Sábado, dia 3 de julho de 2021
A sério? E em que direção seria o primeiro passo? Estou sempre a ver boletins meteorológicos em que os meteorologistas nos explicam o que está por detrás dos fenómenos caóticos e como tudo está interligado.
Para além de se registar O QUE acontece, QUANDO, COMO e A QUEM, também se deve observar o PORQUÊ de se estarem a verificar variações de temperatura de 15 graus Celsius, por exemplo. Há que analisar as relações de causa-efeito. E essas só são compreendidas se houver vontade de aprender e de partilhar aprendizagens. Tal como num acidente de automóvel, há sempre vários cenários possíveis. Há quem goste de olhar e seguir caminho. Outros, param e veem detalhadamente para depois abandonar o local. Ajudar aos que estão em apuros é a terceira opção. O que faço se for realmente exigente comigo próprio? Ajudo as vítimas do acidente a sair do carro em chamas – ou passo sem fazer nada? Estarei disposto a correr perigo de vida para ajudar alguém? Atualmente, um carro já nem tem que estar em chamas. Basta andar a gasolina, gás ou a diesel. É o que acontece em quatro bilhões de motores de combustão no mundo inteiro. Mesmo que estejam apenas metade destes motores a trabalhar estaremos a prejudicar o clima.
Eis outro exemplo: porque temos que fazer um curso de primeiros socorros para tirar a carta de condução? O que tem isso a haver com as alterações climáticas? Será que esta formação em condução é hoje em dia suficiente para conduzir um automóvel ou deveria haver algo mais do que isso? Não faz sentido falar sobre as alterações climáticas com alguém sem conhecer as suas próprias emissões. Concorda? E ter noção da sua pegada ambiental significa ter uma preocupação sincera com o assunto – hoje, ontem e amanhã. É fácil dizer que a solução está em desligar 100 dos maiores emissores de CO2, responsáveis por 71% das emissões, ou falar de soluções políticas que apontam o dedo a outros, não assumindo responsabilidade alguma.
Quem quiser saber as emissões de CO2 que provoca com cada percurso de carro que faz basta para isso consultar o Documento Único do seu veículo. O campo V7 indica o valor das emissões de CO2 em g/km. Quem souber quantos quilómetros andou durante a semana sabe as suas emissões. E quem as calculou para a mobilidade também as poderá calcular para o consumo de eletricidade. Aqui, bastava haver uma legislação consequente, um passaporte para as emissões que regulamentasse que quantidade de CO2 cada cidadão teria o direito de emitir. Seria socialmente justo para todos os cidadãos porque receberiam a mesma verba de CO2. E quem cumprisse ou emitisse menos pagaria menos impostos. Quem emitisse mais do que tem direito pagaria um imposto progressivo pelas suas emissões de CO2. Afirmar que irá haver um passaporte para as emissões na UE não é uma previsão vã. Trata-se apenas de uma questão de tempo.
As conversas sobre o clima não são relevantes. O que precisamos são fatos verificáveis. As mudanças para melhor provavelmente só ocorrem quando alguém é diretamente afetado pelas alterações climáticas. Quem experienciou um incêndio no próprio corpo, uma tempestade de granizo, cheias depois de trovoadas e fenómenos como furacões ou tornados terá mais abertura para evoluir. Quem pertencer aos perdedores devido às alterações climáticas – e a previsão é que irão ser centenas de milhares de pessoas nos próximos meses ou anos -, irá começar a alterar o seu comportamento. Será tarde demais?
Possivelmente. E será que, com tudo isto, ainda será suficiente fazer um curso de primeiros socorros para tirar a carta? Não seria melhor haver uma formação para o clima nas escolas de condução? Será que o que é lecionado hoje nas escolas chega para formar novas vidas amigas do clima? Só quando o sofá, frente à televisão ou ao computador pega fogo, é que o consumidor de batata frita começa a pensar em se levantar para ir buscar o extintor. Foi o que me disse um vizinho depois do último incêndio em Vila do Bispo. Ele, pelo menos, conseguiu salvar o computador quando fugiu no seu carro a gasolina. Mas se tivessem rebentado os pneus por causa do asfalto derretido não teria havido forma de o acudir. Que fazer para conjugar o que sabemos com a vontade de agir?
Tornar a sua vida climaticamente neutra tem uma base muito concreta. A sensibilização é um dos aspetos. Sem a sensibilização para a questão não há verdadeira consciência, a mente não acompanha o processo. Até agora, grande parte da Humanidade limita-se a trocar o sofá em chamas por outro posto de onde possa – em paz e sossego – continuar na mesma. Se houver algum problema, chama-se o mecânico, os bombeiros ou manda-se vir uma pizza. É mais fácil ficar a ver televisão, surfar na internet ou brincar com o smartphone do que absorver novo saber, por exemplo, sobre a defesa da diversidade da flora e da fauna. Como podemos nós, os Seres-Humanos que provocam a crise climática, resolver este problema? É urgente a sensibilização. Quem quererá dar os dez passos sozinho? Que tal começar por si? O primeiro passo é o mais difícil. Mas quem o der, já não voltará atrás. Agora, é fim de semana. Na semana que vem as temperaturas irão subir 15 graus Celsius.