Faro, Sábado 10 de Abril de 2021
A reconstrução, depois da destruição por um incêndio, começa pela remoção dos escombros. Tem que ser recolhido o lixo que restou daquilo que fazia parte da vida humana: plásticos derretidos, vidros partidos, peças metálicas torcidas. Soube que será reconstruído o único edifício que existia na Ilha Deserta, e que ardeu completamente no passado dia 2 de março: o restaurante Estaminé. Pelos vistos, ficaram resolvidas as questões que o proprietário, José Vargas, tinha com a companhia de seguros. Para manter a integração no meio natural e sublinhar a preocupação ecológica, a construção voltará a ser feita de madeira e será autossuficiente energeticamente, graças à energia solar. Serão instaladas seis centrais com sistema seguidor solar, com 18 módulos fotovoltaicos cada, aos quais acrescem mais 54 módulos sobre o telhado. Futuramente, deixar-se-á de cozinhar com gás para passar a cozinhar-se com energia solar.
Nesta ilha pertencente ao concelho de Faro reinaria o silêncio, não fosse o ruído dos aviões que a sobrevoam a toda a hora com milhões de turistas no seu percurso para a aterrizagem no Aeroporto de Faro. A quarentena, nestes tempos de pandemia, fez bem à vida selvagem na ilha. Ali, na primavera, nidificam muitas aves selvagens. Está interdita a residência permanente aos cidadãos. Foi permitida, há já muitos anos, apenas uma construção: a de uma unidade de restauração. A sua exclusividade gera, contudo, inveja e rumores sobre possíveis influências e corrupção…
Esta semana, no local onde durante muitos anos esteve o restaurante Estaminé, irão iniciar-se os trabalhos de remoção dos escombros. Foi para isso que a equipa da empresa “Animaris”, que irá gerir o projeto, voltou para a ilha. É um reinício que, simbolicamente, reúne toda a equipa, para que a mágoa dê lugar à esperança.
A empresa tem 33 trabalhadores. Foi também por eles que José Vargas e a sua família decidiram não desistir e procurar uma solução: a reconstrução. Depois de recolhido o que ficou sobre a areia irão iniciar a reconstrução do novo “Estaminé”.
A estrutura será semelhante à anterior: um restaurante autossuficiente, que respeita a natureza envolvente, protegendo-a e integrando-se nela. Têm como objetivo conseguir reabrir em julho deste ano. Esperemos que sim…
Neste contexto, a ECO123 não pode esquecer que, na região montanhosa, a 80 km de distância, as vítimas do grande incêndio de Monchique estão, há três anos, à espera que o Governo de António Costa, conforme prometeu, aprove as ajudas para a reconstrução das casas destruídas pelo fogo. Também exigem que as florestas ardidas – maioritariamente monoculturas de eucalipto – sejam reflorestadas com espécies autóctones, criando uma floresta diversa e sustentável, e que as espécies invasivas sejam controladas. E, como não há duas sem três, os lesados também aguardam que os tribunais decidam, finalmente, a questão das indemnizações devidas pelo presumível causador do incêndio, a EDP-Distribuição (linhas de alta tensão).
É com água que se apaga o fogo. O restaurante Estaminé fará bem em não esquecer de incluir nesta reconstrução uma rede de aspersores e uma cisterna. Mais vale estar prevenido do que voltar a enfrentar as chamas de mãos vazias, sem nada poder fazer. Não há bombeiros neste mundo que consigam combater um fogo sem ter água disponível.