Sábado, dia 9 de março de 2024.
O negócio com os recursos florestais a partir da monocultura de eucalipto foi sempre dominado pelos interesses do grupo “The Navigator-Company”. O proprietário florestal tem ainda a possibilidade de, logo após o incêndio florestal, fazer transportar os troncos queimados da sua madeira de eucalipto para a fábrica de celulose. Nessa altura, a madeira é mais leve, a Navigator-Company aceita-a – paga um preço irrisório e pode ainda, sem problemas, produzir o seu papel.
“Fazer dinheiro” foi sempre um importante objetivo para a The Navigator Company, o “cash flow” tem que estar à altura. Há dez anos, quando se tornou evidente que Portugal seria demasiado pequeno para saciar a fome de madeira de eucalipto da Navigator-Company, o meu gestor de conta, numa das minhas idas ao Banco, chamou a minha atenção para um projeto em que eu poderia investir com resultados lucrativos. Na altura, a Navigator ainda se chamava Portucel AG – mas a empresa mãe mantinha-se a mesma: a SEMAPA, sociedade anónima, que detém 497.617.299 ações da The Navigator Company, o que corresponde a 69,970%, uma maioria de dois terços. O clã da família Queiroz-Pereira, três irmãs, filhas do patriarca, falecido repentinamente na última década, são quem detém a maioria qualificada da empresa, através de participações indiretas. Nessa altura, já o fabricante português de papel, o terceiro a nível mundial, se expandira para Moçambique, onde pretendia plantar ainda mais terrenos com a monocultura do eucalipto, a uma escala industrial. Procuraram-se investidores a quem se oferecia uma taxa de juro até 5% para subscrição de títulos de dívida acima de 150 milhões de euros. Os dois bancos, BPI e Barclays, angariaram o dobro do montante em dinheiro, 300 milhões de euros.
A empresa é atualmente o terceiro maior exportador português, com um valor de exportações de, pelo menos, cerca de um por cento do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de 2,4 por cento do total das exportações de bens do país, e mais de 30.000 postos de trabalho, diretos e indiretos. É também o exportador português com o maior valor acrescentado nacional, refere o BEI (Banco Europeu de Investimento). A Navigator, em 2021, registou um volume de negócios de 1,596 mil milhões de euros. Mais de 90% dos produtos do grupo são vendidos para fora de Portugal e exportados para cerca de 130 países. Isto coloca-a ao mesmo nível da Amorim, empresa de base familiar, que comercializa cortiça.