.
Simultaneamente, temos vindo a publicar quinzenalmente novos artigos online desde 2020 e consideramos passar a fazê-lo semanalmente, o mais tardar, a partir de 2025. Ainda assim, acabam sempre por existir emissões, mas é sempre possível continuar a reduzi-las. Por exemplo, optando por excluir a carne da alimentação e preferindo produtos agrícolas produzidos localmente. Não nos alimentamos de produtos congelados e quase não compramos produtos que foram transportados por milhares de quilómetros. Quem tem um pequeno terreno e planta legumes e batatas, entre outros produtos, ainda consegue ver as suas emissões mais reduzidas. É por isso que vivemos e trabalhamos no interior, em Monchique, e não em Lisboa. E, com cada árvore que plantamos no nosso Jardim Botânico Florestal, nas Caldas de Monchique, compensamos as restantes emissões. Em colaboração com os nossos leitores e anunciantes, estamos a plantar um Jardim Botânico Florestal, porque cada nova árvore plantada oferece-nos oxigénio para respirar e transforma o nosso CO2. Se assinar a ECO123 poderá reduzir a sua pegada ambiental. Colabore, plantando a sua própria árvore connosco ou apadrinhando uma árvore que plantaremos por si. Todos os anos receberá os frutos da sua árvore, como recompensa do seu investimento verde, em forma de azeite, cestinho de amêndoas, laranjas ou nozes. Juntos, reduzimos, passo a passo, as nossas emissões. As florestas diversas e saudáveis absorvem a água e são o melhor ar condicionado para o ser humano, flora e fauna. Por isso, pergunto-me sempre: Que valor tem, para mim, a Natureza?
Nada a esconder
Que valor damos realmente à biodiversidade?
A caminho pelos trilhos rurais.
EDITORIAL Nr.32
Alguns jornalistas só deveriam receber o cartão de imprensa oficial a título provisório. Para o justificar serve este versículo da Bíblia: “Porque eles não sabem o que fazem”. Alguns jornalistas merecem tão pouco exercer esta honrada profissão como um médico que aceita prendas dos delegados de informação médica. Não basta ter a carteira profissional e trabalhar num grande semanário português para se ter o direito de inventar histórias para os assinantes lerem. Vou cancelar a minha assinatura desse jornal, justificando o gesto com a precária escolha das fontes desse jornalista. Um bom jornalista deve informar-se em várias fontes para não acabar por fazer um número de circo na tentativa de enganar os seus leitores, bem mais informados do que ele próprio.
Se nas florestas de eucalipto da empresa Navigator, uma das maiores empresas mundiais no ramo do eucalipto e do papel e um dos maiores proprietários de terras de Portugal, ainda encontramos cerca de 240 espécies animais e 800 espécies de plantas, essa espécie de árvore invasiva não pode ser responsável de forma alguma pelos muitos fogos florestais em Portugal. O que nos pretende transmitir o jornalista Henrique Raposo (42 anos), do Expresso, com estas palavras no seu desastroso comentário? O comentário é um formato que permite algumas liberdades, o que, pelos vistos, pode levar a uma perda completa da orientação.
Depois de ler o referido texto pergunto-me qual a relação existente entre os muitos incêndios em Portugal (e no mundo) e uma quase-inexistente biodiversidade.
Que fontes credíveis é que o jornalista consultou para esta afirmação tão pouco credível? Não indica onde se informou. Com que transparência deve um jornalista indicar as suas fontes, fontes essas que estão ao acesso de todos? Não é necessário ser-se um grande investigador para escrever um comentário. Mas, para o fazer, um jornalista pelo menos deveria sair do seu escritório climatizado para ir ver a floresta. Ou será possível investigar tudo na internet, sentado à secretária? Quantas fontes credíveis são necessárias para que um jornalista possa escrever um bom comentário? Nenhumas? Será que o Expresso já não tem um chefe de redação que lê os comentários antes destes serem impressos, para verificar o que o seu colega anda a escrever, e perguntar como chegou às suas conclusões? O texto baseia-se em trabalhos científicos ou será que essa história foi escrita por uma agência de relações públicas? Claro que a perda de biodiversidade se prende com as espécies em extinção.
Que disparates tenho que ler em https://expresso.pt/opiniao/2021-09-06-E-se-a-industria-do-papel–e-do-eucalipto–for-fundamental-para-a-biodiversidade–e2791e15, sob o título: “E se a indústria do papel (e do eucalipto) for fundamental para a biodiversidade?”, escolhido por esse jornalista. Pergunto-me se este género de comentários também são os contos de fadas que conta às suas duas filhas à noite, antes de dormir? Será que confessa que nunca entrou no mundo da floresta e não se vê como parte da natureza, ficando sempre no seu escritório climatizado em Lisboa, que não abandona, nem para pesquisar quando pretende escrever sobre a floresta? Prefere “subjugar a terra”, como diz a Bíblia, em vez de passear nela. Em que mundo e em que florestas vive o senhor Henrique Raposo? É isso que me pergunto quando leio o Expresso. Até que ponto estão a fazer pouco dos seus leitores quando lançam a pergunta se as monoculturas da indústria do papel são fundamentais para garantir a biodiversidade?
Mudança de cenário. Como jornalistas, recebemos notícias de “influencers” todos os dias. São emails de anúncios da Life, uma agência que trabalha para a Navigator, de outra, que trabalha para a Altri, e de outra ainda, que trabalha para a Tetra Pack, a Bayer e a Phillips. E por aí adiante. Como jornalistas, devemos tornar-nos imunes ou, pelo menos, ganhar alguma imunidade a esse género de “influencers”.
Não há vacina, nem primeira ou segunda dose ou “boost”. É algo que se aprende no primeiro ano de estágio. É muito rápido. Quem aceitar por uma vez uma “prenda” dessas, está perdido para sempre. Porque há sempre uma contrapartida. Os conteúdos dos “influencers” têm-se espalhado pelos jornais como uma pandemia nos últimos anos. “Compram” o trabalho dos jornalistas com métodos mansos. Um almoço aqui, um jantar ali, uma estadia com uma prenda na mesa de cabeceira num dos seus hotéis. São os favores e a pequena corrupção que também existem no jornalismo. No caso dos médicos, são prendas da indústria farmacêutica. No caso dos jornalistas, é uma pequena “atenção” em troca de um favor em forma de texto. Também depende para quem se escreve. Quem está numa revista conhecida tem uma opinião bem cotada: e tem mais “likes” nos social media. A questão é: qual a forma mais subtil de conseguir manipular os leitores?
Contudo, ninguém que more na província, e muito menos os que sabem o que é uma floresta, acredita nesses disparates “cozinhados” pelas agências de relações públicas de Londres, Lisboa ou Porto. Quem planta eucaliptos tem um único objetivo: ganhar dinheiro. Sejam sinceros e não tentem inventar justificações com base em valores éticos e morais como a biodiversidade e a sustentabilidade, como essas que as agências estão a tentar “vender” aos jornalistas desde o ano passado para nos adocicar a amargura de uma indústria papeleira fria e calculista. Para eles, a floresta é dinheiro e nada mais.
Mas isso, hoje em dia, não chega para uma missão suficientemente sexy. Falta-lhe o romantismo. Para quem se diz amigo da natureza, quer seja ambientalista ou turista, a floresta também tem um alto valor natural e estético. E a floresta intacta também beneficia o turismo de natureza.
Portanto, toca a inventar. Tudo o que dá dinheiro, interessa. Mesmo que a floresta tenha um valor meramente decorativo e os jornalistas a promovam de forma positiva, o mundo que está por detrás pode ser apresentado e “lavado” como sustentável.
Há uma geração atrás que tal foi descoberto pela Disneyworld, quando colocou com cada vez mais rapidez animais de plástico e de peluches atrás de árvores e arbustos de plástico.
Nós, da ECO123, ainda saímos do escritório e escrevemos sobre a vida real na floresta. Não somos corrompíveis, mas somos curiosos. Para esta edição, andámos 120 km a pé, em vez de voarmos até Glasgow. Descobrimos o estado em que está a floresta no Sul de Portugal depois do verão de 2021. Partimos de Monchique, a Oeste, e atravessámos o Sul de Portugal a pé até Barranco do Velho, na Serra do Caldeirão. E surgiu-nos uma ideia, que iremos apresentar nesta edição. Foi com muita alegria que caminhámos por esta antiga rota de peregrinação vicentina, pelo trilho que os “Caminhantes das quartas-feiras” * redescobriram nos anos 90 e que desde 2008 é gerido pela Associação Almargem, sob a designação de Via Algarviana. Não há nada melhor para um jornalista do que sair do seu escritório bem preparado para ir ver, pessoalmente, quanta fauna e flora realmente ainda existe na floresta. Acompanhe-nos nesta viagem.
* Os “Caminhantes das quartas-feiras” eram caminhantes ingleses, holandeses, portugueses e alemães, maioritariamente a residir no Algarve, que fizeram da quarta-feira o seu dia de caminhadas pela natureza. Para compensar, trabalhavam mais aos domingos, algo que não é invulgar em Portugal.
Que dívidas iremos pagar?
EDITORIAL Nr.31
A vida pode mudar completamente de um momento para o outro. Um amigo meu, e também colega, pretendia cortar um ramo da alfarrobeira que ultimamente lhe partia as telhas em dias de tempestade. Era para ser uma coisa rápida, para fazer depois de almoço. Encostou a escada à casa e, quando estava a três metros de altura, esta escorregou. O meu amigo não sobreviveu à queda. Será isto a vida?
Não. Pretenderemos mesmo continuar a viver como se nada tivesse acontecido, voltar ao business as usual? 2021 ficará marcado na história como um ano de mudanças, mesmo que estas – pequenas e grandes mudanças – possam passar despercebidas a uma primeira impressão. Na economia chamamos a isso The Point of No Return.
Em relação ao clima, tendo em conta os muitos fatores que influenciam a atmosfera, usamos a mesma expressão. Tudo depende do que queremos realmente. Uma crise ocorre após outra e, se olharmos com atenção para este mundo e para as pessoas – temos tido tempo suficiente para o fazer – reparamos que não há soluções para todas estas crises. As medidas com as quais pretendemos voltar a enfrentar a vida, como, por exemplo, injetando capital contraindo mais endividamento, têm todas uma coisa em comum: não são perfeitas ou sustentáveis e acabam na verdade por não ajudar. Independentemente do que fazemos e de como o fazemos, estamos sentados no ramo que estamos a cortar. Vamos cair, por força da gravidade, porque, naturalmente, não sabemos voar. A queda vai ser grave. Não sabemos voar e a invenção dos aviões não veio mudar esse facto. Agora já se investe tempo e dinheiro para conseguir fazer com que os carros circulem sem condutor pelas estadas. Para quê? É doentio. Chamam a isso inteligência artificial, em vez de estupidez artificial. José Saramago descreve um mundo assim no Ensaio sobre a cegueira. Qual será a solução? As pessoas procuram-na sempre no progresso e na tecnologia. Será que esta passará pela existência de mais dinheiro?
Como seria se, por uma vez, não fizéssemos nada. Não fazer nada? Parar. Tirar um tempo? Nem nos lembrámos disso, não é verdade? Nem sabemos como o fazer. Mas esta ideia de deixar repousar o país, o universo, as pessoas, poderia ser a base para a solução. Porque ansiamos sempre pelo progresso? Porque, de uma forma ou de outra, e por toda a parte, estamos sempre à procura de um sentido mais profundo, e julgamos encontrá-lo nas fontes de rendimento, no ganhar dinheiro. Nem nos lembramos de deixar de ir trabalhar, de deixar de pagar impostos, de nos libertarmos de toda a culpa e das obrigações, de nos libertarmos desse peso. Nem sabemos como o fazer. Como saltar desta roda viva e parar para não continuar sempre como se soubéssemos qual é o caminho? Há crises que mostram nitidamente a nossa completa desorientação. Perdemos a bússola – já há muito tempo – mas não nos apercebemos disso. Vamos fazer uma introspeção. E de resto, desta vez, não façamos mais nada.
Não há dinheiro neste mundo que possa curar uma doença se continuarmos a destruir as bases para a nossa sobrevivência. Mesmo assim, quase todas as pessoas, ao ler estas linhas, e a viver estes momentos, pensam exatamente assim. Talvez por precisarmos de dinheiro para comprar comida, roupa, medicamentos, pagar créditos, e muitas coisas mais. Há muitas afirmações contraditórias sobre o dinheiro. O dinheiro não se come, essa está, sem dúvida, correta. Nesta edição também iremos ver se tempo é mesmo igual a dinheiro. E iremos questionar se o dinheiro é mesmo imprescindível para que haja atividade. O que é o dinheiro? Será uma droga?
Este ano, quando comecei a ficar cada vez mais lento, voltei a ler a obra de David Graebers, Dívida – os primeiros 5000 anos. Este livro sobre o dinheiro foi publicado por David Graebers em 2011. É uma história sobre a humanidade do ponto de vista da armadilha da dívida. Há outros visionários, cada um de nós tem as suas preferências. Mas todos deveríamos ser capazes de questionar o PORQUÊ. Por que razão continuamos a destruir o nosso mundo, a base da nossa sobrevivência? Todos os seres Humanos, nós todos, para além de sermos pessoas a mais neste belo planeta a que chamamos Terra, temos uma forma de viver que está errada. Só quando chegarmos a essa conclusão é que teremos a capacidade de pensar em verdadeiras soluções, com tempo… e de as pôr em prática.
O clima, a floresta e o homem
EDITORIAL Nr.30
Oferecemos-lhe artigos que falam de florestas e pessoas felizes, falam da maravilhosa variedade da fauna e flora, bem como das monoculturas e da crescente resistência às plantações da indústria do papel. Plantar árvores só para fazer papel? Testemunhamos, em nome dos jardins florestais onde o leite e o mel fluem e alimentam pessoas e animais.
Por falar em comida, cada vez mais pessoas boicotam o estilo de vida da nossa sociedade descartável. Em contraponto, dão uma vista de olhos aos caixotes de lixo dos hipermercados. Porque é aí que reside uma grande parte dos nossos recursos. O que fazem os alimentos em caixotes de lixo? O que é o freeganismo?
Contamos a história da floresta. Sabia que 98% da floresta portuguesa é propriedade privada? O que é que isto significa, para a floresta e para os seus proprietários? E, preste atenção. Através de várias campanhas de crowdfunding, bem sucedidas, cada vez mais organizações sem fins lucrativos (de que é exemplo a Milvoz, em Coimbra) estão a adquirir áreas florestais, desbravando eucaliptos e reflorestando com espécies nativas. Isto significa renaturalização. O objetivo consiste na criação de florestas mistas robustas. E, depois, temos a associação GEOTA (leia a reportagem online em www.eco123.info), responsável pela reflorestação de forma sustentável após os incêndios florestais. Cada um de nós pode mudar algo no nosso mundo para melhorar a cada dia. Temos a sorte de poder decidir por nós próprios onde e como vivemos e que sinais deixamos atrás de nós.
Serão as leis da Natureza substituídas pelas leis da economia de mercado? Em Portugal, as florestas que foram queimadas durante muitos anos são reflorestadas com eucaliptos e depois novamente desmatadas a intervalos regulares de oito anos. O eucalipto traz muito dinheiro para a indústria do papel. Mas o elevado risco fica com a população, tal como nos mercados bolsistas. Porque os incêndios florestais destroem enormes áreas de floresta e comprimem cada vez mais CO2 para a atmosfera. Deixam para trás destruição e devastação. O que resta são monoculturas invasivas de eucalipto e acácia. Cada vez mais habitantes fogem do interior para a cidade. Aí, a raça humana continua a reproduzir-se alegremente. Esta é a situação precária do nosso biótopo Terra, que o Homem está a desequilibrar cada vez mais: cada vez menos florestas nativas mistas com mais e mais pessoas nas cidades e mais e mais desertos no interior. As causas são múltiplas: vão desde as leis da UE, que são completamente insuficientes para proteger as florestas (Rede Natura 2000) – porque raramente são implementadas a nível nacional – ao consequente descuido em relação à Natureza, passando pela ganância e as alterações climáticas daí resultantes. O uso comercial da floresta sob a forma de madeira é uma das principais origens do problema. Para a maioria dos proprietários florestais, as florestas são apenas um recurso que garante rendimentos. Mas a floresta é muito mais do que um recurso económico. E a sua proteção?
Floresta ou deserto? Em Portugal, que tem uma superfície terrestre de 92.256 km2, o ICNF* informa, num inquérito à ECO123, que a desertificação aumentará para 60% do território nacional antes do final desta década, principalmente no interior. Porque é que a profissão de guarda-florestal deixou de existir em Portugal? No início do século XXI existem ainda cerca de três triliões de árvores no nosso planeta, muitas delas, infelizmente, em monoculturas de vida. Existem cerca de 400 árvores por pessoa entre uma mancha populacional de 7,8 mil milhões a nível mundial. No entanto, o número total de árvores já diminuiu para metade desde o início da civilização humana. E continua a diminuir. As florestas nativas estão a ser abatidas a cada segundo. Porque são geradoras de rendimento?
Não podemos alimentar-nos de dinheiro. Se a floresta morre, o Homem morre. Ecossistemas como as florestas, com um longo período de vida, são mais vulneráveis às mudanças relativamente rápidas das alterações climáticas induzidas pelo Homem. As florestas adoram a humidade e a chuva, alternando com a luz do sol, num clima equilibrado. As árvores perdem as suas agulhas e folhas quando se encontram em stress. As florestas estão maioritariamente doentes nos locais onde há mais intervenção humana. Os perigos dos incêndios florestais acompanham-nos, também porque a seca e os peródos secos estão a aumentar. As florestas desempenham numerosas funções importantes nos ecossistemas – através da fotossíntese produzem oxigénio e biomassa. Retêm água doce. As florestas são o lar de muitas espécies de animais e de seres humanos, bem como um local de refúgio e de saudade. As florestas influenciam o clima e armazenam o dióxido de carbono. Só através da gestão sustentável da floresta autóctone, por um lado, e da conservação da Natureza, aplicada de forma consistente, garantida por legislação clara e pelo seu cumprimento, por outro, é que estas funções podem ser cumpridas pelas florestas no futuro. Na Europa a mancha florestal é responsável pelo armazenamento de aproximadamente 362 milhões de toneladas de CO2 por ano. Ou seja, perto de dez por cento das emissões. Florestas saudáveis podem ajudar a minimizar e a gerir as alterações climáticas – as florestas doentes exacerbam-nas. A floresta, o clima e as pessoas são o foco desta edição. Pode também visitar-nos em www.eco123.info.
* Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
SER ou TER?
EDITORIAL Nr.29
O que nos diferencia dos outros? Jornalismo de qualidade deve ser um espelho da atualidade. Analisamos e reconhecemos a realidade no mundo. Por outro lado, o mundo retratado pelo jornalismo para consumo e pelos “social media” está coberto por um denso manto de névoa. Veja-se a crise climática. Onde estão as soluções? Visões negativistas por toda a parte. Falta uma perspetiva de longo prazo, faltam os contextos, as inter-relações, e falta o otimismo. Os jornalistas trabalham em contra relógio. O que os obriga a isso? Na ECO123 não encontrará notícias de última hora. Transmitimos informação que mantém a sua atualidade amanhã. Cada vez mais, mais depressa e mais alto não é a nossa filosofia. Dissipamos o nevoeiro e reportamos factos sobre as pessoas e sobre os acontecimentos que formam um sentido mais profundo e uma visão sustentável. Somos otimistas. É por isso que contamos histórias de sucesso. Porque elas existem e devem ser relatadas.
Imagine-se ininterruptamente a apontar os erros dos seus filhos. Se essa fosse a única forma de educar as crianças, todas se transformariam em pessoas mal-encaradas. E dessas, já temos muitas. Se fôssemos confrontados com problemas repetidamente todos os dias sem que se nos apontassem soluções, só conheceríamos os aborrecimentos, nunca a satisfação, não aprenderíamos a ser felizes – a SER felizes. SER OU TER? É esta a questão prioritária que nos colocamos agora.
Como encaramos este nosso mundo atual? Será realmente um mundo tão horrível, assustador, repugnante, abominável e cruel? E dizem que amanhã ainda será pior… E mesmo se grande parte disto for verdade, não será também um mundo maravilhoso, belo, deslumbrante e único que amanhã se pode transformar em algo bom? Lemos histórias sobre violência e racismo, criminalidade e homicídios, e produtos alimentares desperdiçados no lixo, mas as histórias quase não falam sobre os contextos e as inter-relações, e sobre como poderíamos resolver esses problemas. Não nascemos para ser vítimas. Os jornalistas deveriam motivar os leitores a participar, a ser ativos. Este é que deveria ser o objetivo mais profundo do jornalismo. As investigações deveriam dar notoriedade a projetos que evitam o desperdício alimentar, que reaproveitam os alimentos ou que até evitam certas produções, poupando recursos, e deveriam revelar por que é importante preservar a vida, especialmente a vida selvagem. Biodiversidade. Alimentação saudável sem carne. Mobilidade elétrica com eletricidade de fontes sustentáveis. A pandemia do Covid-19 também teve os seu lado bom, certo? Tivemos muito tempo para pensar. Ocupar o nosso tempo livre de forma útil!
A consequência do jornalismo negativista está no facto das pessoas passarem a ver o mundo de forma negativa. É por isso que a ECO123 se aplica com tempo em investigações abrangentes, com autenticidade e, vale a pena repetir, com otimismo. O otimismo transmite energia positiva. É dessa forma que mudamos o mundo para melhor. A forma como vemos o mundo, como o recriamos e como nos vemos nele é um espelho da realidade. Estamos sempre a ler sobre políticos que mentem e enganam, deixamos que isso ocupe muito espaço – mas quase não lemos sobre as pessoas que trabalham seriamente nas soluções para os problemas. E depois, há o jogo dos jornalistas com o medo: os jornalistas têm a capacidade de consciencializar os seus leitores, escolhendo informações que evitem provocar medo, ressentimento, inveja e ganância. Temos tudo para fazer trabalhar a escrita e o pensamento no sentido de reportar o bem deste mundo, sem ignorar os pontos maus.
Há soluções que podem ser apresentadas para não deixar os leitores sozinhos perante o relato de problemas por resolver. Nesta edição também informamos sobre diversidade na reportagem acerca das monoculturas, e entramos no mundo da eletricidade limpa, mobilidade limpa, desenvolvemos visões de futuro para pessoas inteligentes e ativas. Desejo-lhe uma agradável leitura… e convido-o a visitar regularmente a nossa página online: www.eco123.info. Nela encontrará todos os sábados novas histórias de sucesso.
Os 50 anos da RTA
EDITORIAL Nr.28
Parabéns. Uma das mais belas regiões de Portugal envelheceu precocemente. Conseguiram! O Algarve está ferido em toda a parte, a sua face expressa os massacres sofridos. Já não há maquilhagem ou botox que possa ajudar. Um olhar atento ao espelho fará surgir na memória os anos que marcam esta decadência.
Na RTA abriram-se portas, sim, para a destruição de uma das paisagens mais bonitas desta Terra. A especulação imobiliária fez crescer arranha-céus no areal da praia. Hoje, junto à costa, temos betão e asfalto; avalanches de carros em filas intermináveis, e camiões a trazer alimentos de longe para os centros comerciais, que só existem para turistas. O turismo é o maior empregador e o maior emissor de CO2, responsável a nível mundial por 8% dos gases de estufa. Sem o turismo, a Ryanair não existiria. O turismo é responsável pelo desperdício de água e pelas enchentes de lixo dos últimos 50 anos. Quando todos os anos os aviões trazem milhares e milhares de turistas à região, as ETAR, quando as há, ficam sobre-carregadas. E o que fazem os turistas? Alugam uma viatura ou apanham um autocarro e vão de A para B, de Albufeira para o Burgau, para cá e para lá. Para quê? Porquê? Para conhecer o país? Duvido. O que fazem durante as “férias”? Observam golfinhos presos em tanques ou escorregam de curva em curva até à piscina, tudo isto só para passar o tempo? Não se iludam. O turismo é um negócio como qualquer outro, igual a uma feira popular.
Aqui e ali há uma palmeira a decorar um investimento de milhões. Tudo o que o Algarve nos oferece para consumo, quer seja compra ou aluguer, só tem o propósito de gerar faturação: a começar pelas “rent a car” e a acabar nos imóveis, passando pelos passeios de barco, pelo surf, e até pelo dito “turismo de natureza”. O próprio conceito deste turismo é enganador, já que a natureza e o turismo se excluem mutuamente. Só se pretende faturar. Toda a encenação apresentada pelo turismo e pelas indústrias a ele ligadas se baseia na publicitação e comercialização da beleza. Mas essa já não existe a sul da EN125. Passados 50 anos, resta o interesse pela faturação sem consideração por mais nada. A comparação vale o que vale, mas digamos que é uma forma de prostituição. Durante a época baixa há um pouco de descanso e a possibilidade de respirar fundo antes da próxima invasão, no verão. Atinge-se os 50, e depois? Quem viu os bastidores desse “palco”, e viu o “espetáculo pelas costas”, notou de imediato que o turismo é um negócio frio, desprovido de sentido e sem qualquer ética. Também aqui, uma “cara bonita” serve só para fomentar as vendas. E o que se vende é um sonho que pode terminar em pesadelo, porque o Algarve é uma região que nem sequer se consegue alimentar a si própria, principalmente se as coisas correrem mal. E já estivemos mais longe dessa situação.
Imagine-se simplesmente que nos próximos dez anos chegam cada vez menos aviões ao Aeroporto de Faro porque as emissões irão passar a ser taxadas e os bilhetes de avião passarão a ser cada vez mais caros. Também está a ser discutido um imposto sobre os combustíveis das aeronaves. Os recursos têm o seu preço. E depois? Acaba-se o sonho? Este “teatro” das férias mudará de nível? E será que as torres de betão, que atualmente só têm uma ocupação de 55%, irão permanecer vazias?
Acreditamos mesmo que isto continuará sempre assim, esta facilidade com que se voa para toda a parte? E se a situação mudar? As consequências que sofrem os turistas que marcaram as suas férias com tudo incluído, e que no destino esperam o avião de um operador turístico que faliu só estão escritas em letras muito pequenas. Só se leem quando tudo acaba mal. Mas o princípio da história também tem que se lhe diga. Começa, por exemplo, na Lagoa dos Salgados, a última zona protegida para as aves na região, um biótipo com 359 hectares entre Armação de Pêra e Albufeira. Nessa “peça de teatro” começaram agora os ensaios para o último ato. Querem mais imóveis? De interesse nacional? Já é só uma questão de tempo, e de dinheiro, e veremos se a “peça” acaba com um final feliz ou uma tragédia. Nos últimos 50 anos já houve muitas dessas tragédias no Algarve.
Já que não há mais publicações a fazê-lo em Portugal na sua edição de inverno, e pelas razões acima descritas, a ECO123 irá questionar todo este “parque de diversões turístico”. É nossa obrigação trabalhar bem como jornalistas e não pelos interesses comerciais. A RTA vai fazer 50 anos. Mais uma vez, vai haver muita publicidade. Então, boa viagem!
Insegurança para todos
EDITORIAL Nr.27
Há um fosso que divide o país. Esse fosso está no interior, longe da costa e das cidades, e não divide só os ricos e os pobres, segrega também os que são da cidade e os que são do campo. Observei que as pessoas na cidade não sabem nada sobre a vida e o trabalho nas aldeias e na província. E quem está no campo, pensa da mesma forma em relação ao que se passa na cidade? A ECO123 perguntou a um habitante do interior por que razão nunca na vida tinha voado de avião e por que razão se sente tão bem na sua aldeia, melhor do que muitos durante as suas férias ou na cidade. Nesta conversa ficou a saber que só por uma vez entrou num autocarro, para ir ter com os seus conterrâneos a Fátima.
Poder-se-ia partir do princípio que, no interior, tal como nas cidades em Portugal e no resto da Europa, as casas têm seguro contra sismos, inundações, intrusão e fogo, mas não é o caso. Muitas casas em Monchique (e Pedrogão Grande, entre outros locais) não dispõem de seguro. Das 71 casas ardidas no grande incêndio de 2018 só três estavam asseguradas. Que sorte para as seguradoras! Que azar para os proprietários e inquilinos que perderam as suas habitações! Perderam a sua casa e todos os seus bens. E agora? Esse seguro não deveria ser obrigatório, tal como o é para quem adquire um automóvel?
Muitos dos bombeiros que vieram apagar o fogo em Monchique deslocaram-se de Lisboa e do Porto sem a mínima noção da geografia dos locais para onde iam e que tipo de fogo teriam de apagar. Não foi uma aventura agradável. Serão os bombeiros da cidade mais incompetentes do que os do campo, que conhecem bem a floresta? O Comandante dos Bombeiros de Monchique conversou connosco sobre o que é este trabalho de proximidade com o terreno.
Tudo o que estivemos a dizer poderia chegar por si só, mas as razões são muito mais complexas. No fundo, é agora que esta história se torna interessante, porque surge a pergunta: Porquê? Porque é que o comando da Proteção Civil das cidades de Faro e Lisboa deixou arder a vila de Monchique, cuja destruição perdurará por muitos anos? E por que razão estas casas não tinham seguro? Quando, na vida, numa catástrofe, há tanta negligência deste tipo levanta-se a questão central: que cuidados e que atenção a ter diante do problema? Quanto CO2 é consumido durante um incêndio florestal? Esta é uma questão que gostaríamos de ter colocado a António Costa, agora que pretende ser reeleito. Mas este continua a temer uma entrevista que será sempre incómoda. Repito: que sentido existe em poupar o dinheiro do seguro, sabendo que, de tempos em tempos, todo o interior do país irá arder? E não irá parar enquanto a empresa The Navigator Company, cotada no PSI20, continuar a poder promover a ditadura do eucalipto, fazendo lembrar o auge da ditadura de Salazar. Não será esta uma atitude que podemos classificar de negligente e gananciosa?
Junta-se a isto o tipo de construção de muitas das casas que arderam. Longe das regras de construção aconselhadas numa região de incêndios tinham estruturas de telhado em madeira, árvores à sua volta e terrenos mal limpos junto aos acessos e habitações. Sem falar na desertificação, que permite que o eucalipto se espalhe por toda a parte.
Quem está nas aldeias fica sem meios para enfrentar os incêndios. Entretanto, os arquitetos devem saber que as casas, aqui, têm de ser resistentes ao fogo.
E, por fim, e é com isso que iniciamos esta edição, notemos que existe um responsável por detrás destes incêndios no interior. Leia a interessante reportagem nas próximas páginas.
Neutralidade climática é possível viver, já.
EDITORIAL Nr.23
2011 foi um ano decisivo. Como editor, poderia ter escolhido comprar um carro novo, mas não foi essa a minha opção. Em vez disso, investi cerca de 40.000 euros em duas instalações de painéis solares que acompanham o movimento do sol, com 40 módulos, bem como em duas instalações com painéis solares térmicos. Assim, de fevereiro de 2011 a agosto de 2018, a editora produziu mais de 100.000 kWh de eletricidade, uma parte para consumo próprio, outra para revenda.
Acabei agora de fazer um balanço desse investimento. Por ano, o nosso escritório, com três computadores, consome cerca de 2.500 kWh. Para o apartamento, necessito de aproximadamente 4.000 kWh. Quando, em 2015, investimos num carro elétrico novo com uma garantia de cinco anos, pudemos, de um momento para o outro, sustentar a nossa mobilidade em eletricidade produzida de forma ecológica em vez de combustíveis fósseis (gasolina/gasóleo): e essa eletricidade é produzida pelos nossos painéis. Para os 20.000 km percorridos com o carro elétrico precisamos de 2.000 kWh. O consumo totaliza aproximadamente 9.500 kWh por ano. Sem emissão de CO₂.
Nos anos de mais produção, esta chega a 18.000 kWh; nos de menos a produção é de cerca de 14.000 kWh. São, portanto, 16.000 kWh em média, dos quais vendemos 6.500 kWh, gerando lucros. Por outras palavras: as nossas deslocações no carro elétrico, para investigações, comercialização e distribuição não geram emissões e custos energéticos, já que as instalações solares já estão amortizadas. E os exemplos de sucesso em sustentabilidade não ficam por aqui. Para a nossa alimentação, iniciámos uma produção em agricultura biológica. E, felizmente, por sorte, as instalações escaparam à catástrofe recente dos incêndios, continuando, fiavelmente, a gerar eletricidade neutra a nível climático.
É assim. E o seu balanço ambiental, já pensou bem nisso?
Há causas que originam os 40 graus Celsius no verão, a seca e os prejuízos de bilhões de euros na agricultura, os incêndios catastróficos, e depois as inundações no inverno. As coisas não acontecem por acaso. Posso propor-lhe que faça a sua avaliação climática e pense em ideias para a tornar ainda mais eficiente do que a minha? Verá que com “investimento verde” até é possível ganhar dinheiro. Venha debater o futuro connosco na cimeira local sobre o clima no sábado 27 de outubro no Alferce, Monchique.
No entanto… se agirmos agora conseguiremos reparar os danos causados pelo aquecimento global provocado pela humanidade, porque brevemente o custo será superior aos proveitos. Depois, não irá fazer sentido plantar árvores só para as ver arder no próximo incêndio. Não fará sentido reconstruir as cidades depois de serem inundadas, já que um dia ficarão submersas. É inútil andar na roda como um hamster, sem sair do lugar. Se não quisermos tornar-nos também exilados pelo clima, temos que ter a coragem de AGIR JÁ, e sair dessa roda que não leva a nada. Cada dia que passa é um dia perdido.
O desenvolvimento de iniciativas verdes pode tornar-se uma verdadeira SATISFACTION e faz-nos sentir bem. Enfrentemos essa realidade. Nesta edição, a ECO123 aborda o elemento AR e entrevistou o economista e psicólogo norueguês Dr. Per Espen Stoknes. Conversámos com os jovens particpantes na oficina particpativa “Monchique 2030 – Zero Emissções – Que Futuro?” Não se trata só do clima, trata-se da conservação da nossa atmosfera e da concretização das metas ambientais de Paris. Porque esperar pelas decisões de políticos retrógrados com ideias ultrapassadas? Podemos todos contribuir com medidas concretas para a realização destas metas. Leia como nesta edição …
Caros Leitores
EDITORIAL Nr.22
Criar um solo saudável é fundamental, porque sem um solo saudável, nada temos. Há um ditado antigo que diz: solo saudável, plantas e árvores saudáveis, animais e pessoas saudáveis. Há que reconhecer que também nós fazemos parte da Natureza, e não existimos sem ela. Mas há muitas pessoas que cresceram com essa convicção. Já na Bíblia se fala em dominar a Natureza, e a ciência somente observa a Natureza de forma racional. Ambas as posições estão erradas e mostram falta de visão. Omitem que o Homem faz parte da Natureza, interiormente e exteriormente. Deveríamos preocupar-nos em manter os nossos solos saudáveis, para não comprometermos a produtividade da nossa terra e não perdermos o elo de ligação às florestas e aos campos.
Vejamos este exemplo. Um prado misto de trevos e ervas cresce especialmente bem sem adubos. Porquê? Porque o trevo que cultivamos consegue captar o azoto do ar e acumula-o em nódulos nas suas raízes, enriquecendo desta forma o solo. Este processo faz parte do crescimento da planta, e acontece naturalmente. Era assim que os nossos antepassados cultivavam alimentos: sem adubos sintéticos, sem químicos, sem tecnologia genética. Uma vez redescoberto este método, podemos deixar para trás a monocultura e a agricultura injustamente apelidada de moderna, e adotar a diversidade do cultivo em modo biológico e em permacultura.
Quando adubamos com o estrume das nossas galinhas, vacas ou porcos, ou simplesmente compostamos os restos quando cozinhamos – o que também é possível para quem vive na cidade – e quando trabalhamos o composto para o arejar, criamos algo muito valioso, mais valioso do que o indicado por uma simples análise aos nutrientes do solo. Também é uma questão de paciência, persistência, bem como de transmissão de conhecimentos e experiências. Uma vez interrompida a transmissão de experiências entre as gerações, ficamos desenraizados e perdemos a capacidade de orientação.
Por isso, vamos analisar em detalhe a Lei 10/2018 para a prevenção de incêndios. Infelizmente, ela mostra que os nossos políticos e funcionários do Estado não têm ainda noção das necessidades das nossas florestas. Se cumpríssemos rigorosamente essa Lei, Portugal transformar-se-ia num deserto no espaço de tempo de uma geração. A limpeza radical das florestas teria consequências irremediáveis para a Natureza. Essa Lei foi criada sob a influência do medo, receando-se novos incêndios e mais destruição, o que parece inevitável. A destruição da floresta natural, provocada pela ganância e pela desertificação durante os últimos 50 anos, não se consegue remediar no espaço de tempo de um ano.
Um primeiro passo na direção certa seria a valorização das espécies de árvore autóctones. Sem alguém que cuide nada é possível. E para isso há que voltar para o campo e para a Natureza. Por essa razão é necessário cuidar com carinho das florestas existentes, e plantar e manter novas florestas com diversidade de espécies. Quem quiser travar as alterações climáticas, deve fomentar silvicultura e agricultura em diversidade. Faltam incentivos para se viver no interior, para lhe dar vida. Esta edição é dedicada ao elemento TERRA: aos solos para os nossos alimentos, para as árvores e para as sementes naturais. Também vamos à descoberta, de onde e como se podem aprender os ofícios tradicionais da agricultura e silvicultura. E propomos uma visita aos poucos campos ainda saudáveis e às mais belas florestas do país.
Água, um bem escasso.
EDITORIAL Nr.21
O crescimento populacional e económico sem limites desequilibrou o clima. A queima de petróleo, gás e carvão origina gases com efeito de estufa que aquecem de forma inédita a fina camada que nos protege, a que chamamos de atmosfera. É este o preço de uma filosofia míope e errada, que cria caos meteorológico e põe em risco a subsistência de todos. Passaram-se vários meses de inverno sem chuva para depois as chuvas torrenciais caírem sobre a terra fértil, ressequida, e a levarem consigo na enchente. Tempestades e tornados atravessam o país. Permanece a questão, se as reservas de água, cada vez mais reduzidas, serão suficientes para perdurar mais um verão tórrido. A água é um elemento maravilhoso. A ECO123 apresenta-o de vários ângulos nesta edição.
No verão passado já tivemos escassez de água no Algarve. As barragens atingiram níveis baixíssimos. Níveis de 30 por cento significam que faltam 70%. Na serra mais a sul da Europa, a Serra de Monchique, o pulmão verde, rico em água, sofre agora as consequências dos crimes ambientais das últimas décadas. O eucalipto, plantado para a produção de papel, retira toda a água à Mãe Natureza. Em agosto de 2017 as reservas de água na freguesia de Marmelete (Monchique) estavam praticamente esgotadas. Ao abrir a torneira, notava-se a falta de pressão na rede. A Proteção Civil teve que reabastecer as cisternas três vezes por dia com um camião da câmara municipal, transferindo 50 000 litros de água da nascente das Caldas para Marmelete. Pouco depois, a escassez de água chegou à freguesia de Alferce. Onde quer que a silvicultura industrial retire a água da terra para as suas monoculturas, pouca água resta para as pessoas, a flora e a fauna. E o mesmo problema provoca o turismo, a agricultura industrial e a indústria. Retiram à terra esse bem escasso, que é a água.
Os limites para o crescimento são cada vez mais percetíveis. Cada vez mais danos ambientais, provocados pelos interesses da indústria e pela ganância de alguns privados, têm que ser compensados pelo empenho do Estado e das suas instituições, com os nossos impostos. Enquanto que a indústria do papel lucra enormemente, saqueando os recursos naturais, os municípios ficam com dívidas por pagar: Teremos incêndios sem ter água para os combater? Quando é que se irá responsabilizar os verdadeiros causadores do problema? E quando é que se irá iniciar a mudança de rumo ao encontro a uma economia circular sustentável?
O verão está à porta. O Day Zero, o dia em que poderá colapsar o abastecimento de água dos serviços municipalizados, é um tema central. O consumo irresponsável de muitos milhões de turistas, a rega de monoculturas na agricultura e silvicultura e uma indústria que simplesmente canaliza os seus efluentes tóxicos para dentro do leito dos rios, reduzem as reservas de água potável com cada dia de sol quente e seco que passa. O que fazer? Os jornalistas da ECO123 investigaram soluções de sustentabilidade para lidar com o bem mais valioso da humanidade, a água.
Já conseguiu tudo na vida
EDITORIAL Nr.20
Por que razão um dirigente da Proteção Civil falsifica as suas habilitações académicas? Por que razão é que o Presidente da Câmara assina sempre com “Dr.” junto ao nome, apesar de nunca ter escrito uma dissertação? Por que razão é que um Primeiro-Ministro se apelida de engenheiro, apesar de nunca lhe ter sido atribuído esse título?
Esta edição aborda o tema da educação e da aprendizagem para a vida. Segundo estimativas, três a cinco por cento dos detentores de um título académico não tem direito ao mesmo. Mas o que fazer com esses batoteiros e vaidosos, que escondem a sua verdadeira imagem?
Parece que os líderes políticos se esqueceram de colocar a educação das escolas públicas ao nível do século 21. Pedagogos do século 20 dão aulas a jovens do século vinte e um segundo métodos do século 19. E o mesmo se passa com os conteúdos que são transmitidos. Repare-se no que aprendem as nossas crianças em casa e na escola sobre a natureza e a ecologia. Que conhecimentos é que brevemente poderão aplicar na prática do dia a dia de forma construtiva, para conter as alterações climáticas, para evitar os fogos florestais e para encontrar uma solução definitiva para os problemas ambientais da atualidade? O que aprendem os estudantes nas faculdades de economia sobre as ligações entre a economia e a ecologia?
Que percentagem daquilo que aprendemos nos primeiros 25 anos de vida podemos aplicar na prática nos 25 anos seguintes, Quando o que importa é a resolução de conflitos e o evitar da violência no seio da comunidade familiar? Sete em cada dez casamentos acabam em divórcio dentro dos primeiros sete anos. Que amor é este e que fazer com as vítimas deste amor, as crianças? Ao analisar estas estatísticas fica-se profundamente apreensivo e com a impressão que as políticas atuais não irão proporcionar soluções de fundo, apenas receitar “cosméticos e analgésicos” diante do problema.
Há outros caminhos. Há outras realidades que o comprovam. A ECO123 investiga e relata, também nesta edição, essas histórias de sucesso. Investimos o tempo necessário para pesquisarmos por detrás das fachadas e demonstrar causalidades. Sabemos ouvir. Tanto o jornalista como o professor têm que querer procurar soluções e conseguir ver para além dos seus próprios meios. Só assim se alargam horizontes e se cria uma nova imagem, em que não reina somente o perigo, a tempestade e outras catástrofes ou acidentes.
Gostaria de participar? Em vez de chegar ao ponto de adquirir um falso título académico, faça uma assinatura da ECO123 e seja um dos nossos assíduos leitores. Ou ofereça, por somente 20 EUR (portes incluídos), esta e as próximas três edições de 2018 (edição 21 a 23) como prenda de Natal. E assim manter-se-á ágil fisicamente e espiritualmente…
Vai uma aposta?
EDITORIAL Nr.19
Todos falam na poupança de energia, mas desta vez não alinho. Quem começar a investir nos seus próprios recursos, irá compreender rapidamente o que entendo por investimento sustentável e rentabilidade (ROI – Return of Investment). Analisemos como exemplo mais detalhadamente o caso da mobilidade, deixando de parte os instrumentos disponíveis nos nossos tempos modernos. Vamos deslocar-nos de A para B sem recurso ao avião, ao carro ou a outra forma de ajuda. Sim, não se trata de um engano: desta vez vamos mesmo sobre os nossos próprios pés.
Quando falamos em concretizar realmente o fim da era dos motores de combustão interna, isso não quer dizer que basta montar um motor elétrico em outro tipo de veículo de chapa ou de plástico e continuar a viver da mesma forma, como se nos últimos 150 anos nada tivesse acontecido. Enquanto que os cientistas para a mobilidade sonham com carros sem condutor nas nossas estradas, e com a partilha em rede da oferta de transportes, eu falo do simples andar a pé, do por-se a caminho de A para B aplicando a sua própria energia. Pensar e agir de forma simples, respirar fundo, e arrancar. Por mim podemos incluir a bicicleta. Mas se nos centramos no fundamental desta ideia, ela baseia-se no aproveitamento dos recursos e das ferramentas colocadas à disposição pelo próprio corpo, pernas, pés, músculos, tendões e a sua coordenação pelo cérebro.
Quem no futuro pretende transportar algo, pode alugar ou pedir um meio de transporte emprestado. Mas como planear o nosso trajeto para o trabalho, a escola, a faculdade, a ida de férias, a um concerto, ao teatro; às compras de bens alimentares, de vestuário e de outros bens de consumo necessários nas nossas vidas?
Não tenho dúvidas que no futuro continuará a haver táxis, comboios e autocarros. O que questiono é se a chamada liberdade individual de cada um deve poder continuar a destruir o meio ambiente de todos. Para mim, o carro e o avião como meios de transporte para viagens de negócios e de férias têm os dias contados. Quem hoje ainda ganha o pão de cada dia a trabalhar para a fraudulenta Volkswagen, é melhor que comece o quanto antes a procurar um novo trabalho. O maior produtor de carros do mundo tem os dias contados. Aposto que em 2022 já não irá existir no mesmo formato do de hoje. A Kodak e a Olivetti também não conseguiram persistir para sempre. E a Ryanair é o próximo candidato na minha lista. Mais dia menos dia também antevejo o seu encerramento. Quem trata os direitos dos trabalhadores a pontapé, ignora as regras da Segurança Social europeia, quase não paga impostos e só espalha avareza, irá colher o que semeou. Vai uma aposta?
Consegue imaginar um mundo sem a Volkswagen e sem a Ryanair? Que vida teríamos? Seria um mundo mais agradável, calmo. Faltar-nos-ia algo, por exemplo, a quantidade de gases de combustão que de futuro já não teríamos no ar que respiramos. Ir a pé é um incentivo à reflexão e à ação.
Desejo muito prazer na leitura.
Como queremos viver?
EDITORIAL Nr. 18
Há um fosso que atravessa o nosso país e as nossas vidas: os ricos e os pobres, os idosos e os jovens, mas também as pessoas da cidade e do interior identificam-se cada vez menos uns com os outros. Os que moram e trabalham na cidade vivem num meio diferente dos do campo, e desconhecem a vida rural. Mas, quem planta milho e batata, quem colhe os seus próprios frutos e legumes e quem tem as suas próprias galinhas e cabras, tem também uma ligação direta para com a sua comida. As pessoas do campo, por regra, vivem de forma mais amiga do meio ambiente do que as da cidade – essas, para chegarem aos seus alimentos, têm que se deslocar ao supermercado, e, depois, abrir embalagens para as acabar por deitar no lixo. No campo, não há falta de habitações. Há casas vazias. Na cidade, predomina o barulho, o ar poluído e o stress, na aldeia predomina o envolvimento social…
Onde se situa o nosso futuro como seres humanos? No interior, é usual oferecer aos outros o que a terra nos dá. A amizade ganha, portanto, um valor especial, e as pessoas, dependendo umas das outras, mostram que se prezam na sua interdependência. As pessoas conhecem-se e cuidam do seu próximo, partilham alimentos e alegrias, partilhando, especialmente, também os valores imateriais. Por vezes, chora-se um óbito em comunidade, outras, festeja-se aniversários e outros acontecimentos. Em conjunto, destila-se o medronho e colhem-se cogumelos. Partilha-se a felicidade do amor e do nascimento de um novo membro da família.
Esta revista, que é feita numa aldeia da província e que é lida tanto em Lisboa e no Porto, como em Portalegre e na Guarda, e que é somente publicada quatro vezes por ano, trabalha ao sabor dos tempos e não contra eles. Esta é uma oportunidade única para todos, mesmo para aqueles que estão numa cidade grande, de tomarem algum do seu tempo, caírem em si, e lerem. Porque sabemos que ali, na cidade, quase ninguém é dono do seu tempo. Mas precisamos de fazê-lo para pensar, e para poder sentir a forma como queremos viver.
A maior parte das pessoas na cidade sai do seu apartamento de manhã para ir trabalhar, e só volta ao final da tarde. Mas, quem vive numa aldeia, tem a casa, o trabalho e a escola a poucos passos. Assim, tem uma grande vantagem ecológica e uma grande vantagem económica. Por isso, vamos viver uma fuga da cidade nos próximos anos. Vamos ter pessoas que não sabem produzir os seus alimentos com as próprias mãos. Vai haver muitas oportunidades de trabalho na área da formação ecológica…
O meu amigo Carlos, que lecionou durante muitos anos na universidade, hoje em dia adora ir quase diariamente para a sua horta trabalhar um pouco. Até porque ali há sempre algo para fazer. O que nós corriqueiramente chamamos de trabalho, enche-o de alegria. Fá-lo sentir-se bem. No inverno, foram plantadas as árvores, e a terra está amanhada. É o garante para um elo estreito com a mãe terra que nos recompensa pelo nosso trabalho. Nunca nos deveríamos esquecer disso.
E por que razão falo do Carlos? Porque esse meu amigo acabou de me dar um cestinho de morangos. E agora estou na minha cozinha a arranjar os frutos e coloco-os, um por um, numa tigela para a nossa sobremesa de hoje. É assim que começo o dia. Acabei de tomar o pequeno-almoço, lavo a loiça, penso no que poderia cozinhar hoje e em como irá ser esta edição da revista. Estava mesmo agora a pensar como seria se reutilizássemos tudo o que tocamos com as nossas mãos. Afinal, a natureza desconhece o conceito de lixo.
Nesta edição, nove pessoas bem diferentes têm a oportunidade de falar sobre si, e de nos confessar como gostariam de viver…
Portugal é uma ilha?
Editorial Nr. 17
Os sucessos nas urnas, que são fruto da frustração e do medo da perda de estatuto social e de não conseguir sobreviver com dignidade, só podem ser considerados vitórias pírricas. Segregar, espalhar o medo e gerar conflitos, eis o padrão atual da política populista que olha com saudosismo cego o passado glorioso baseado no saque do nosso planeta. Mas essa política não consegue nem resolver os problemas do presente, nem oferecer uma visão sustentável para um futuro melhor.
Trata-se de uma política míope, cujos óculos só a deixam ver a ponta do próprio nariz. Por destruir o consenso social, brincar com o fogo e repetidas vezes provocar guerras, esta miopia política é verdadeiramente perigosa. É um olhar que não procura soluções sustentáveis. Limita-se a encontrar sempre os erros nos outros, segrega minorias, fomenta a xenofobia e aumenta as injustiças sociais e económicas. Esta miopia destrói a nossa Terra, o nosso biótopo.
As soluções para os nossos variadíssimos problemas globais nunca aparecem em simples padrões a preto e branco. Necessitam de um olhar astuto que vá muito além do próprio quintal. Só promovendo o encontro, vencendo o medo e procurando soluções em conjunto é que a política pode atenuar conflitos. A descontração é uma ajuda importante para a resolução de problemas. Esta requer tempo e paciência, diálogo e decisões, e também a tentativa e o erro. A base, porém, é um planeta intacto, com habitantes que dele cuidam e tratam. Será que é isso que estamos a fazer?
Uma das nossas leitoras diz que Portugal, apesar de ser um país pequeno, tem tudo o que precisamos para uma vida boa. Paz. Sol e vento gratuitos que nos oferecem eletricidade renovável. Solos suficientes para água pura e para conseguir implementar uma agricultura sustentável, que nos poderia garantir uma alimentação equilibrada. Diz, temos conhecimentos suficientes para fabricar produtos ecológicos que nos vistam, mantenham saudáveis e nos movimentem, tornando-nos independentes das importações sem sentido.
E há outro leitor que nos escreve que tem a impressão que a ECO123 está 20 ou 30 anos à frente no tempo. Obrigado! É uma opinião que nos faz sorrir e pensar ao mesmo tempo. Se hoje encontrássemos soluções socialmente e ecologicamente sustentáveis que estivessem assim tão à frente no tempo, estaríamos no caminho certo para enfrentar o futuro. Se encontrássemos uma solução justa e consensual para minimizar os medos existenciais e a pobreza, Portugal tornar-se-ia uma ilha em que reinaria a paz.
Do dia 25 a 27 de setembro, na Assembleia da República em Lisboa, tem lugar o 17º Congresso BIEN, um encontro mundial para o Rendimento Básico Incondicional, com a presença de representantes de muitos países deste nosso planeta. Nesta edição, a ECO123 debate com eles esse tema tão importante para o nosso futuro.
Livros
Sugestões
Qual é a energia que nos move?
Editorial Nr. 16
A maioria de entre nós começou agora a compreender que menos pode significar mais: menos trabalho significa ter mais tempo, tempo para nós próprios, para as pessoas que mais amamos, e para aquelas que nos estão próximas. Ter menos património também significa… suportar menos responsabilidades e menos saque aos recursos naturais, bem como menos desperdício. Viver em melhor harmonia com o planeta Terra é um tema cada vez mais atual. O que nos motiva a isso? Qual é o nosso investimento no futuro dos nossos filhos e das gerações seguintes? Atingir o equilíbrio entre a alma, o espírito e o corpo é a base para uma vida em paz e harmonia. Mas o que é que isso significa? Foi a pergunta que fizemos a uma médica, que não combate as doenças, mas que, pelo contrário, promove a saúde.
Há algum tempo recebi um convite para um evento, que acabou por começar de forma completamente diferente do que estava planeado. Estava agendado que o Ministro do Ambiente faria um discurso de abertura. Ele chegou na sua grande viatura negra, a mesma já usada pelo seu antecessor, e foi recebido por uma manifestação de pescadores. “Eu sou ilhéu”, estava escrito nas suas t-shirts, e protestavam contra a intenção do governo de, brevemente, mandar demolir as suas casas. O senhor ministro dedicou meia hora do seu tempo aos seus compatriotas. Para quê? Para ouvir. Será que encontrou uma solução para os seus problemas?
Nos nossos tempos modernos, o Ministério do Ambiente é, sem dúvida ainda um ministério muito desvalorizado, e não é o único nessa situação. O ministro e os seus colaboradores têm pouco poder, pouco tempo e pouca influência na política. Podem discursar e o ministro pode manter o seu cargo, sem mais interferências, desde que não tencionem ditar à economia a forma como esta deve funcionar. Mas por que razão é que um Ministro do Ambiente é tão impotente, e como será possível mudar esta situação? Foi isso que pretendemos saber junto do mesmo. E depois ainda fomos descobrir como se consegue transformar uma ruína numa casa acolhedora. Daí chegámos às casas que geram mais energia do que gastam, as casas de energia positiva.
Interessado? Então venha daí…
Sobre o valor da restrição
Editorial Nr. 15
Há uns dias recebi um simpático convite para a edição deste ano do Greenfest no Estoril. Antes de aceitar um convite costumo sempre dar uma vista de olhos no programa e na lista dos patrocinadores. Vejo que se trata de um evento de três dias para toda a família. As empresas, as freguesias e os cidadãos apresentam-se,no intuito de se consciencializarem no que toca a questões ligadas à sustentabilidade.Uma boa ideia.
O primeiro patrocinador que descubro é a Volkswagen. Esta empresa manipulou deliberadamente de forma fraudulenta os dados sobre as emissões de onze milhões de veículos. Será que a VW ainda tem algo a dizer sobre oassunto? Em segundo lugar, deparo-me com o produtor de papel Portucel/Soporcel como segundo patrocinador,que investiu bilhões em plantações industriais de eucalipto e, como tal,é co-responsável pela calamidade dos fogos florestais.Depois,vem a marca de tintas Barbot e a fundação Gulbenkian,cuja riqueza se baseia no saque ao petróleo e gás do nosso planeta,e também ainda a Unilever. Com base nestas informações,decidi nem sequer me aproximardeste evento.A ECO123 só investe em eventos que cumprem o que prometem. Tenho, no entanto, curiosidade em saber qual o valor do cheque que uma empresa tem que passar para ter direito a participar neste Greenwashing?
Abordemos soluções. Nesta edição, ousamos uma experiência jornalística. Publicamos nove entrevistas a pessoas do quotidiano que partilham connosco ideias importantes da sua vida. Lourdes, a jornalista de televisão alemã de nacionalidade portuguesa que vive há 42 anos na Alemanha; Marcelino, o eremita, camponês no Barbelote; Vânia, a bloguista de sucesso com mais de 100.000 seguidores veganos; Vedanta, a professora de yoga, que vive na sua ilha; Madan, o emigrante nepalês (ainda) ilegal em Lisboa; Zé Pedro,o aprendiz de sapateiro português na Áustria; Käthe,a alemã reformada a aprender Português no Alentejo; Carlos, o Presidente de Câmara ecologista de Torres Vedras e Leo Lobo,o palhaço, filho de emigrantes portugueses.
Desejo-vos boas leituras.
Antes era tudo pior?
Editorial Nr. 14
Na maioria dos media, procuro em vão o jornalismo bem fundamentado. Há jornalistas que relatam, por exemplo, o desmoronar de uma ponte, descrevem as pessoas, e o autocarro que caiu na corrente e desapareceu. Porém, são raros os casos em que um jornalista se dá ao trabalho de investigar a história ao ponto de analisar todos os aspetos relacionados com o acontecimento. O que levou a ponte a ruir? Se, e como, teria sido possível evitar um tal acidente? São apresentados números fora de contexto e a notícia é distorcida. Mas, em relação à ponte que está a ser restaurada, para justamente evitar catástrofes dessa natureza, os jornalistas não perdem uma só palavra. Com a ECO123 poderá viver a experiência de absorver também, e regularmente durante anos, boas notícias. O que nos move são as histórias de sucesso.
Pois quem está continuamente exposto à leitura de algo negativo fica verdadeiramente com a convicção de que tudo é mau. O jornalismo sensacionalista origina uma espiral de paralisia espiritual, passividade e depressão. A ciência comprova-o. As iniciativas boas, presentes em qualquer parte, já não são percetíveis. Vários estudos chegaram à conclusão que histórias negativas tornam o publico mais ansioso, passivo e de mau humor. É isto que demonstram dois textos sobre problemas ambientais. Um deles aborda a destruição após catástrofes e incêndios, o outro estabelece a ponte entre as alterações climáticas originadas pelo homem e descreve as possibilidades para a redução das emissões de CO2, ou seja, aponta caminhos para evitar incêndios. Depois da leitura do texto, orientado para as soluções do problema, os leitores afirmaram ter ficado eles próprios mais motivados para assumirem atitudes amigas do ambiente. Nesta edição, a ECO123 apresenta exemplos para soluções na produção agrícola e alimentar.
O jornalismo de atitude construtiva muda a forma de vida, fortalecendo e motivando. E não estamos sós neste planeta com esta convicção: tanto o www.positive.news no Reino Unido, como o Tages Anzeiger na Suíça e a Washington Post, com a sua rúbrica “The Optimist”, praticam um jornalismo construtivo. Até existe um magazine televisivo alemão que, desde o início do ano, apresenta casos em que os assuntos são a redução do número de refugiados ou a melhoria do sistema de saúde. E o nome desse programa é “Antigamente era tudo pior”…
Positive News \ www.positive.news
Tages Anzeiger \ www.tagesanzeiger.ch
Washington Post \ www.washingtonpost.com
Paraíso perdido?
Editorial Nr. 13
Não. Quem pensa que tudo corria tranquilamente como dantes, está redondamente enganado. Muitos nem sabem ainda até onde vai rumar a viagem. Se a transformação estrutural da economia baseada na sobreexploração, se poderá transformar em amiga do ambiente, com zero emissões de CO2 até ao ano 2050, isso depende, principalmente, de se as virtudes positivas das nossas democracias da Europa prevalecerão no longo prazo.
Terão os governos atuais e futuros auto-confiança, vigor e capacidade de negociação para tomar e adotar decisões claras e impopulares? Impor-se-ão no povo os valores como o amor fraterno, a paciência e a tolerância? Cada caminho orientado para o futuro rumo à sustentabilidade, estará para muitos longe de ser simples, porque a nossa civilização orientada principalmente para o consumo ilimitado não aprendeu (ainda) e não compreendeu (ainda) o quanto tudo seria bem melhor sustentável. Do que o homem precisa para ser feliz? A ECO123 coloca esta questão nesta edição.
A guerra por matérias-primas como a água, ou por valores como a liberdade espiritual, a fome e o êxodo rural trarão centenas de milhões de refugiados dos países em crise ameaçados pelas alterações climáticas. E como vamos lidar de forma responsável com estes movimentos migratórios?
Só quando descobrirmos o cenário maior por detrás do ainda desconhecido, e desenvolvermos o plano que se orienta pela humanidade e numa economia sustentável, é que vamos preservar o nosso paraíso da terra. Tudo começa sempre com alguma dose de autoconfiança e com uma vida sem medo. Vamos viver mais lentamente e orientar-nos nesta escala. Um rendimento básico incondicional virá também como uma forma sustentável e socialmente justa da economia.
Se hoje um investidor tem a opção de escolher entre investir numa nova central de carvão, ou num parque fotovoltaíco da energia renovável, então é bem claro o que ele irá fazer. A proteção do clima tem que ocorrer a todos os níveis.
Procura-se o porco ambiental de 2016
Editorial Nr. 12
É bom a matemática? Então faça as contas: em 2014, 457 autocarros urbanos percorreram no total 43.000.000 km, emitindo assim 87.000.000 kg de CO2 para a atmosfera. Quanto CO2 emite um autocarro por quilómetro e ano? Bem mais complicado agora, não? Para estes 457 autocarros foram vendidos 27.000.000 de bilhetes. Questão: quantos gramas de CO2 por passageiro e por quilómetro de viagem foram emitidos para a atmosfera do nosso planeta?
Esta foi uma das típicas questões, que nos ocupou durante os últimos dois anos. Nesse espaço de tempo, estivemos a preparar para si uma experiência. Chama-se Quioto, uma cidade do Japão. Em 1997, realizou-se aí a mais importante cimeira do clima, similar à que acontece agora, outra vez. Nesta conferência internacional da ONU ficou estabelecido que, de 1997 em diante, nós – europeus -, podíamos apenas emitir 3.000 kg de CO2 por ano: no consumo de eletricidade, no aquecimento da casa, com o ar condicionado, no lazer, compras, férias, deslocações de automóvel, viagens de avião e autocarro, etc. O objetivo era manter o aquecimento da atmosfera do nosso planeta abaixo dos 2 graus Celsius. Isto dito de outra forma: o nosso roteiro para a sobrevivência.
Vinte anos depois, em 2016, nós preparámos para si uma experiência, à qual os nossos assinantes têm acesso exclusivo em www.eco123.info/kyoto. É o reflexo do quotidiano num jogo. Estamos à procura do porco ambiental do ano 2016. Abro a minha ECO-conta bancária online pessoal e recebo um crédito de mais de 3.000 pontos. Posso, assim, jogar ao Quioto o ano inteiro. Quer participar? Quem gastar primeiro os seus 3.000 pontos, é o PORCO AMBIENTAL de 2016.
Aquele que for bom a matemática, souber fazer contas, e, no final do ano ainda tiver saldo na conta, será um dos reais vencedores do jogo. Estão em vista belos prémios: kits solares, bilhetes gratuitos de autocarro e comboio, férias ECO e muito mais. Todos podem ganhar, mesmo aqueles que já tenham esgotado os seus 3.000 pontos ao fim de três meses, pois dar-lhes-emos dicas e assistência sobre como poderão voltar a encher a sua conta. Curiosos?
Agradeço a todos vós, e, em particular, aos nossos colegas da redação, produção, publicidade e distribuição. Continuem a acompanhar a ECO123 também em 2016.
A vida é curta
Editorial Nr. 11
Quando iniciei uma acção de reflorestação, após os grandes incêndios de Monchique em 2003, plantando, com amigos e colegas, muitas árvores durante vários anos, perguntaram-me por que fazia esse disparate – isso não evitaria o próximo incêndio, e as árvores recentemente plantadas iriam queimar-se. Então, eu tinha que explicar a um agricultor porque plantava uma árvore. Respondi que, para mim, isso era um prazer, e muito maior do que participar num rali ou beber uns copos. Porque isso dava mais sentido à minha vida. Era algo que então sentia com uma grande convicção.
As pessoas não necessitam de ser egoístas, podem ter um comportamento altruísta. Sermos altruístas na forma de viver, torna-nos simplesmente mais felizes. Com o egoísmo há sempre um que fica pelo caminho. Todos podemos cooperar em vez de competirmos. Apercebo-me, cada vez mais, que os conceitos de ontem já não nos ajudam para o futuro. As alterações climáticas, por exemplo, são algo que só se resolve globalmente. Espero fervorosamente que a próxima cimeira do clima em Paris traga finalmente resultados concretos, e que NÓS os possamos colocar rapidamente em prática. Emitir menos CO2 significa extrair menos combustíveis fósseis da terra, queimar menos gasolina e petróleo, menos carvão e gás. Ao invés, vamos usar mais energias renováveis, gerando menor quantidade de resíduos. Produzir energia elétrica a partir do sol, do vento e da água; incentivar a mobilidade por comboio e autocarros. Menos é mais.
Mas para isso devemos, nas próximas eleições legislativas de 4 de Outubro, escolher novos deputados e um novo governo que encare a sustentabilidade futura do país com seriedade. Os políticos necessitam ter o dom do pensamento a longo prazo e holístico. Todos precisamos de estados de espírito positivos, que nos permitam viver com atenção plena, em não-violência, com serenidade, tolerância, cuidado e compaixão – para com humanos, animais e plantas. Assim, vamos escrever mas também regressar à floresta e plantar árvores após as primeiras chuvas de Outono. Junta-se a nós?
Colhemos o que semeamos
Editorial Nr. 10
As nossas atitudes básicas são as principais condições da nossa vida. Se queremos possuir sempre mais do que o outro, se em qualquer negócio apenas pensamos em nós e se consideramos o lucro como o factor essencial no crescimento, não admira que, hoje, muitos milhões de pessoas se estejam tornar sem abrigo e perdedores globais. E, caso sobrevivam à sua passagem pelos mares deste planeta, virão bater às nossas portas. Quão tristes são estas imagens e histórias que nos perseguem todos os dias?
A procura por mais e mais torna-nos insensíveis, e tudo o que sempre gera é stress, violência e sofrimento. Quem quer continuar simplesmente a olhar para o lado, enquanto uma sociedade do descartável com sete mil milhões de pessoas saqueia e contamina a terra, rios e mares, e torna a Terra inabitável? A solução para todos os problemas está em nós.
A satisfação permanente não vem da acumulação de mais e mais bens materiais e de histórias espectaculares. Um intervalo diário é mais propício a uma nova orientação. Uma reflexão séria poderia mostrar qual o caminho para a acção eticamente motivada: em casa, no trabalho, em cada investimento. Isso necessitaria de coragem, atenção e amor à paz. Não deveria cada um de nós dedicar mais tempo por dia a si próprio? Essa seria uma base para semear algo de bom em nós – e nos outros.
Apenas podemos semear alegria de viver e paz quando em harmonia com a natureza. Quem procura a paz interior e a felicidade genuína para a sua vida, tem sempre a possibilidade de parar para refletir. Porque não colocarmos, em conjunto e desinteressadamente, uma semente na terra e contribuirmos para que desta nasça uma planta, um arbusto ou uma árvore de onde crescerão muitos frutos? Porém, só reduziremos a fome e a miséria se repartirmos irmãmente a colheita por todos. Eu chamo a isso agricultura biológica com sementes tradicionais, comércio justo e economia regional com curtas distâncias de transporte.
A nossa atitude jornalística básica é a de contar as histórias deste mundo de uma outra forma. Muitos pequenos sucessos ganham asas e aprendem a voar. Nós damos-lhe conta agora mesmo de utopias e de projetos sustentáveis, que terão realmente sucesso amanhã.
Estimados leitores
Editorial Nr. 09
A realidade do futuro é a utopia de hoje. Vamos imaginar que, até ao fim da sua vida, teria mensalmente 500 euros a serem transferidos para a sua conta. O que mudaria na sua vida?
Primeiro tema, primeira questão. O DINHEIRO TORNA-NOS INSACIÁVEIS? É correcto dizer que quem tem dinheiro suficiente para viver, deixa de querer trabalhar? Ou, pelo contrário, é despertada a motivação para a realização pessoal? O que deixaria de fazer se não tivesse que trabalhar? E, no lugar disso, o que faria?
Os defensores de um rendimento básico incondicional acreditam que isso libertaria as pessoas do medo de como vão subsistir, e, depois, permitiria uma conduta mais amiga do ambiente. Verdadeiro ou falso? Os defensores acreditam que as pessoas podem e querem trabalhar porque são livres de o fazer e amam o que fazem. Isto partindo da sua experiência pessoal de que não se sentem felizes quando não trabalham (ou não fazem nada). Outros benefícios sociais, como o subsídio de desemprego, o abono das crianças ou a pensão de reforma cairiam por terra. Precisaria o nosso Estado de um outro sistema fiscal para financiar tudo isto?
Não tenho dúvidas de que necessitaríamos de um sistema fiscal inovador e bastante mais justo. Um governo que cobra impostos sobre a gasolina e o gasóleo para os automóveis e não para os aviões (porquê?) está pouco interessado em fazer uma política amiga do ambiente. É por isso que os carros eléctricos (e o comboio) não são prioridades dos nossos governos. Porque precisamos de um governo? Não conseguiríamos trazer o PRIMEIRO CARRO ELÉCTRICO PORTUGUÊS para a estrada com investimento privado? O VEECO, da pequena localidade do Entroncamento, está em linha de partida para o lançamento. 50 condutores têm agora uma oportunidade única de investir no primeiro carro eléctrico do mundo (400 km de alcance) com um preço razoável e ainda obter lucros.
Uma outra forma de investir numa revolução suave bate agora à sua porta. Chama-se AQUAPONIA – um sistema autossuficiente de cultivo de peixes e legumes em pequenos espaços. A ECO123 faz o relato exclusivo do primeiro curso realizado na Universidade de Lisboa.
Mais iniciativa privada, menos envolvimento do Estado: se construíssemos mais centrais eléctricas de BIOMASSA, a nossa electricidade seria muito mais barata, haveria menos incêndios florestais e os custos de aquecimento de muitas piscinas interiores seriam reduzidos em mais de 75%. Entrada livre? A natureza tem muito para nos oferecer. Invista agora.
E mais uma coisa: o que faz para travar o ÊXODO RURAL? Continua a comprar sapatos chineses? Como sobrevivem os últimos SAPATEIROS de Portugal? Apoie os ofícios tradicionais, os agricultores locais e os produtos nacionais. Portugal precisa de si.
Esta edição tem ainda mais conteúdo. E termino agradecendo a todos os crowdfunders e ao PPL pelo apoio dado à nossa bem sucedida campanha.
Envie-me a sua opinião pelo editor@eco123.info.
Medo e Coragem
Editorial Nr. 08
Esta noite sonhei que no começo do dia, o país tinha pago todas as suas dívidas. Inacreditável, disse para mim próprio, impossível. Mas como poderia ser? A pessoa com quem eu me cruzei ao virar da esquina para o meu café favorito, aconselhou-me a prestar atenção ao que o povo diz e a onde os políticos metem as suas mãos. Você é jornalista, disse-me ele, faça gentilmente o seu trabalho. Investigue, raciocine, tenha imaginação e coragem, porque sem ambos estes atributos nada funciona. Fale com todas as pessoas que encontrar e, acima de tudo, pense e aja positivamente. Escreva no seu jornal que o seu país se salvou. Use-o de forma eficiente. As pessoas não querem saber o que está mal, porque elas conhecem melhor do que ninguém bastante bem os seus problemas, e querem soluções. Percebe? Soluções. E ele assim me deixou, com este conselho bem-intencionado e desapareceu.
Lá estava eu. No sonho eu visitava um político e explicava-lhe que a nossa democracia tinha que ser forte e vívida. Eu encorajava-o e explicava-lhe a palavra fantasia. Sonhar? Sonhar! O país precisa de ideias novas. Vamos todos juntos sonhar e encontrar o melhor caminho para sair da crise. Porque aí pelo menos existiria um caminho. Eu dei-lhe a entender que ele podia pedir três desejos. E então ele começou a sentir-se mais à vontade e disse-me que o seu primeiro desejo era que acabassem as inimizades entre as pessoas. A começar pelo parlamento e entre os partidos políticos com assento, porque apenas juntos podemos encontrar soluções para o país. Impossível, eu disse-lhe, como é que isso poderia funcionar? Com cinco partidos políticos e pelo menos dez opiniões diferentes nunca chegaríamos a um consenso. Como faria, então, o nosso país para poder pagar todas as suas dívidas de uma só vez, e para de 2015 em diante, e em cada ano futuro, poder ter sempre dinheiro suficiente nos seus cofres para enfrentar os seus problemas ecológicos e económicos?
Muito simples, disse ele, dizemos adeus aos nossos interesses particulares e de hoje em diante apenas pensamos no nosso bem comum. Para isso precisaríamos de um sistema fiscal completamente novo e revolucionário, como na altura da revolução. E de nos vermos livres do velho sistema, para concretizarmos os nossos sonhos. Imagine o que aconteceria se não tivéssemos que pagar impostos sobre os lucros, receitas e salários – ou seja sobre o dinheiro, mas sim sobre as emissões de CO2! Nós propusemo-nos limitar as nossas emissões de dióxido de carbono em 3.000 kg por ano, e os cidadãos ao limite definido pelo protocolo de Quioto de 1997, e implementamos estes limites sem compromissos. Não haveria excepções, cada cidadão pagava 1 Euro de impostos por cada quilograma por ano de dióxido de carbono que causasse através da combustão de combustíveis fósseis. Quem emitisse mais de 3.000 kg, pagava 5 Euros por cada quilograma adicional, e cada um que emitisse menos que esse valor, recebia um benefício fiscal de 2 Euros por unidade.
Com esta ideia eu acordei e um novo ano começou. Descubra mais sobre este sonho no jogo on-line www.eco123.info/kyoto
A Tentativa e o erro
Editorial Nr. 07
Eu amo os caminhos na sombra da floresta de pinheiros e sobreiros. Também num olival ou num alfarrobal antigos, que dão aquele toque muito especial às caminhadas. Andamos por eles como sob o musgo. Os caminhos são fofos e o caminhante entra num estado de flutuação. Dá a sensação de que a terra perde a sua força de gravidade e que o homem fica mais leve.
Uma vez eu tinha-me perdido numa caminhada. Virei à esquerda num cruzamento e tinha que seguir em frente. A certa altura o caminho acabou. Em vez de voltar para trás, procurei um caminho através do bosque. Eu queria chegar à pousada na antiga rota dos peregrinos ainda antes do cair da noite. Um certo tempo depois – em que eu progredia muito lentamente e muitos espinhos me rasgavam as calças – apercebi-me de que o caminho me levava até uma estrada de alcatrão onde circulavam automóveis para cima e para baixo. Certamente tinha virado no caminho errado.
O que fazer? Voltar para trás e perceber que todo o esforço tinha sido em vão? Entrar na estrada de alcatrão e prosseguir? Eu continuei pela beira da estrada de alcatrão e achei que era perturbante o ruído dos automóveis e o odor dos gases de escape. Cheguei à aldeia e à pousada ao final da tarde.
No ano seguinte percorri o caminho a segunda vez. Fui ter ao mesmo cruzamento e tinha que fazer uma escolha. Desta vez segui em frente. O caminho levou-me até um curso de água, onde as aves faziam o seu ninho nas faias, os rouxinóis cantavam, as raras orquídeas silvestres cresciam e o meu caminho era de sombra. Eu segui pelo curso de água acima, contra a corrente, e encontrei um lugar para descansar. E adormeci.
E aí sonhei com uma vida em que era possível voltar para trás e reparar todos os erros que tinha cometido ao longo de uma vida prolongada. Pelo menos no sonho eu percebi que tinha que voltar atrás, até ao ponto onde me tinha perdido, para daí por diante tomar a direcção certa.
Tenha coragem.
Editorial Nr. 06
No que podemos utilizar as mãos? Com elas podemos fazer muito mais do que enviar um SMS, usar o teclado do computador ou encher o depósito do automóvel na estação de serviço mais próxima. Poderíamos, com as nossas mãos, fazer jardinagem, construir, semear e colher. E, pelo caminho, ficar um pouco mais habilidosos.
Até aprender a pensar por nós próprios, e treinar o nosso conhecimento e acção prática, começa sempre no âmbito local, muitas vezes em casa, com a família ou os amigos. Pessoas com as quais temos uma relação, e coisas que começamos a fazer por prazer e que tomamos em mãos, muitas vezes são as que levamos a bom termo. Agir com a seriedade adequada, criar uma horta, ou plantar uma árvore – e levar isso tudo a sério.
Quem define valores e objectivos positivos para as suas acções diárias, esclarece o que faz e o que não faz por dinheiro. Regras que nos ajudarão a viver e a trabalhar com significado. Se aprendêssemos a agir com autenticidade nas escolas, universidades e no local de trabalho, e integrássemos a natureza nesse processo, poderíamos mudar o nosso mundo para melhor, estando preparados para defender as nossas convicções.
Nada pode funcionar se sete biliões de pessoas apenas quiserem ter sempre mais, e cada um apenas se esforce para enriquecer o mais depressa possível à custa dos outros. Quem se preocupa com o planeta Terra e com os seus concidadãos, e partilha com justiça os frutos do trabalho, vive uma vida muito mais feliz.
Desta vez, os redactores da ECO123 contam histórias sobre alimentação saudável e sobre a transição de uma sociedade dependente do petróleo para um Portugal regenerativo de âmbito local. Isto inclui uma entrevista com Rob Hopkins, fundador do ‘Movimento de Transição’, e um encontro peculiar em Lisboa com o Ministro da Economia, Dr. António Pires de Lima.
A terra é bela
Editorial Nr. 05
Todos nós encontramo-nos numa longa viagem na infinidade do espaço e do tempo: sete mil milhões de passageiros do planeta azul. A nossa nave espacial é, sem qualquer questão, a mais bela estrela no universo. Ela recebe a sua energia da radiação solar e dos ventos da atmosfera. Este azul surge quando a luz solar atinge a atmosfera do nosso planeta, quando o céu e a terra se unem. O planeta azul é cercado por véus que turbilhonam lentamente. Com o pano de fundo do universo, a nossa pátria redonda orbita o sol com 29,78 km por segundo, enquanto gira lentamente em torno do seu próprio eixo. O contraste entre o azul da terra e o vazio negro do espaço com a sua profundidade infinita é perfeito. De forma única, o nosso planeta azul flutua no espaço com todo o seu frio esplendor de estrelas. Frágil, delicada e vulnerável é a nossa vida aqui na terra com as suas montanhas, vales e florestas, as aldeias e cidades, os mares e rios, a atmosfera, as nuvens e a luz. Só quando nos dermos tempo para analisar melhor o nosso biótopo, iremos perceber a bonita casa que o nosso planeta nos oferece. Olhando profundamente para esta casa percebo que a atmosfera, as massas de terra e oceanos formam um habitat maravilhoso e único, uma biosfera que me permite respirar e viver. Eu reconheço que todos os sistemas estão interligados. Só uma vida sustentável em harmonia com o nosso planeta terra garante uma vida futura em paz. Com admiração, humildade e reverência, contemplo a beleza da nossa nave espacial, antes de começar o meu dia de trabalho. Vejo-me confrontado com uma decisão fundamental. Quero continuar a ser parte do problema ou tornar-me-ei parte da solução?
Por detrás de cada problema há uma oportunidade*Editorial Nr. 04
O negócio de explorar a natureza cresce vertiginosamente. Seja carvão, petróleo, ouro, prata ou outros metais preciosos, tudo é retirado da terra, inclusive florestas, árvores e madeira. Em Portugal são plantadas florestas inteiras, mas apenas para voltarem a ser cortadas e convertidas em dinheiro. Quanto custa uma árvore? Actualmente, um tronco de eucalipto com dez anos é comercializado a 5€. É o que um proprietário florestal recebe da fábrica de papel quando o camião descarrega em Setúbal ou Aveiro: 40€ a tonelada de peso, cerca de 1.000€ por carregamento – mais ou menos. No ano passado, a Portucel/Soporcel produziu cerca de 1,6 milhões de toneladas de papel e 1,4 milhões de toneladas de celulose, e com isso arrecadou pouco menos de dois mil milhões de euros.
E o que nos dizem exactamente estes números? Nos balanços das empresas não estão (ainda) incluídos os custos da poluição do ambiente e da água, as alterações climáticas e os danos causados pelos incêndios florestais, etc. Este bumerangue vai regressar contra nós.
É indiscutível que o eucalipto é co-(ir)responsável por uma grande parte dos incêndios florestais. Nesta edição, a ECO123 foca-se em como poderiam ser evitados os incêndios florestais. Inquirimos mais de uma dúzia de pessoas afectadas. Porque quem procura soluções, também encontra algumas.
Torne-se ECO. O que retiramos da terra e o que lhe devolvemos – e não estou a falar do lixo nos aterros – vai manter-nos cada vez mais ocupados no futuro. Mas o foco das nossas preocupações serão as emissões de CO2. O website www.eco123.info oferece-lhe agora, com o início do novo ano, uma oportunidade única e exclusiva de fazer uma auto-análise. Jogue CiO2 (Quioto) e abra a sua conta bancária na ECO123. Curioso? Então, boa leitura…
* Galileo Galilei
Ficar no prumo
Editorial 03
Cada um de nós pode dar o seu contributo, para proteger o ecossistema no qual vivemos. Por isso entendo que conservar o fundamento da existência deve ser uma prioridade. O quão urgente a situação é, revelam os períodos de seca e as inundações desastrosas dos últimos dois anos, assim como as ondas de calor, os incêndios florestais e os danos económicos e ecológicos daí resultantes. Mas apesar das esmagadoras provas, actualmente a maioria dos humanos não parece estar preparada para reduzir o seu impacto negativo no ecossistema, procurando caminhos aceitáveis de lidar com os recursos do nosso planeta. Quase todos nós moldamos a nossa vida como se os recursos do nosso planeta fossem inesgotáveis. Por isso a mobilidade é um tema desta edição.
Precisamos mudar os nossos hábitos e a ECO123 apresenta soluções. Para além disso, gostaria de introduzir daqui em diante uma viragem para a nossa revista e para todos os envolvidos. Em qualquer trabalho jornalístico (notícias, entrevistas, reportagens, etc) sobre o qual investigamos, deve ser visível o impacto positivo no ecossistema. Concretamente isso significa que uma das prioridades no nosso trabalho é evitar emissões nocivas. Por isso, e por exemplo, evitamos andar de avião ou a mobilidade individual, que estão associadas à queima de combustíveis fósseis. Gostaria de lhe pedir que, se tiver mais sugestões para partilhar, que as colocasse no centro da nossa discussão.
Não basta escrever e despertar a consciência sensível dos leitores, se nós enquanto jornalistas fazemos exactamente o contrário. Todos devemos estar conscientes de que cada um de nós pode e deve fazer algo de concreto. Eu estou perfeitamente consciente de que o futuro exige que dispensemos o consumismo e o desperdício. Por isso, a partir de hoje, no final de cada trabalho jornalístico, publicamos uma infobox que fornece informações sobre a quantidade de emissões de CO2 geradas durante a investigação e produção de um trabalho jornalístico. Para além disso, gostaria de dar o exemplo de um perfil transparente, em que cada um de nós torna público o seu próprio balanço energético a partir de 2014. O objectivo é implementar o Protocolo de Quioto na redacção: reduzir as emissões anuais de dióxido de carbono para um máximo de 3.000 kg por pessoa.
Aspirações e realidade devem estar em sintonia. Se você, caro leitor, quiser ir por esse caminho connosco, poderá registar-se online em www.eco123.info
A força das palavras
Editorial 02
Muito obrigado por ler a ECO123. Sabemos que escrever bem ou criticar já não chegam por si só. Quem tem algo a dizer hoje para o dia de amanhã, tem que oferecer mais. Precisamos de melhorias, alternativas e soluções que, especialmente nos períodos mais difíceis, no mau tempo, resistam a uma tempestade e simplesmente não sejam levadas. Constatar isso diz-nos particular respeito a nós, jornalistas. Precisamos estar cientes do efeito de cada palavra que colocamos no papel.
Portugal não é o único país em crise profunda. Vezes sem conta, esta é associada a dívidas, aumento dos impostos e cortes nos apoios sociais. Mas essa é apenas uma metade da verdade. Porque na realidade, não temos apenas falta de dinheiro. O que falta é um conceito de futuro ecologicamente sustentável para um sistema decadente, na bancarrota. Um sector bancário que só conhece a ganância e o lucro, vai acabar por deteriorar-se. Burocracia inútil, que não produz mais nada senão leis e regras sem sentido, bloqueia toda a eficiência de uma economia. Uma agricultura que opera de modo industrial não pode ter como finalidade a saúde das pessoas…
Como em Portugal o tema central é sempre mais dinheiro, e a maioria dos jornalistas limita-se a produzir notícias sem utilidade, a maior parte das discussões termina num beco sem saída. Todos nós precisamos falar sobre ética, sobre transparência, sobre o sentido mais profundo das transacções financeiras. Precisamos também pensar juntos sobre como é importante reduzir e reformar a burocracia para benefício da sociedade. Além disso, Portugal precisa de uma agricultura onde a criação massiva de animais e as monoculturas sejam proibidas, assim como garantidos o respeito e a dignidade dos animais e da natureza.
A ECO123 abre espaço para o jornalismo sustentável. Falamos de pessoas, analisamos factos e pensamos nas coisas até ao fim. Nas próximas páginas poderá ler quais os caminhos para sair da crise que nos trazem confiança, prosperidade e valores sustentáveis.
Vencer. Vencer.
Editorial 01
Quando os tempos são difíceis, a palavra “confiança” assume um significado muito especial. A pessoas unem esforços e reflectem nas suas próprias virtudes humanas.
Quando os tempos são difíceis, contar histórias é uma arte. Se os políticos confiassem em nós e nós neles, não lhes seria difícil dizerem-nos o que obtemos com os muitos impostos e deduções que pagamos, não é? A criação de um emprego com significado, que preserva o mundo natural e os seus recursos, que tenha em conta as capacidades de cada indivíduo… isto seria uma boa história. Não seria possível todos criarmos um emprego significativo mas trabalhando menos? Fará sentido em termos económicos e ecológicos, e será socialmente justo, pagar subsídios a milhões de desempregados todos os meses, enquanto outros têm de trabalhar arduamente por recompensas irrisórias? Imagine que acorda de manhã com uma ideia brilhante e quer colocá-la na prática. Não pense logo no dinheiro que necessita… reflita bem nela e transforme-a em algo realmente bom. Nas páginas seguintes, a ECO123 vai contar-lhe uma história sobre como os seus sonhos, mesmo quando os tempos são difíceis, se podem afinal concretizar.
Comecemos por tomar controlo das nossas vidas. Vamos redefinir conceitos como “prosperidade” e “crescimento”. Queremos um local agradável para viver, nutrição saudável, menos trabalho para todos, negócios e comércio justos, moda ecológica, energia e mobilidade limpas, agricultura sustentável e muito, muito mais. A ECO123 conta histórias de sucesso e está interessada apenas em soluções. Pode adquirir a ECO123 a 21 de Março, Junho, Setembro e Dezembro no seu quiosque – ou ONLINE em www.eco123.info e como ECO-TV.
Embarque connosco na busca de um novo modo de vida.