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Portucel

A vida errada não pode ser vivida com razão…

Os jornalistas recolhem informações para contarem uma história. Esta história começa na manhã de uma terça-feira de Outubro, cedo, com uma viagem até à estação de comboios. A chuva cai grossa, e os faróis do automóvel ligeiro mergulham a estrada de Monchique até Santa Clara numa luz difusa. O vento bate no chassis. Uma curva após a outra conduz a estreita Estrada Nacional 266 através da floresta de eucaliptos e as montanhas para norte: uma viagem interminável e solitária através da natureza industrializada. Um jornalista pretende apanhar o comboio da manhã para Lisboa, onde quer encontrar-se com o responsável pelo gabinete de apoio ao investidor da sociedade anónima Semapa SGPS. José Miguel Paredes está estabelecido na Avenida Fontes Pereira de Melo, Nº 14, 16º andar. A ECO123 investigou sobre as ligações existentes entre o crescimento da indústria do papel, através da exploração do recurso eucalipto, e a propagação de incêndios florestais. A questão é: o que deve e o que pode Portugal fazer para evitar nos próximos anos os incêndios florestais?

Portucel entrada de eucaliptusNo Alfa Pendular. Com uma emissão de CO2 de apenas quatro quilogramas, o jornalista deixa o sul do país a deslizar a uma velocidade de 220 km e recapitula. Há alguns dias atrás ele tinha ido buscar o seu velho fato ao roupeiro e certificar-se se ele ainda serviria para esta missão. Precisava de um fato em perfeitas condições que lhe assentasse bem, porque iria pôr-se no papel de investidor rico. Um teste, com o qual ele contava para poder ter melhores oportunidades de recolher informações. Porque quem, como jornalista, tenta marcar uma entrevista com o presidente de uma empresa portuguesa cotada em bolsa, precisa cumprir as obrigatórias formalidades, possuir boas relações com uma dúzia de famílias influentes e submeter as suas questões previamente por escrito – ou será rejeitado. Os jornalistas bons e independentes em Portugal não têm vida fácil. Demasiados jornalistas ainda continuam a pactuar com os poderosos, e são tão receptivos a prendas como a grande maioria dos políticos nos parlamentos.

 

Há mais de 30 anos que investigo e escrevo incorruptivelmente, e tenho consciência que o jornalismo de investigação balança sempre na margem da legalidade. Mas quem não arrisca, sai derrotado. Em simultâneo, uma segunda equipa tenta obter informações pela via convencional, através do gabinete de imprensa. Eu fiz uma aposta com eles. Tinha a certeza que por essa via chegaríamos ao final do dia de mãos a abanar para o fecho de edição. Eu queria entrevistar o presidente do Conselho de Administração da Semapa SGPS, o senhor Pedro Mendonça de Queiroz Pereira. Queria saber se se justifica a sua escolha de “eucaliptar” Portugal inteiro para produzir papel, apenas com o fim de ganhar dinheiro. Além disso, a ECO123 pretende relatar de uma forma bastante sóbria o fabrico de papel numa filial da fábrica de madeira e papel Portucel/Soporcel, em Setúbal. Autorizará o departamento de comunicação corporativa uma visita?

 

Com dívidas no futuro?

Pouco antes de chegar a Setúbal, o passageiro beneficia do odor a ovo podre que emana do moinho da madeira e pasta de papel da sociedade anónima Portucel. É precisamente o que ele pretende visitar e quer ver como estão a ser actualmente investidos os 300 milhões de euros que, no ano passado, foram encaixados pelos bancos especuladores. Em 2012, através do Barclays e do BPI, a Semapa SGPS emitiu títulos de dívida ao preço unitário de 1.000€. Mesmo na crise económica em que Portugal se encontra actualmente, atingiram o dobro do montante inicial da oferta de subscrição de obrigações para o mercado. Ou seja, solicitando “apenas” 150 milhões de euros, e pagando uma taxa fixa de juros de 6,85%, receberam 300 milhões. Uma oferta tentadora para os especuladores para se plantarem ainda mais eucaliptos em Portugal, e no futuro também em Moçambique, e de, assim, aumentar o risco a nível mundial de mais incêndios florestais.

Durante um ano o jornalista analisou o valor sustentável desta multinacional e as suas actividades económicas. A Semapa SGPS é um global player (actor global), que ocupa a quinta posição a nível mundial e é o líder europeu no processamento da madeira e do papel (Portucel/Soporcel), produz cimento (Secil) e tem participação na indústria do aproveitamento e revalorização de subprodutos de origem animal e de outros subprodutos alimentares (ETSA) para fabrico de rações. A Semapa SGPS é responsável por cinco por cento de todas as receitas de exportação de Portugal, e as suas empresas subsidiárias estão entre os contribuintes desejados do Governo. No entanto, a Portucel/Soporcel é responsável pelas plantações de eucalipto em Portugal, pela sua expansão constante, assim como pelos seus múltiplos riscos ecológicos, inclusive incêndios florestais. O eucalipto é o óleo que é deitado nas chamas dos fogos em Portugal. No ano 2012, as florestas alimentaram uma indústria do papel com um volume de negócios de 1,9 mil milhões de euros. Mas apesar destes números imponentes, o negócio é volátil, comparável a um castelo de cartas. Nós exploramos impiedosamente os recursos da natureza com ajudas financeiras, de crédito e crescimento de milhares de investidores (sem contar com as subvenções da UE), muitos dos quais nem sequer sabem, na realidade, onde colocaram o seu dinheiro. A Semapa SGPS, nomeadamente até 2016, deve reembolsar pelo menos 475 milhões de euros de subscrições de dívida mais juros, sem contar com os diversos créditos à banca. Há que dar mais luz a este assunto – tarefa de um jornalista.

O comboio da manhã atravessa a Ponte 25 de Abril sobre o Rio Tejo e a sua maravilhosa vista para a azáfama de Lisboa, com toda a sua dinâmica vida económica nas instalações portuárias de Alcântara e de Belém. Faltam poucos minutos para o jornalista descer na estação de Entrecampos. A gravata está bem atada, um último olhar ao espelho basta, e o suposto investidor desce contente do comboio.

Tudo apenas por causa de uma folha de papel?

Portucel-DirectorsA pequena sala de reuniões no 16º andar, com 4 metros por cinco, está completamente forrada em madeira. Paredes grossas insonorizadas, janelas duplas contra o ruído da rua, alcatifas profundas, um sofá com estofo vermelho-escuro e uma mesa com quatro cadeiras tipo antigas, também em madeira. Em cima da mesa encontram-se frascos de plástico com água de garrafa. Após vinte minutos de espera, o responsável José Miguel Paredes entra silenciosamente na sala através de uma segunda porta separada. Apresenta-se. Um homem alto, elegante, vestido com bom tecido e perto da idade da reforma. O investidor apresenta o seu cartão-de-visita, como exige o protocolo quando se é de fora. Um recebe o cartão do outro. Sentamo-nos e começamos com conversa fiada. Lamentos sobre a recessão, a crise financeira e de como era bom há alguns anos atrás, quando a Secil AG, a segunda filial da Semapa SGPS, ainda conseguia vender 11 milhões de toneladas de cimento por ano. Mas isso tudo é história. O volume de vendas actual é de 2,8 milhões de toneladas. Não estará Portugal, e principalmente o Algarve, já suficientemente “betonizado”? O investidor sabe muito bem onde é que quer chegar e leva a conversa até à produção do papel da filial Portucel/Soporcel, em Setúbal.

Seria possível visitar uma das florestas de eucaliptos geridas pela Semapa SGPS, ou o viveiro de mudas clonadas? – pergunta a José Miguel Paredes durante a conversa. Não haveria realmente lá muito para visitar, contrapõe este com um sorriso amigável e continua: “Bastar-lhe-ia conduzir através das florestas do nosso país, e veria o eucalipto por todo o lado”. Tudo bem, pensa o investidor, na Serra de Monchique mais de 76 por cento da mancha de floresta está plantada com esta peste. A Serra de Monchique ardeu em 2003 e, no último Verão, a Serra do Caramulo foi queimada pelos incêndios. O interesse do investidor está nas novas mudas clonadas de eucalipto com que a Portucel/Soporcel inunda o país. Em contrapartida, José Miguel Paredes pergunta habilmente quanto capital ele estaria a pensar investir e como. Para quem trabalha? O investidor pede desculpa pelo seu mau português e lança ele próprio a cana de pesca. Poderiam ser entre dez e 50 milhões. Por uma questão de prudência não menciona em que moeda. Mas estaria dependente em grande medida de que outros projectos ele lhe poderia recomendar como economicamente viáveis. Seria possível fazer uma visita à fábrica da madeira e da pasta de papel em Setúbal? Teríamos, claro, interesse em saber no que estaríamos a investir tempo e dinheiro…

Destruição criativa do nosso planeta?

Mudança de cena. Duas semanas depois. A cada dois minutos chegam os camiões carregados de madeira de eucalipto ao extenso parque. Logo à entrada da fábrica do papel, os visitantes e investidores são informados que dentro do parque estão a ser filmados. “Se eles podem, nós também”, argumenta o colega sorrindo e liga a sua câmara oculta (a curta-metragem está disponível em www.eco123.info). Sofia Almeida, do departamento da comunicação corporativa, e Cidália Torre Abreu, a directora responsável pelo controlo de qualidade do papel, cumprimentam o suposto investidor e o seus assistentes no portão com sistema de segurança. Ambos são transportados pelo extenso parque no mini-autocarro para visitantes. O eucalipto é descarregado de uma série de camiões em fila de espera, 25 dos quais provêm de Monchique em todos os dias úteis. O investidor fica a saber que primeiro a madeira é triturada e que depois as aparas são tratadas quimicamente em processo de cozimento. Através de um processo de cozimento de doze a quinze horas são depois separadas das incrustações, dos componentes indesejados da madeira, dos constituintes da celulose. Existe o processo com o sódio, o sulfito e o sulfato que são diferenciados depois do uso dos químicos de cozimento. A lignina residual tinge a pasta de papel de amarelo a castanho após o cozimento. Ela tem que ser limpa e branqueada. A lignina residual e outras substâncias indesejadas são removidas com o branqueamento; o branqueamento químico elimina as descolorações. Todo o processo é altamente tóxico, os depósitos químicos contaminam as águas, a terra e principalmente o ar. A pasta de papel (celulose) branqueada é conduzida directamente para a fábrica em tubos espessos, onde posteriormente será drenada e enrolada em rolos de papel…

Negócio com greenwashing e Orwell?

Através do centro de controlo, o investidor e os seus assistentes são conduzidos à sala de exposição. Aqui é apresentado o produto, papel branco puro. As marcas Navigator, Pioneer, Inacopia, Discovery, etc, são sucessos comerciais. Os rótulos de prestígio EU-Eco e FSC aparecem em grande em cada pacote. Greenwashing? Eucalipto de Monchique em exportação para o mundo? Milhares de metros de bobinas de papel branco entram a alta velocidade na fábrica, onde o papel é enrolado. Homens de bata branca apressam-se de A para B, e outros sentam-se em frente de monitores colocados junto a um vidro gigante, como se na torre de controlo de uma central eléctrica, e monitorizam o funcionamento das máquinas e o trabalho dos poucos funcionários. Recebemos tampões para os ouvidos e saímos de um laboratório clínico para as oficinas da fábrica moderna. Câmaras vigiam todo e qualquer movimento. Num mural fotográfico de grandes dimensões que sugere o mundo perfeito de uma floresta de eucaliptos está a solução: “Construir o futuro – Perseguir o sonho – Torná-lo realidade“ A ideia de ter de trabalhar aqui, de deixar gravar, vigiar e controlar cada movimento pelas câmaras, faz lembrar a filosofia de um grupo a que se aplica a tese de Lenine: “Confiar é bom, mas controlar é melhor.” Veículos automatizados, controlados apenas por computadores (e respectivo software) e sem pessoas, circulam um após o outro, carregando rolos de papel, com três toneladas de peso, através das oficinas da fábrica e entregam-nos a robôs. Estes rodam os seus braços como guindastes, marionetas numa atmosfera laranja brilhante. Erguem os rolos dos carros para as máquinas onde o papel é adaptado ao tamanho padrão: A4, A3 para os europeus e outros padrões para os consumidores americanos e asiáticos. Numa outra máquina, os rolos de papel são cobertos por um invólucro castanho e preparados para serem levados para as tipografias…

O dinheiro faz girar o mundo?

Os investidores são conduzidos por quilómetros e quilómetros de trilhos através das oficinas clinicamente limpas da fábrica do papel da Portucel, em Setúbal. A directora responsável pelo controlo de qualidade mostra com orgulho os produtos aos potenciais investidores, o modo como são fabricados e afirma que, basicamente, só são produzidos por encomenda. Evita-se dessa forma que fiquem em armazém, o que tem custos elevados e é pouco económico. No ano passado fabricaram-se aqui pela primeira vez 535.000 toneladas de papel, sete por cento mais papel do que tecnicamente as máquinas podiam. “Trabalhamos 24 horas por dia, 365 dias por ano, com cinco equipas ao todo.” Devemos sempre estar preparados para colmatar férias, doenças e outras falhas humanas. A procura de papel é enorme. No espaço de quarenta anos, o consumo mundial de papel aumentou 400 por cento. Mais e mais pessoas que prestam serviços, mais e mais computadores, cada vez mais horas de trabalho de escritório, contra cada vez menos pessoas a trabalharem nos ofícios tradicionais. Orgulhosamente destacam que a Portucel/Soporcel é líder de mercado europeu e a quinta maior produtora de papel a nível mundial.

Cheira a dinheiro?

portucel-entradaNa zona industrial de Mitrena, localizada junto ao mar em Setúbal, onde vivem 120.000 habitantes, a fábrica dá trabalho a cerca de 1.200 colaboradores. Na fábrica do papel na Figueira da Foz e na fábrica de celulose em Cacia, a norte de Aveiro, trabalham outras 1000 pessoas. Seja onde for, os habitantes das áreas circundantes têm que lidar dia após dia com os gases com odor a ovo podre das chaminés destas fábricas. É devido aos gases que contêm ácido sulfúrico da extração da celulose, esclarecem ao investidor. “O nariz humano é especialmente sensível a isso”, salienta Cidália Torre Abreu, encolhendo os ombros. No fabrico do papel há acumulação de dióxido de azoto (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e dióxido de carbono (CO2). O dióxido de azoto e o dióxido de enxofre são os principais causadores das chuvas ácidas, enquanto que o CO2 é o gás de efeito estufa responsável pelas alterações climáticas (para mais informações, consulte o nosso artigo sobre o IPCC, na página 72).

A questão dos investidores sobre se a Portucel via algum sentido no sector do papel velho e reciclado como negócio, pareceu bastante incomodativa. Sim, a Portucel importa, de França, uma pequena quantidade de pasta de papel reciclada porque a qualidade da pasta reciclada nacional é muito baixa. Cidália Torre Abreu afirma-se convicta de que com o papel reciclado não se ganharia dinheiro. “As fábricas portuguesas recebem o papel velho, misturam-no com água e limpam-no das impurezas. No entanto, as fibras que são produzidas em Portugal são de baixa qualidade. Com elas, quanto muito, poderia produzir-se jornais, papel higiénico e papel de tissue. No entanto, o nosso papel é de alta qualidade e branco, não cinzento.” Quanto ao futuro e sobre ganhar dinheiro com objectivos de lucros de dois algarismos percentuais, o investidor é informado que a Portucel SA (Semapa SGPS) está actualmente a preparar-se para explorar a longo prazo 120.000 hectares de terra em África, nomeadamente em Moçambique, para também aí abater florestas naturais e convertê-las em plantações industriais de eucaliptos. À despedida, o suposto investidor recebe o obrigatório relatório anual de actividades de 2012 e uma caixa de bombons com sabor a eucalipto.

No mesmo dia, a segunda equipa recebeu um e-mail do departamento de comunicação corporativa da Portucel a comunicar a recusa do pedido para filmar a fábrica de papel.

Grande demais para falhar?

Onde o jornalismo normal cessa, começa a pesquisa investigativa, a verdadeira obra. Os jornalistas, na pele de potenciais investidores, têm ainda algumas perguntas essenciais que gostariam de colocar pessoalmente ao presidente do conselho de administração da Semapa SGPS, empresa cotada no PSI 20. Para um investimento na ordem dos 10 a 50 milhões, é preferível que ambos falem um com o outro, pessoalmente. O suposto investidor decide então jogar o seu trunfo e convidar o presidente para almoçar. Irá ele aceitar? Até ao fecho da presente edição ainda não tinhamos obtido qualquer resposta.

Um grupo que quer desempenhar um papel responsável como global player, e que assume a responsabilidade por muitos milhares de postos de trabalho, deveria responder de maneira crítica e construtiva à pergunta: por quanto tempo mais será permitido a uma dúzia de administradores envelhecidos do sexo masculino (refira-se que não há uma única mulher com lugar neste grémio) fazerem malabarismos com créditos de centenas de milhões de euros, a maioria com prazo de vencimento nos próximos cinco anos? (Informações de acordo com www.finanzen.net e do Banco de Portugal).

Economicamente questionável é também como se vai manter unida uma empresa construída em cimento, um produto de ontem, que não tem mais oportunidade de crescimento nem em Portugal, nem na Europa. O cimento, entre 2002 e 2012, viu reduzidas as suas receitas para 25% no mercado português, e isso, recorde-se, antes mesmo de a crise ter começado.

Também deve ser perguntado, como é que deverá continuar o negócio do papel (celulose), cuja matéria-prima eucalipto, em pouco menos de uma geração, destruiu dez por cento do território do país através dos incêndios, trouxe grande sofrimento aos seus habitantes, industrializou uma paisagem natural original e arruinou a agricultura tradicional? Não deveriam os administradores e membros dos conselhos de administração ser responsabilizados pessoalmente pela forma como gerem os recursos naturais, financeiros e sociais do seu grupo em prejuízo de uma sociedade?

Como poderia um investimento de mais de um bilião de euros na nova fábrica de papel em Setúbal (2009) ter retorno, se nos próximos dez anos prevalecesse o pensamento circular e acções por uma nova mudança de paradigmas, e o papel branco sofresse uma queda de crescimento? Veja-se o caso do cimento e do papel reciclado. Inclusive, nada nos garante que haja a mesma necessidade de papel daqui a dez anos, com as novas tecnologias informáticas, a internet, os jornais digitais e os e-readers, como o kindle da Amazon.

E por último, mas não menos importante. Será que não há que repensar a economia? Até onde vai conduzir-nos o crescimento ilimitado num planeta cujos recursos são limitados? Já não estamos mais no tempo da ganância de ganhar mais e mais em que o dia começava com especulações na bolsa. O greenwashing dos produtos do papel, que antes eram lavados com muitos químicos tóxicos, só funciona por um determinado período de tempo e a qualquer momento poderá acabar, porque o consumidor irá descobrir esta impostura. O futuro da economia só é então possível com verdadeira sustentabilidade e assumindo as responsabilidades devidas para com a sociedade, o meio-ambiente e as futuras gerações.

Há ainda muito trabalho pela frente, mas também muitas oportunidades: um verdadeiro desafio para Portugal e a sua economia. Apenas um exemplo: a reciclagem ecológica do papel velho e a reutilização de matérias-primas estão ainda no começo de uma nova forma de pensar. Enquanto no norte da Europa 85 por cento do papel velho já está a ser reciclado, em Portugal os números são de apenas 15 por cento. Até agora, é normal que as empresas multinacionais remetam muitos dos seus custos para a natureza, para as pessoas dos países menos ricos (Moçambique, sic) e para as gerações vindouras. Por que nós não estabelecemos uma economia circular baseada nas leis da ecologia? Por que precisamos nós de papel de eucalipto quimicamente branqueado, quando também existe papel cinzento reciclado e ecológico para escritório, livros e jornais? (veja na ECO123 reciclagem)

Talvez uma empresa global como a Semapa SGPS tivesse uma verdadeira oportunidade de futuro, se discutisse esta possibilidade – a consequência seria um Portugal com cada vez menos incêndios florestais. Mas isso só poderia acontecer quando, anualmente, fossem plantados cada vez menos eucaliptos e, depois de cortados, fossem substituídos por espécies nativas como, por exemplo, sobreiros, castanheiros, entre outras.

Fique atento, tal como a ECO123. Estamos a trabalhar para dar continuidade a esta história na próxima edição, com uma entrevista ao Senhor Pedro Queiroz Pereira, Presidente da Semapa SGPS.

Reportagem:

About the author

Uwe Heitkamp, 53 years old, started working after university in daily newspapers and from 1984 on in public tv broadcasting companies such as WDR (Collogne), NDR (Hamburg), SDR (Stuttgart/Baden-Baden) in the ARD (first programme), wrote several books and directed the cinema movie about the anti nuclear movement in Germany in 1986 (Wackersdorf). After emigration in 1990 he founded 1995 the trilingual weekly printed newspaper “Algarve123”  and later the online edition www.algarve123.com. Heitkamp lives for 25 year in Monchique, Portugal. He loves mountain hiking and swimming in streams and lakes, writes and tells stories of success from people and their sustainable relationship between ecology and economy. His actual film “Revolutionary Roads” tells the 60 minute story of a long walk crossing Portugal. 10 rural people paint a picture of their lives in the hills of the serra and the hinterland. The film captures profound impressions of natural beauty and human life. Along which path is the future of Portugal to be found? (subscribe to ECO123 und watch the documentary in the Mediatec)

Investigação:

About the author

Hugo Filipe Lopes:Licenciatura em Sociologia, Pós-Graduação em Nutrição Clínica pela Faculdade Egas Moniz. Colaborador de várias publicações online, formador e terapeuta alimentar. Menções honrosas nos concursos da Casa da Imprensa e Lisboa à Letra.

Imagens:

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João Gonçalves (31) Natural da Serpa. Licenciatura em Marketing, Comunicação Empresarial, Produção Audiovisual na Universidade do Algarve, em Faro. Trabalha actualmente como realizador, operador de câmara e editor. Vive em Faro.

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