Solar Impulse, a volta ao mundo com energia solar
Voar sempre foi um sonho da humanidade, para poder observar o mundo em que vivemos como um pássaro. Mas os inícios foram difíceis, quando os irmãos Wright, no princípio do século XX, puseram no ar o seu primeiro planador, e, mais tarde, o avião a motor. Nessa base, nos últimos 100 anos a aeronáutica tornou-se num dos maiores ramos comerciais com as mais altas emissões de CO2. Hoje, estamos muito provavelmente perante uma nova revolução da aeronáutica – sem CO2.
SolarImpulse 1
SolarImpulse é uma companhia suíça que foi fundada no ano 2003 por Bertrand Piccard. Estabeleceu como objectivo a construção de uma aeronave movida a energia solar. Depois de uma longa procura de investidores, de escrupuloso desenvolvimento e muitos voos virtuais, o SolarImpulse 1 (HB-SIA) foi o primeiro avião do género com uma envergadura de 63,4 m e 12.508 células solares nas asas. Pesava apenas 1600 quilogramas e foi operado através de baterias de lítio-polímero e quatro motores eléctricos. Inicialmente foram efectuados apenas voos de teste no interior da Suíça. O teste de maturidade do SolarImpulse 1 veio no ano passado com a travessia dos EUA em seis etapas da costa oeste à leste. A ECO123 fez um relato exclusivo.
Os Pilotos
SolarImpulse 2
Na Primavera foi apresentado em Payerne, Suíça, o protótipo da aeronave SolarImpulse 2 (HB-SIB) e o projecto de circum-navegação aérea. Bertrand Piccard mostrou à ECO123 o novo modelo no hangar: “Se no SolarImpulse 1 ainda tínhamos a tecnologia de ontem, hoje temos no SolarImpulse 2 a de amanhã. Instalámos os mais eficientes e potentes motores eléctricos, a mais simples construção tipo favo, e os elementos do cockpit que menos energia consomem. Piccard dá como exemplo o novo receptor de satélite que presentemente pesa 15 quilos regulares, e cujo peso poderia ser reduzido para apenas cinco quilos. “Nós poderíamos usar o SolarImpulse 1 como laboratório de teste voador, para recolher informação e acumular experiência suficiente para podermos construir uma aeronave com a qual pudéssemos dar a volta ao mundo”, acrescenta André Borschberg numa visita conduzida. Também externamente são nítidas as diferenças em relação ao modelo anterior. A aeronave é cerca de dez metros maior e atinge uma envergadura de 72 metros. Pesa 2,3 toneladas. O cockpit, ao contrário do modelo anterior, é uma cabine pressurizada, o que proporciona ao piloto uma maior protecção das condições exteriores. A aeronave é um laboratório voador de alta tecnologia. Uma nova camada de fibras de carbono faz com que o peso diminua para 25 gramas por metro quadrado. Para efeitos de comparação, o papel que você agora está a ler tem 80 80g/m². As células solares são apenas tão espessas quanto um fio cabelo. O cockpit, bem como as baterias com uma densidade de energia de 260Wh/kg são revestidos com a mais recente e altamente isolante camada térmica para resistir às temperaturas exteriores de -40 °C até +40 °C.
Apesar de todo dispositivo técnico sofisticado e integrado na e em torno da aeronave, existem ainda dois grandes factores de risco! A cabine onde o piloto se senta sozinho na sua poltrona tem apenas 3,8m³. Nela ele deverá dormir, alimentar-se, beber, fazer exercícios físicos, e, naturalmente, também pilotar. Uma vez em viagem pelo mundo, sempre rumo ao sol, o SolarImpulse 2 deverá pousar em vários lugares para se dar a conhecer e passar a mensagem do voo com energias renováveis. E terão que atravessar dois grandes oceanos. Estas duas etapas sobre o Pacífico e o Atlântico estão projectadas para durarem entre três a cinco dias e noites seguidas, o que poderia conduzir a dois problemas graves. Como estará o estado do tempo sobre o meio do oceano e como o piloto conseguirá suportar o esforço físico de passar entre 3 a 5 dias seguidos acordado, para pilotar a aeronave em segurança?
Bertrand Piccard: Nós temos duas seguranças. Primeiro temos uma equipa em terra, que lida com as condições meteorológicas e realiza simulações de condições atmosféricas. Isso permite prever muito bem o estado do tempo. Em segundo lugar, não temos limitações com combustível. Nós podemos voar para sul ou norte e evitar condições meteorológicas adversas.
ECO123: Até que ponto o Solarimpulse 2 tem capacidade de adaptação a condições meteorológicas adversas como SI1, para garantir a integridade física da aeronave e dos pilotos?
Bertrand Piccard: Adaptar-se ainda mais às condições meteorológicas adversas não ajuda. Talvez seja exactamente o contrário. Quando nós, nomeadamente, voámos sobre Payerne com o primeiro protótipo, conhecíamos as condições meteorológicas. Agora, voamos sobre o Pacífico e aí o estado do tempo pode ser bem mais imprevisível. Mas temos também muito melhores possibilidades de simular o percurso e o estado do tempo em terra. E, naturalmente, o piloto tem a possibilidade de sobreviver cinco dias e cinco noites nesta aeronave. E para além disso, na aeronave existe ainda espaço suficiente para levar a balsa de salva-vidas.
ECO123: Como se prepara psicológica e fisicamente para o longo voo?
André Borschberg: Nós treinamos ambas. O Bertrand e eu já tínhamos estado em Dezembro passado e há um ano atrás, durante 72 horas ininterruptas no simulador de voo. Assim treinámos o voo, mas também o relaxamento, para nos regenerarmos e nos mantermos em forma durante o voo. É uma combinação de exercício físico e mental. Eu pratico o Yoga e meditação e o Bertrand usa a auto-hipnose nele próprio. Naturalmente que a tripulação em terra está sempre de olho em nós através do sistema de gestão da saúde.
O SolarImpulse 2 sairá na Primavera de 2015 do Golfo Pérsico para a Índia e China, atravessará o Pacífico até à América, e depois o Atlântico até à Europa, e regressa novamente ao Golfo Pérsico. Os dois pilotos têm em vista fazer uma escala em Portugal (Beja). Ao todo estão planeadas dez etapas ao longo de cinco meses, nas quais os dois se vão revezando nos comandos do aparelho, e querem percorrer mais de 35.000 quilómetros em cerca de 500 horas de voo.