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Dez passos para a neutralidade climática
Terceiro passo – Tudo tem o seu preço. Tudo, mesmo?

Nº 91 – A minha viagem pelo mundo –
Dez passos para a neutralidade climática
Terceiro passo – Tudo tem o seu preço. Tudo, mesmo?

Sábado, dia 12 de junho de 2021

A democracia em Portugal não veio do nada. E a forma como tratamos o planeta assemelha-se à forma como tratamos quem nos é próximo. Tiramos para nós tudo o que conseguimos. O Ser-Humano é por natureza uma espécie exploradora, saqueadora, e que olha com inveja para o que têm os outros. Só quando nos olhamos ao espelho e nos pomos em causa temos a excecional oportunidade para refletir. Podemo-nos perguntar se somos mesmo aquela pessoa que julgamos ser. E, se queremos ser bem tratados, por que razão tratamos mal os outros, pessoas, animais e Natureza? Essa é a pergunta que me move. Certa vez a prenda de um amigo resolveu um problema financeiro para o qual eu não previa solução. Esse amigo resolveu um problema que, para mim, era grave. Por isso sei como é importante haver um dar e receber. Será a experiência de vida que nos torna boas pessoas?

Só quando muitos de nós cancelarem os seus contratos com a EDP, as suficientes para que isso se faça notar, é que o clima neste país irá melhorar um pouco. Depois, já não interessa se essa empresa se chama EDP ou SU Eletricidade. A EDP é responsável pela emissão de centenas de milhões de toneladas de CO2, causou incêndios florestais, é responsável pela especulação e pela destruição ambiental trazida pela construção desnecessária de barragens, e por muitos casos de corrupção no país. Se o que conta é sempre o dinheiro, esta história não irá acabar bem. Só com os pioneiros da energia solar é que os administradores da EDP começaram a sentir o que significa perder algumas poucas receitas. Mas primeiro eram apenas peanuts. Depois, decidiram apanhar, também eles, o “comboio” da produção de energia solar e foi fundada a EDP Renováveis. Contra factos não há argumentos e é sempre bom copiar uma boa ideia para evitar que os pequenos produtores se tornem fortes concorrentes. Os monopolistas não sabem perder. Não gostam de partilhar.

Sou sócio da Coopérnico desde janeiro de 2016. Na altura, éramos 316, hoje já são cerca de 2.000. Tendência crescente. O cancelamento do contrato com a EDP e a entrada como associado da Coopérnico foram decisões bem ponderadas. Agora, sou um simples sócio com três cotas de 20 euros na primeira cooperativa de produção de energia. Há causas que merecem a união de todos. Merecem a nossa solidariedade. Uma cooperativa é uma estrutura essencial para mudar o mundo, para lutar por uma boa causa e fomentar a união de forças.

Todos temos um voto e uma voz, independentemente do dinheiro que possuímos. Há que dar voz àquilo em que acreditamos, mesmo que de forma tímida e discreta. Com o tempo, a tua voz vai ser mais confiante e poderás expressar com cada vez mais determinação sobre o que ambicionas e o que te encontras a realizar. Repete-o para ti todos os dias. Esta é a democracia possível nesta sociedade em que, de resto, reina o dinheiro. Tornei-me um forte adepto das cooperativas porque o dinheiro tem que ser relegado para segundo plano, passando para primeiro lugar a forma como se usam os recursos deste planeta, como se contém a ganância do Ser-Humano e como se convive com respeito entre todos.

 

Dedico a terceira parte desta série “Dez passos para a neutralidade climática” aos combustíveis fósseis para a mobilidade e para o lar. Será melhor cozinhar com gás ou com eletricidade? Qual o impacto de tomar duche de água quente aquecida por um painel solar, com geotermia ou com um esquentador a gás? Como posso analisar a minha fatura de eletricidade para descobrir se o meu consumo está a ser danoso para o clima? Temos várias escolhas que dependem apenas de nós. Cada viagem significa uma importante decisão no que toca à mobilidade: vou de avião ou posso apanhar o comboio? O meu combustível é gasolina ou eletricidade? E de onde vem essa eletricidade, como é gerada? Se atualmente a Coopérnico vende a eletricidade por menos dois cêntimos que a SU Eletricidade seria de esperar que milhões de consumidores trocassem o antigo pelo novo. Mas não é o que está a acontecer. Porquê? Serão todos carneiros a seguir o rebanho? Todos vão a correr para o centro comercial comprar t-shirts baratas, mas no caso da eletricidade fazem-se de parvos? É que, pelos vistos, as pessoas não sabem os quilowatts-hora que gastam em média por mês. Fiz um pequeno inquérito, como jornalista, entrevistando alguns cidadãos frente a um centro comercial com payshop, sobre o seu consumo energético. Com a primeira pergunta: “Quantos quilowatts-hora gasta em média por mês?” não obtive qualquer resposta. A segunda pergunta foi: “Sabe qual o preço que paga por quilowatt-hora ao seu fornecedor atual?” Nem um único dos inquiridos sabia o seu consumo e o preço que estava a pagar. Inacreditável. Depois de 100 entrevistas desisti deste inquérito, feito em Portimão.

Esta realidade deve ser do conhecimento do grande fornecedor de eletricidade. Este gênero de inquéritos fazem parte do seu dia a dia. E sabe bem aproveitar a aparente ignorância dos seus clientes. As suas faturas são pouco transparentes e difíceis de ler. E é assim que pretendem que continue a ser. É que a terceira pergunta foi: “Sabe qual a quota parte do seu consumo que provém de energia limpa como a do vento e do sol?” O melhor é não colocar este género de questões aos clientes da SU Eletricidade. Não vale a pena. O resultando é devastador. Mas o mercado está liberalizado a nível europeu, e a Coopérnico – entre outros -, está a dar cartas. Quando compro eletricidade da Coopérnico sei que as minhas emissões de CO2 são ZERO e que pago menos dois cêntimos por kW/h. Quando falamos de democracia, temos que falar de iniciativas como esta, de uma cooperativa em que a administração é eleita, e pode ser destituída.

 

Continua na próxima semana…

 

Uwe Heitkamp (60)

jornalista de televisão formado, autor de livros e botânico por hobby, pai de dois filhos adultos, conhece Portugal há 30 anos, fundador da ECO123.
Traduções: Dina Adão, Tim Coombs, João Medronho, Kathleen Becker
Fotos: dpa

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