Pouco antes de Almograve nós perdemo-nos. Desviámo-nos da nossa rota. Já não há pequenos postes de madeira na areia. O vento levou tudo. Lá em baixo avistamos a aldeia ao longe. Do nosso lado esquerdo ouvimos o quebrar das ondas do mar. Dunas altas separam a praia do interior. E apanha-nos exactamente aí. O pinhal termina e continuamos simplesmente a nossa rota, e a certa altura, após o poste nº 325 deixa de haver sinalizações. Seguimos em corta-mato, distância de três quilómetros em linha recta até à aldeia, depois descendo o monte até uma ribeira, dois quilómetros até à aldeia, mas não existe nenhuma passagem. Assim, arrastamo-nos como se a morrer de sede num filme.
Pura aventura. Por que tem que existir tanta areia nesta terra? Por que não existe uma travessia para a outra margem da ribeira? Falta ainda um quilómetro até chegarmos à aldeia de Almograve. Aí um de nós – melhor dizendo “o outro”, o mais jovem de nós os dois – encontra uma lacuna e constrói uma espécie de ponte com um tronco de uma árvore. Os cães já nos farejam. Ladrando e rosnando correm para nós. Encontramo-nos no meio do tronco e os cães na outra margem. Não dá para voltar atrás: é em frente, independentemente de se vamos conseguir ou não.
Entretanto, aproxima-se também o proprietário com um balde de composto na mão. Um pouco inseguro ele observa o nosso exercício físico, ri-se e chama os seus animais. Uma pergunta, uma resposta. O homem explica-nos o caminho para Almograve. Estamos salvos. Portugal é assim. Encontra-se sempre uma pessoa simpática.
Pai e filho tiram uma semana livre para si. Decidem fazer uma caminhada. E que melhor do que fazer as mochilas, sair porta fora de casa e partir? De (Caldas de) Monchique caminham pela serra fora até Chilrão, passando por Besteira e Moinho do Sogro até chegar a Odeceixe. No dia seguinte descobrem a Rota do Pescador em direcção a norte, sempre junto ao mar, subindo pelas rochas e descendo pela areia da praia. A meta do dia é Zambujeira do Mar.
O ponto alto do dia são os caminhos inclinados e rochosos na falésia ao alto, sempre junto ao Atlântico, que alternam com os caminhos sombreados na margem das ribeiras que desaguam no mar. Em Azenha do Mar fazemos uma pausa para o almoço. Da Zambujeira seguimos para Cabo Sardão. No Porto Barca os dois escalam a falésia com uma corda até à costa. Boa caminhada e impressões selvagens da Costa Vicentina. Os gritos das gaivotas e o marulhar das ondas acompanham os dois. De Almograve caminham até Vila Nova de Milfontes. Descansam e olham o mar no horizonte.
Passam por um campo onde nasce a relva para o jogo do Real Madrid e Benfica. Os dois decidem nadar: na Praia das Furnas. Uma boa refeição aguarda-os no Paparoca (Milfontes). No penúltimo dia caminham de Aivados até Porto Covo com Sines à vista. Termina aqui a caminhada. Compram dois bilhetes de autocarro e regressam a Monchique. Uma rota fantástica. Sentimos o nosso corpo. A cabeça está livre. Portugal: a natureza à porta.
“Pai e filho tiram uma semana livre para si. Decidem fazer uma caminhada. E que melhor do que fazer as mochilas, sair porta fora de casa e partir?”
“ Boa caminhada e impressões selvagens da Costa Vicentina. Os gritos das gaivotas e o marulhar das ondas acompanham os dois.”
Mais informações (também sobre a Rota Histórica): www.rotavicentina.com