ECO é a busca do sentido das coisas. É este o simples assunto que a Volkswagen AG se deveria colocar no momento da crise mais profunda da sua história, em que o pensamento e a forma de agir lineares destroem a economia. As coisas não podem continuar assim infinitamente. Provavelmente, o reconhecimento deste facto irá custar o emprego a milhões de pessoas. E as multas de milhões de euros também não conseguem esconder que todo o setor automóvel se encontra num beco sem saída, e há problemas por resolver. Pagam-se as multas, e depois? Esse dinheiro poderia ser investido de forma mais útil: em postos de trabalho saudáveis e promissores para o futuro. Se queremos projetar uma vida mais sustentável, então que essa vida implique menos gasto de gasolina, menos gases de escape, menos emissões de CO2, menos engarrafamentos, menos acidentes e menos stress. E aí já não se trata de crescimento económico, mas sim de uma espiral decrescente do “cada vez menos“. As soluções radicais que funcionam, começam na cabeça, ou seja, com a simples questão do: para quê isto tudo? Para quê este esforço humano enorme, espiritual e de recursos, somente para garantir a mobilidade no Futuro?* Como poderão deslocar-se 10 bilhões de pessoas, sem ser pelas suas próprias pernas? Há soluções muito simples. Separa-nos um pequeno passo entre o absurdo dos automóveis guiados sem condutor e entre os modernos comboios e autocarros auto dirigidos, em sistemas de transportes colectivos que já temos há tanto tempo e que apenas temos que desenvolver mais. A indústria automóvel dirige-se para a sua mais profunda crise no ponto alto da sua história. Também se trata de uma narrativa. De que recordes havemos mais de falar? Quantos carros é que ainda cabem no nosso planeta? É realmente ironia do destino, tratar-se exatamente da mesma Volkswagen AG que em 1970 financiou o estudo do Clube de Roma feito pelo MIT** sobre “Os limites do crescimento”.
A ECO faz parte da solução, e não do problema, e por isso a ECO123 não irá participar no “Greenwashing” do Greenfest em Lisboa. Claro que os patrocinadores são sempre parceiros importantes de um negócio, mas porque é que os organizadores convidam a Volkswagen e a Portucel/Soporcel, e não a CP, CARRIS e TESLA? Precisamos de uma visão e de um caminho simples para a alcançar. Há muito tempo que os produtores de automóveis (e não só) se decidiram pelo caminho do “sempre mais”. Seguiram por esse caminho, e não só perderam a sua meta de vista, como se perderam durante o percurso. É como um caminhante, que se perde apesar do GPS. Tem que voltar para trás, até ao entroncamento, e escolher o outro caminho, o caminho certo para a sua meta. O futuro de Portugal não se baseia em petróleo, gás ou carvão, e também não se baseia em eucaliptos e na pecuária industrial e cruel, e muito menos no turismo de massas. Na busca do sentido temos que voltar a sentir a terra sob os pés, numa vida autêntica na sua velocidade original. E esta corresponde, conforme o terreno, a uma deslocação de três, quatro ou cinco quilómetros por hora. Quem se quiser reorientar, é melhor que deixe o carro parado e vá fazer uma caminhada. Ao caminhar, aguçam-se as ideias. Respirar fundo na floresta, sentir o corpo, absorver oxigénio intensamente, e em compensação, emitir menos dióxido de carbono. Quem caminha, sente-se a si próprio. O caminhar equilibra-nos e viagens de caminhadas (sem avião) significam, simultaneamente, proteção do clima e ocupação de tempos livres. E, o nosso país poderia ser um paraíso se se substituísse o eucalipto por florestas com diversidade.
* Ulrich Grober, Publikation: Der leise Atem der Zukunft, Editora Oekom, Munique
*Cambridge/Massachusetts Institute of Technology