Sábado, dia 9 de decembro de 2023.
No sábado, 25 de novembro, a Cooperativa Coopérnico realizou a sua assembleia eleitoral para eleição dos corpos sociais, em Lisboa, para os próximos quatro anos e, logo a seguir, uma Assembleia Geral Extraordinária, para discussão e aprovação do plano de atividades e orçamento para 2024. Este dia foi, também, particularmente significativo na medida em que se comemoravam os dez anos de vida da cooperativa.
Após o ato eleitoral, quando os participantes se deslocaram até ao auditório, houve um momento particularmente emotivo, com a despedida do presidente da direção que se encontra no cargo desde o início, Nuno Brito Jorge. Pelo facto de viver há três anos em Barcelona, tinha estado nos últimos anos a fazer a gestão da cooperativa à distância. Este afastamento teve origem em razões profissionais, mas diria que também pessoais, dado que a esposa é catalã. Esta dificuldade operacional, juntamente com a sua retirada, embora se mantenha num conselho consultivo, levou-o a recordar e homenagear todos aqueles que mais se dedicaram à Coopérnico nos seus dez anos de vida. Conforme se pôde constatar, o grupo fundador permanece coeso e incorporou ao longo do tempo mais pessoas empenhadas.
A Coopérnico tem, neste momento, onze pessoas a trabalhar em vários departamentos, embora a maioria também acumule com a comercialização, tendo em conta o momento do mercado em que muitas pessoas aderiram à cooperativa, devido ao preço praticado, sem sequer conhecer os princípios orientadores, sendo nesta Assembleia frisado que uma das missões urgentes é tornar esses cooperantes meramente económicos em cooperantes empenhados. Foi ainda focado que, apesar da atividade crescente da Coopérnico, 70% dos custos com os recursos humanos são suportados por Fundos Comunitários. De um modo geral, constata-se que a cooperativa está numa fase de diversificação e crescimento, em que o trabalho de procura de novos cooperantes é árduo pois verifica-se um rácio de 8/1 entre propostas apresentadas e contratos celebrados.
Antes do início dos trabalhos foi possível falar com Miguel Almeida, membro fundador da Coopérnico e que tem acompanhado todo o percurso da cooperativa.
ECO123: Qual foi o momento mais difícil dos dez anos da Coopérnico?
Miguel Almeida: Foi, sem dúvida, em outubro de 2021, quando o preço da energia subiu de modo significativo para nós e, por outro lado, tínhamos contratos de valor fixo com os clientes, o que nos levou até a pedir aos clientes que desistissem de nós, pois não conseguiríamos suportar os custos. Esta incerteza de saber se suportávamos o embate durou algumas semanas.
ECO123: O que pensa do decreto-lei 162/2019? (Lei que estabelece o regime jurídico do autoconsumo tendo estabelecido a modalidade de autoconsumo coletivo e as comunidades de energia renovável)?
Miguel Almeida: A lei corresponde à transposição para a lei portuguesa de regulamentos da Comissão Europeia. Para mim o problema principal da lei prende-se sobretudo com o modo como é feita a leitura dos consumos partilhados, em que a especificação prevista na lei não permite separar por consumidor e consumo coletivo, de modo suficientemente detalhado, fazendo com que, nalguns casos, períodos de não consumo sejam cobrados, prejudicando alguns consumidores em detrimento de outros.