Há um quarto de século que observo o mercado livreiro português e consulto as novas edições de ficção e não ficção. A maior parte dos livros das editoras tradicionais são, a meu ver, se me é permitido dizê-lo, bastante entediantes: tanto a escolha dos temas como o estilo e o layout estão ultrapassados. Pergunto-me, por vezes, porque razão tão poucos jovens autores conseguem encontrar uma forma de publicar o seu próprio livro? É nos livros que realizamos as nossas ideias e os nossos sonhos, que contamos as nossas histórias. Os bons livros sempre foram cativantes e inspiradores para outras pessoas – e eram comprados. Mas, para isso, os editores teriam que ser mais propícios ao risco e os leitores mais autênticos. E será que os leitores o são?
Interessam-me cada vez mais as editoras jovens, novos autores e talentos e também as poucas boas traduções de obras do estrangeiro. Como eu próprio vim de fora, de um país em que há uma longa tradição de escrita e de leitura, e vejo o mercado livreiro português como que por uma janela aberta, noto quão pouca informação entra de fora em Portugal. O pensamento das editoras tradicionais está voltado para o passado.
Pergunto-me, pois, se os editores sabem sequer o que move as pessoas e o que querem ler? Quantos bons e jovens autores esperam, em vão, pela oportunidade da sua vida, até porque a cultura em Portugal ainda é elitista. Está aqui o verdadeiro problema. O que noto, como estrangeiro que sou, é que a literatura ainda não chegou ao povo. O futebol sim, a literatura não. Os autores portugueses que me interessam e têm uma história para contar não são editados em Portugal, mas sim nos EUA ou em Inglaterra. Como é possível?
Temos um jovem professor universitário, de nome Gil Penha-Lopes, que também já publicou um ensaio connosco, e que escreve um livro de não ficção muito interessante sobre permacultura (em conjunto com um colega inglês). O livro não está disponível em Portugal. Mas é publicado pela Chelsea Green Publishing, nos EUA. Dedica-se de alma e coração à vida sustentável, e todos nós ganhávamos em lê-lo. Porque é bom, também pelo seu olhar corajoso, e tem viabilidade para o Futuro. Mas este livro só está disponível em inglês. Então porque (ainda) não existe em português? Porque também na não-ficção portuguesa adoram a divagação pelo passado. Para chegar ao presente, os autores têm que se debruçar sobre o futuro.
É nisto que se aplica um segundo livro, o qual eu gostaria de recomendar. É de John Gallo, repórter fotográfico português, premiado na Grã-Bretanha. Começou em 2015 a documentar as consequências dos fogos florestais em Portugal. Metade dos fogos florestais que acontecem na Europa são em terras lusas. E ele pergunta-nos porque é que isto é assim? Como, até agora, nenhuma editora portuguesa se mostrou disponível para investir na ideia deste livro, que tem o título “Floresta Negra”, o fotógrafo colocou o projeto em crowdfunding em www.ppl.com.pt/pt/prj/livro-floresta-negra, para assim conseguir o seu financiamento. Trata-se de sensivelmente 1.000 euros que têm que ser angariados até finais de dezembro. Quem, portanto, quiser disponibilizar 25 euros, recebe o livro assinado pelo autor: uma excelente prenda para bons amigos
CHELSEA GREEN PUBLISHING
www.chelseagreen.com
CROWDFUNDING LIVRO FLORESTA NEGRA
www.ppl.com.pt