Voar, andar de carro, comer carne e enchidos, são estes alguns dos fatores mais agravantes do “balancete” ecológico de uma pessoa. Como consegue explicar às pessoas que menos pode ser mais?
Prescindir do carro também significa sempre uma redução do stress, pelo menos na cidade. E quem muda do carro para a bicicleta melhora a pegada e chega mais descontraído ao seu destino. É óbvio que, quem faz um voo até à Nova Zelândia, contabiliza muito CO₂. O que se poupa num voo, reduz significativamente a pegada ambiental.
A experiência já decorre há nove meses. Como conseguir os 40% de redução?
A média de um alemão é de cerca de 11,5 toneladas de CO₂ por ano. Claro que também temos participantes que, logo à partida, eram responsáveis por muito menos do que isso, por oito toneladas por exemplo, visto não voarem ou viverem uma vida simples. Nesse caso, não se consegue reduzir mais 40%. Se alguém tem 16 ou 20 toneladas, tem mais facilidade em poupar cinco toneladas do que quem parte de oito. Fazemos continuamente medições e, no caso daqueles que tinham oito toneladas, e reduziram para sete, também é um sucesso, são até 20%, por já terem poupado muito, nisto e naquilo, anteriormente. Houve pessoas a dizer que este ano não iriam voar nas férias, e que passaram as férias em Brandemburgo. Nós passámos do carro para a bicicleta. Houve outros que se empenharam no que toca ao consumo e outros mudaram de fornecedor de eletricidade para outro que fornece eletricidade ecológica. Outros há que alteraram a programação do aquecimento, o que também contribui com alguns quilos. Há diversas estratégias. Depende da situação profissional. Há vários caminhos e todos têm resultados.
E há diálogo regular com os participantes? Quais são os valores que se destacam mais?
Os participantes introduzem os seus valores todas as semanas. E nós medimos a pegada ambiental semanalmente com o rastreador climático ONLINE. Acabámos, há pouco, de fazer um inquérito. Há pessoas que sobem o número de refeições vegetarianas durante uma semana para experimentar o que conseguem poupar com isso. Também é relevante a questão da compra de bens mais duradouros ou questões como a compra de uma calças para a chuva quando chove. Porque depois notamos que nem chove assim tanto e as calças são desnecessárias. De destacar é que notámos que o carro fica mais vezes na garagem. Muitos participantes vivem novas experiências, a nível psicológico, durante o teste. Não conseguem imaginar uma situação, para depois serem convencidos pelos filhos a fazer a experiência. O aquecimento e a eletricidade têm relevância. Não nos podemos esquecer que a Alemanha é um país frio na Europa. Mas os voos de avião estão no topo.
O projeto também nos transmite isso. Claro que se pode fazer algo na vida pessoal, e voar menos, e uma poupança de 20% também não é pouco, mas é uma questão política. Os custos reais dos voos têm que ser cobertos por um imposto sobre as emissões ou algo do género. Há uma dimensão política que para nós é imprescindível. Qual a opinião dos participantes no teste? Querem menos ou mais medidas políticas para o clima, mesmo se eles pouparem algo? E a resposta no nosso caso é: mais medidas políticas para o clima. No Japão colocaram a mesma pergunta e a resposta foi, menos medidas políticas para o clima.
Mas não pretendem chegar às sete ou oito toneladas de CO2 por ano, mas sim a uma ou duas toneladas de CO2. Como conseguir alcançar a neutralidade climática?
Trata-se de chegar a uma tonelada de CO₂ por pessoa e ano para cumprir a meta para o clima de Paris, mais 1,5 graus centígrados, até 2050. Mesmo se tivéssemos conseguido poupar 40% num ano, não podemos continuar da mesma forma no ano seguinte, porque chegámos a um ponto em que se esgotaram as possibilidades que uma pessoa tem por si só. É aqui que entra a sociedade e a política. Por isso é que, para nós, é importante a mensagem de que a proteção do clima é uma tarefa para a comunidade. Outra mensagem do nosso teste é ainda que não é um projeto político, é algo que uma parte da população quer mesmo, independentemente da vontade política. Uma prova disso consiste no facto de seis famílias terem processado a Comissão Europeia perante o Tribunal de Justiça da União Europeia, por quererem uma política para o clima mais severa. Um agricultor peruano processou o maior emissor de CO₂ da Europa, o produtor de eletricidade RWE, por este, com as suas centrais a carvão, colocar em risco a vida da sua família. O cidadão pode, não só poupar, mas também processar ou juntar-se a alguma iniciativa, ou votar contra um governo. Trata-se de ir além da mera redução da própria pegada ecológica.
O que significa que o produto alimentar AR também é uma questão política?
Produto alimentar? Sim. É isso. O ar é um bem público sem o qual não vivemos nem mais cinco minutos, mas que para fins privados serve de aterro para tudo e mais alguma coisa, seja as micropartículas do gasóleo, etc., etc. … sempre com a esperança de poder exteriorizar o problema. Tem que ficar claro que o ar é um bem comum, ao qual todos têm direito, e que só pode ser afetado de modo a que não seja danificado irreparavelmente. É por isso que existe a meta dos 1,5 graus. Ela até admite que podemos poluir o ar até um certo grau. Mas o aquecimento é poluição. E ele significa o fim dos corais. Estamos a contar com isso. As consequências já são nitidamente visíveis, em alguns casos já são mais do que nitidamente visíveis.
Quem são os parceiros neste projeto?
Trabalhamos em conjunto com muitos parceiros, e também com uma empresa de TI, que nos disponibiliza os rastreadores e as bases de dados. O Instituto Nacional do Ambiente (Bundesumweltamt) também disponibiliza o seu calculador anual. É bastante complexo calcular, por exemplo, quanto CO₂ emite a produção de um detergente. Calcular a pegada de um produto custa cerca de 10.000 euros. Imagine agora a quantidade de produtos que tem um supermercado nas suas prateleiras. Como calcular a pegada de um detergente? Fazemos pesquisa, e temos vários parceiros a trabalhar connosco. No caso dos alimentos isto é mais difícil do que no voo ou no caso da energia. Nesse caso, trabalhamos com o BUND, eles oferecem consultadoria para a poupança de energia. Há alguém que vai a sua casa para fazer os cálculos e verificar onde é possível poupar, tanto em CO₂ como em euros. O apoio ao consumidor também tem esse serviço, e é gratuito. Na nossa página web temos uma Newsletter com muitas dicas.
Quem são os participantes?
Os participantes do teste comunicam entre si no nosso blogue. Há alguns que são muito poupados e consomem menos do que 20 euros por semana. Mas também há pais, empregados e com dois filhos, que pertencem ao segmento com mais rendimentos, mas que se querem empenhar na proteção climática. Como sociólogo, agrada-me muito esta diversidade. Temos solteiros, famílias e também pessoas que partilham casa, jovens e reformados. De tudo um pouco.
E de futuro?
Depois deste ano, o projeto possivelmente irá continuar. Neste momento, o teste é em Berlim. Mas, perguntamo-nos como seria possível aplicar isto em toda a Alemanha ou na Europa, e também numa região rural. E, como seria possível dar continuidade a um projeto destes, com parceiros particulares e empresariais, no caso do Ministério deixar de o financiar. Aliás, pensamos que um calculador para o clima, como aquele que usamos, possa ser incluído em produtos comerciais, com o intuito de que cada pessoa, a qualquer momento, saiba, quanto contribui para a proteção do clima.
Muito obrigado.