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José Realinho

José Realinho

Comandante da Força Especial de Bombeiros – Autoridade Nacional para a Protecção Civil

ECO123: O que é necessário para não haver incêndios em Portugal?
Isso é impossível, faça-se o que se fizer de 2013 para 2014 é impossível. De qualquer forma devemos primeiro tentar minimizar os incêndios florestais, principalmente em número pois o nosso país tem um número bastante elevado, quando comparado com o resto da Europa. Ao diminuirmos o número de incêndios teremos mais eficácia no combate já que haverá mais meios disponíveis, e iremos com certeza ter uma resposta mais adequada e equilibrada. Para diminuir o número de incêndios, as medidas a ser tomadas enquadram-se quase todas no âmbito da prevenção, pois no respeitante à legislação, esta é bastante adequada, não sei é se será implementada e cumprida na íntegra.

No respeitante à consciência e sensibilidade sobre os incêndios, o povo português em geral não parece ter a postura mais correcta, pois continuam-se a fazer fogos de forma indiscriminada, ainda que na maior parte dos casos haja razões de ordem culturais ou ligadas à pastorícia, que posteriormente resultam num número elevado de incêndios. É portanto na área da consciencialização da população que há trabalho a fazer, e paralelamente um reforço na aplicação da legislação, particularmente em termos de fiscalização.

Na prevenção propriamente dita, o nosso espaço rural, sobretudo no interior está desertificado, problema que certamente se irá manter no futuro, e isso faz com que a floresta cresça muitas vezes de forma desordenada, com geração espontânea, o que prejudica na maior parte das vezes as acções de combate, pois não existe rede de acessos, pontos de água ou faixas de contenção naturais. Neste aspecto ainda temos um longo caminho a percorrer, e a prevenção e reorganização da floresta ou é acompanhado naturalmente por um regresso das pessoas ao interior e à utilização dos espaços florestais, ou então só por si, sem este acompanhamento, dificilmente haverá um grande resultado futuro e certamente acarretará custos. Não basta limpar os terrenos, fazer faixas de descontinuidade e criar espaços de contenção, terá de haver também regresso das populações, caso contrário a manutenção terá de ser contínua e a própria maquinaria utilizada terá custos elevados.”

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