Um assalto a um banco? Fraude com subsídios? Imposto sobre transações? O dinheiro é um tema vasto, origina muitos desentendimentos, risos, choro e acordos. Daria matéria suficiente para muitas centenas de páginas. Há a perspetiva do ganhador e a do perdedor. Poderíamos escrever sobre o jackpot do casino, ganho por dois homens numa noite; sobre a Autoridade Tributária Aduaneira, que quis cobrar o IRS de 2016 duas vezes; sobre a história do dinheiro falso produzido durante meses numa suinicultura em Monchique – tudo histórias que, seguramente, interessariam os nossos leitores e leitoras. Ou podemos contar a história da mulher que trocou a aliança e um fio de ouro por 170 euros numa casa de penhores. Precisava do dinheiro para pagar o crédito, senão o Banco tirava-me o carro, contou-nos. Já não vivia com o marido e não precisava do anel.
Poderíamos ponderar se podemos publicar a história do assalto eletrónico ao Banco, revelar o plano que o fez colapsar. Ou a história que nos contou a mulher que encontrámos no supermercado. O seu ex-marido tinha um crédito e uma conta no Banco que lhes financiou a casa. Ele deixou de pagar as prestações. Agora, supostamente, era ela que teria que pagar os 30.000 euros, apesar da dívida já ter prescrito. Deverão as dívidas ser pagas, ou não? Poderíamos editar um livro inteiro com as muitas histórias que todos nós conhecemos sobre os flagelos do dinheiro.
É a questão que fica em aberto, e que colocamos, todos nós: será mesmo o dinheiro que faz o mundo girar? Todos o temos na mão. Pertencemos aos 99% que dele dependem ou àquele 1% que age de outra forma? Talvez essa minoria cresça e passe a ser de dois ou cinco por cento? Seremos marionetas ou conseguiremos abraçar a leveza do ser, tornando-nos sinceros, fortes, gastando só o que realmente temos, sem consumir o que pertence a gerações futuras? Isso também significaria acabar com os pequenos e grandes atos de violência, com a guerra e o roubo – acabar com as dívidas, e a ganância – e tornar o dinheiro naquilo que é e deveria sempre ser: um meio de pagamento e não mais do que isso. O que realmente tem valor está noutro lado.
A nossa colega de Lisboa contou-nos a seguinte história: “Ao voltar de uma caminhada encontrei um pequeno porta-moedas preto no comboio. Depois de perguntar se pertencia a alguém, e como o dono não apareceu, abri-o e vi que tinha dinheiro, um papel com o número de contribuinte e um cartão de cliente de uma cadeia de supermercados. Como não confio nos perdidos e achados, telefonei para o supermercado enquanto estava numa das minhas voltas a resgatar comida dos contentores (veja Eco123, Nº 29). Prometeram-me que iriam contactar o proprietário para lhe dar o meu contacto nos próximos dias. Achei esse prazo pouco adequado aos nossos tempos, com tantas tecnologias para a comunicação, e também lhes disse isso. Durante algum tempo não aconteceu nada, até que um dia me ligou o Sr. Rui V., muito feliz. Dizia que pessoas como eu, hoje, já mal as havia… Disse que estava desempregado e que negociava com livros, insistindo para que escolhesse dois e em me pagar um café quando nos encontrássemos para a entrega do porta-moedas. Com certeza que vai ser um encontro interessante. São estes momentos que valem ouro, não acham?