Nas últimas eleições autárquicas cometi um erro. Depois de ter escolhido o candidato errado nos dois anteriores períodos eleitorais, já que só muito depois se reconhecem as políticas que adotam na prática, nas últimas eleições nem sequer fui votar. Pensei para mim que, quando há que decidir entre um candidato mau e outro pior, o melhor é ficar em casa ou pôr um colete amarelo e ir até à câmara municipal abrir umas janelas (veja-se o que se passou em França), para que entre ar fresco nos gabinetes onde reina a burocracia.
Outra alternativa seria despejar uma carga de eucaliptos em frente ao edifício da câmara municipal, para que o seu Presidente e a sua malta acorde antes do próximo verão. É que os incêndios não acontecem nos dias de chuva! E o próximo verão está aí à porta. Um ano passa depressa.
Porque estou a escrever isto? Porque já estamos a meio de mais um período de governação local, em maio há eleições para o Parlamento Europeu e no outono para a Assembleia da República em Portugal. Caro leitor, ponha o despertador a funcionar para acordar a horas de votar. Assim não há que lamentar o resultado. Porque neste nosso país, e também na nossa aldeia, o poder tem sido repartido só entre dois grandes partidos; alternadamente socialistas e social-democratas. São pratos do dia que sabem todos ao mesmo. Dê uma olhadela na ementa de partidos que o boletim de voto oferece. Com certeza que há outras opções. Não tem que ser sempre essa tal “carne de porco assada”.
Mas escrevo sobre isto também para contar uma pequena história. Recentemente, o Presidente da Câmara cá da terra (PSD), com apoio dos votos da oposição do Conselho Municipal (PS), desperdiçou a possibilidade de angariar 500.000 euros em impostos. O seu próprio partido, em parte, não alinhou. Revoltou-se. Esta autarquia no fundo está falida devido aos constantes incêndios, empobreceu. Mas o Presidente da Câmara não aceitou esse dinheiro para, por exemplo, criação de um fundo destinado às vítimas dos últimos incêndios, para que a sua câmara pudesse apoiar os munícipes – aqueles que nele votaram -, a reconstruir as suas casas ardidas. Não! Ele simplesmente decretou a isenção do Imposto Municipal sobre Transações Onerosas de Imóveis (IMT) de meio milhão de euros a um grupo hoteleiro comprador de um empreendimento hoteleiro. Mas o grupo hoteleiro também não pode estar muito satisfeito porque agora, à volta do hotel, está tudo queimado. Os turistas já não se deixam enganar com cantorias de marketing. O que ardeu, ardeu, e mesmo as mais belas imagens tratadas com Photoshop não o conseguem negar. Se o nosso Presidente tivesse agido conforme anunciou com belas palavras (e antes dos incêndios), provavelmente o fogo teria lavrado menos nesta terra.
O IMT é um imposto importante para as autarquias: importante para possibilitar bombeiros bem equipados e descentralizados com equipas maiores e menos subjugação à “máfia” do eucalipto. O homem que manda nesta região tem pouco mais de 40 anos. Pode haver quem diga, desculpando-o, que talvez ainda seja jovem demais para esta responsabilidade. Mas não, ele já está no cargo há dez anos. É o seu terceiro e último período legislativo. Deixem-no terminar o seu mandato em paz, talvez digam outros. Não!
Este presidente da câmara não compreendeu os desafios dos nossos tempos. Ele não assume as suas responsabilidades, em parte por ter uma postura que pertence ao passado. Um dos desafios é trabalhar de forma transparente e dentro da Lei. Não o sabe. Nem sequer consegue chegar a horas a um compromisso. Uma receita de impostos de meio milhão de euros, em tempos de alterações climáticas, tem que ser aplicada pelo presidente da câmara em projetos de interesse para o município: numa alteração do Plano Diretor Municipal (PDM); num projeto de reflorestação a longo prazo; em apoios para as vítimas dos incêndios; num apoio sincero à agricultura e silvicultura local, desde que praticadas de forma sustentável. São projetos que poderiam ser iniciados e apoiados continuamente com esses meios financeiros. Evitar emissões de CO2, é esta a notícia que deve ser dada se se pretende garantir um futuro aos nossos filhos. Quando um presidente da câmara aplica 500.000 euros dos fundos municipais e os distribui com transparência para o bem de todos, já não tem que ouvir boatos sobre porcos corruptos e comprados.
A propósito de porcos. Foi esse mesmo presidente da câmara que comprou, para o município, uma suinicultura intensiva em ruínas, cujo telhado, tal como a escola (veja a edição n.º 24), é de amianto. Já na altura não compreendi a razão para o fazer. Era ali que pretendia implantar a nova escola de formação de bombeiros que anunciou com pompa e circunstância. Porém, o que interessam as afirmações do passado? Agora é para ser o novo heliporto. Mas o que lá vemos é um campo de concentração para porcos desativado – porcos que já há muito foram engordados, abatidos e comidos.
Realmente, já não vale a pena engordar porcos de forma industrial. Já não se pode espalhar o esterco de qualquer maneira na terra, entretanto há leis a regulamentar o tratamento dos efluentes. E isso custa dinheiro e não é pouco. E o que faz a Câmara Municipal perante isto, apesar de ser entidade supervisora para o ambiente e ter a responsabilidade de controlar situações ambientais? A Câmara juntou o amianto e o plástico num monte no seu próprio terreno e queimou-o de forma ilegal, uma lixeira a céu aberto. Mas quem é que anda a controlar quem aqui? Qual é a competência ambiental nos gabinetes da nossa Câmara Municipal? Quanto lixo ainda tem que ser varrido para baixo do tapete até que alguém se revolte e diga chega? Porque doenças como o cancro não caiem assim do céu!
Quantos erros podemos cometer, não indo votar, porque não nos conseguimos decidir entre dois candidatos… Talvez em breve tenhamos um terceiro candidato no concelho. Um candidato que todos (após análise) possamos achar íntegro e sincero. A esperança é a última a morrer. Mas desta vez talvez não.