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Limites planetários

Sábado, dia 23 de setembro de 2023.

Pela primeira vez, uma equipa de investigação internacional quantificou os nove limites de stress planetário que, em conjunto, definem um espaço operacional seguro para a humanidade. As cientistas e os cientistas fornecem, assim, uma panorâmica pormenorizada da resiliência cada vez menor do nosso planeta. Aquecimento global, biosfera, desflorestação, poluentes como os plásticos, ciclos do azoto e água doce: seis dos nove limites planetários já foram ultrapassados. Ao mesmo tempo, continua a aumentar a pressão dos processos globais sobre estes limites. É o que demonstra um novo estudo publicado na revista Science Advances por cientistas do Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto Climático (PIK, Alemanha).

“Esta atualização geral dos Limites Planetários mostra claramente: a Terra é um paciente que não está nada bem. A pressão sobre o planeta continua a aumentar, resultando na transposição dos limites vitais de stress. Não sabemos por quanto tempo poderemos exceder limites cruciais como estes antes que os efeitos conduzam a alterações e danos irreversíveis”, afirma Johan Rockström, coautor do estudo e diretor do PIK.

A segunda atualização das Fronteiras Planetárias desde o seu lançamento, em 2009, fornece agora, pela primeira vez, uma revisão completa dos nove processos e sistemas que, em conjunto, determinam a estabilidade e a resiliência do planeta. Embora a ultrapassagem de uma fronteira não implique mudanças drásticas imediatamente visíveis, marca, contudo, um limiar crítico para um aumento significativo dos riscos. A autora principal, Katherine Richardson, da Universidade de Copenhaga, explica: “Podemos pensar na Terra como um corpo humano e nas fronteiras planetárias como uma forma de tensão arterial.” Uma tensão arterial superior a 120/80 não significa um ataque cardíaco imediato, mas aumenta o risco. É por isso que estamos a trabalhar no sentido de baixar a pressão arterial. O valor-limite para a destruição da camada de ozono, por exemplo, ainda não foi ultrapassado globalmente, mas é-o, cada vez mais, regionalmente. Embora seja, ainda, o caso da Antártida, já se registam sinais de melhoria – graças às iniciativas globais alcançadas através do Protocolo de Montreal”.

Para além do clima: o que há de novo na Segunda Atualização dos Limites Planetários 2023?

Pela primeira vez, foi quantificado o limite para as “novas entidades” (‘introdução de novas substâncias’). A avaliação mostra que esse limite foi ultrapassado. As novas entidades incluem a introdução de todos os novos compostos químicos produzidos pelo homem no ambiente, por exemplo, microplásticos, pesticidas ou resíduos nucleares. O limite para a água doce refere-se agora tanto à chamada água “verde” (contida nos solos e plantas agrícolas e naturais), como à água “azul” (a água dos rios, dos lagos, etc.). Ambos os limites foram ultrapassados. Como novidade adicional, foi introduzida uma nova variável de controlo para o limite do funcionamento (integridade) da biosfera no sistema terrestre. Também neste caso, a análise revelou uma ultrapassagem que já existe desde finais do século 19, altura em que a agricultura e a silvicultura se expandiram fortemente a nível mundial. A equipa de investigação sublinha que a resiliência do planeta depende de muito mais do que unicamente das alterações climáticas.

A par das alterações climáticas, o funcionamento da biosfera é o segundo pilar da estabilidade do nosso planeta. E, tal como acontece com o clima, a humanidade está atualmente a desestabilizar este pilar, extraindo demasiada biomassa, destruindo demasiados habitats, desflorestando demasiados terrenos, etc. A investigação mostra que, no futuro, os dois devem andar de mãos dadas: limitar o aquecimento global e manter uma biosfera funcional.

Olhar para o sistema terrestre como um todo

“A ciência e a sociedade estão extremamente preocupadas com os sinais crescentes do enfraquecimento da resiliência do planeta, como evidenciado pela ultrapassagem dos limites planetários. Isto aproxima os potenciais pontos de rutura e reduz as hipóteses de ainda nos mantermos dentro do limite climático planetário de 1,5°C”, conclui Johan Rockström, Diretor do PIK. “Paralelamente, é um verdadeiro avanço o facto de que se tenha agora quantificado cientificamente o espaço operacional seguro para a humanidade ao cimo da Terra. Isto faculta-nos um guia para as ações necessárias e fornece o primeiro panorama completo da capacidade do nosso planeta para absorver as pressões que criamos. Ter este conhecimento à nossa disposição é uma excelente base para se proteger, recuperar e restaurar a resiliência do nosso planeta, passo a passo, através de esforços mais sistemáticos.”

+ informações: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.adh2458

Uwe Heitkamp (62)

jornalista de televisão formado, autor de livros e botânico por hobby, pai de dois filhos adultos, conhece Portugal há 30 anos, fundador da ECO123.
Traduções: Dina Adão, John Elliot, Rudolfo Martins, Kathleen Becker
Photos:dpa

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