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Primeira parte – A desertificação
Segunda Parte – Entrevista com Paulo Alves

Nº 103 –
Primeira parte – A desertificação
Segunda Parte – Entrevista com Paulo Alves

Sábado, dia 4 de setembro de 2021

A vida moderna também já chegou a Monchique há muito tempo, apesar de ainda se encontrarem vivências tradicionais na Serra, a 500 metros de altitude. Ao longo de décadas, vindas de Portimão e de Lisboa, mas também trazidas pelos turistas do estrangeiro, as novidades foram lentamente subindo as colinas e as serras. Com os seus 902 metros de altitude, o cume da Fóia é o segundo ponto mais visitado do Algarve – revela-nos o posto de turismo local.

O melhor exemplo da vida moderna é a moda, com os seus efeitos por vezes erráticos. Agora, as crianças já têm que ter um smartphone quando iniciam a “carreira” escolar, apesar de viverem só a uns metros umas das outras e não precisarem de falar umas com as outras ao telefone. E se Monchique não fosse um lugar tão aborrecido (principalmente depois do incêndio de 2018), tivesse melhores transportes públicos e, pelo menos uma discoteca, um cinema e um teatro? As pessoas justificam a necessidade de ter carro por não haver outra forma de ir até Aljezur. Quem quiser ir de autocarro à praia, em Lagos, tem que fazer o transbordo pelo menos uma vez. Os transportes públicos são complicados, lentos e caros. Ir de Monchique a Portimão assemelha-se a uma viagem à volta do mundo. É uma companhia de transportes monopolista a que faz a ligação, de duas em duas horas, e a viagem custa, entretanto, cinco euros. São só 22 km. É um exagero! Hoje, Monchique está num eclipse cultural e os jovens sentem-se presos entre a modernidade e a tradição. Por isso, a maior parte deles acabam por querer partir daqui. Foi assim durante os últimos 30 anos. E se, de futuro, nada mudar, este êxodo continuará outros 30. Não há postos de trabalho aliciantes por não haver um conceito sustentável ou apoios para a economia. Portanto, toca a sair daqui? Pelo menos agora a política está disposta a debater este tema.

A desertificação

de Uwe Heitkamp

Será que este concelho, que apresentava uma população de 15.000 habitantes em 1990, terá, daqui a alguns anos, umas poucas centenas de residentes? Foi o que aconteceu em Cachopo, a norte de Tavira, e em muitas outras localidades do interior que viram os jovens sair para as cidades. A grande exceção no Algarve é São Brás de Alportel, onde os políticos tiveram a sensibilidade de alargar a oferta educacional e cultural. Conseguiram que São Brás de Alportel crescesse em todos os sentidos. Agora, Monchique tem cerca de 5.000 habitantes. Em 2017, nas últimas eleições autárquicas, dos 4.840 eleitores votaram 3.487, o que corresponde a uma participação eleitoral de 72,05 por cento. A maior faixa etária tem mais de 60 anos de idade. Os jovens abaixo dos 18 anos representam menos de cinco centenas. Já não há liceu. Os estudantes têm que ir a Portimão naquele tal autocarro que para em todo o lado.

Os políticos ainda não encontraram soluções adequadas para este problema. Nada é verdadeiramente cool. Vivem muitos idosos em Monchique, e a Covid-19 espelhou o medo pela serra. Fecharam-se em casa. Foi o que evitou que muitos ficassem gravemente doentes. Mas os idosos sofrem com a solidão. O número de infetados tem-se mantido baixo, se compararmos os números com Quarteira ou Armação de Pera. Ainda prevalece o saber ancestral dos camponeses, que dá alguma segurança e autonomia ao monchiquense. Durante a pandemia ou durante um tremor de terra recordam-se das suas capacidades, acabando por ter vantagens perante os habitantes na cidade. A própria horta, a casa e os animais fornecem alguns bens essenciais, que até sabem melhor do que os que a indústria alimentar oferece nos supermercados. E na aldeia vivem com mais saúde do que na cidade. As casas são térreas.

Mas há a questão do isolamento, agravado pelas péssimas ligações de autocarro para as outras povoações. Obriga a que seja necessário dispor de outro meio de transporte. A oferta da Frota Azul/EVA, de Faro, e o custo dos bilhetes não se compadecem com o que os idosos auferem das suas reformas e o serviço é lento e pouco flexível. Muitos dos autocarros andam vazios, o que não melhora a estatística das emissões. Não há ligação entre Aljezur e Monchique, e entre Monchique e a estação de Santa Clara/Saboia também não. Para ir a Silves, tem que se ir antes a Portimão ou Lagoa. O campo é um mundo diferente. Antes das eleições os políticos prometem tudo e mais alguma coisa, para serem eleitos. Ou então, não têm quaisquer soluções. Soluções práticas e adaptadas aos problemas atuais raramente aparecem. Por isso, pergunto o seguinte:

Por que razão vivemos em comunidade e por que razão estamos na União Europeia? É uma pergunta também colocada por pessoas noutros lugares. Porque a solução para o problema de Monchique talvez exista já em outro lugar. O que falta em Monchique pode já ter sido inventado nos Países Baixos, na Dinamarca, na Áustria ou na Irlanda. Não precisamos de voltar a inventar a roda. O que é possível na Austrália também deveria ser possível realizar em Portugal, certo? O transporte público a pedido é uma ideia, possibilita um transporte simples, económico, e é fácil de concretizar. Não é necessário smartphone ou uma companhia de camionagem lenta. Basta uma central regional de partilha de transportes para fazer a ponte entre os utentes por telefone ou internet.

Transporte público moderno, eficiente e sexy?

Qualquer dos candidatos poderia estudar e analisar o funcionamento de um sistema de transportes públicos orientado nas necessidades da população. O sistema on-demand (a pedido) utiliza pequenos autocarros e viaturas particulares, que não têm rotas ou paragens fixas. As viaturas são distribuídas online ou por telefone, para responder de forma dinâmica às necessidades dos utentes. Para ser mais amigo do ambiente, deveria ser considerada a utilização de viaturas elétricas (está para breve uma edição sobre Monchique – a vila solar). Para usufruir do serviço on-demand, basta os utentes partilharem a hora de partida que desejam e os pontos de partida e chegada, pouco antes de pretenderem deslocar-se. Se surgir uma opção que interesse ao utente, este poderá confirmar o serviço. Os cientistas simularam várias possibilidades: a deslocação a pé, o transporte contratado, o autocarro ou a viatura particular. As possibilidades são analisadas para determinar se vale a pena a implementação de uma central de partilha de transportes. Também analisam o possível crescimento do sistema e a sua capacidade de reação. Os primeiros resultados das pesquisas feitas nos Países Baixos e em zonas rurais da Austrália demonstram que esse sistema público com uma central de partilha de transportes orientada nas necessidades é a solução preferida pelos utentes perante as alternativas do carro particular e do autocarro. Este sistema de transportes também seria mais eficiente e amigo do ambiente.

É isso que pretendem alcançar muitos dos cidadãos nos próximos cinco anos. Uma vida climaticamente neutra e uma mobilidade melhor, mais rápida e menos complicada. Em que século vivem os políticos? O futuro de Portugal e de Monchique é a neutralidade climática. Não queremos ser responsáveis por mais emissões, quer seja através dos incêndios ou devido à mobilidade ou ao consumo de eletricidade. Dos seis, apenas um candidato mostra preocupações com a viabilidade de Monchique no futuro. Na semana que vem faremos o balanço das várias entrevistas. Hoje, apresentamos Paulo Alves, candidato do PS. E no próximo sábado, apresentaremos André Varela, do Partido Comunista Português (PCP, PEV) que, nas eleições de 2017, obteve 4,07% dos votos, ou seja 142. A força partidária vencedora na altura foi o PSD, com Rui André, reeleito no cargo: 1.517 dos 3.663 votos (43,5%). O segundo candidato mais votado em 2017 foi Paulo Alves, do PS, com 1.306 votos, ou seja 37,45%. E é Paulo Alves, que até agora esteve na oposição, que irá hoje responder às nossas questões. Desta vez, pretende ganhar “a corrida”.

Segunda Parte: Continue a ler e ouvir (Podcast) a entrevista com Paulo Alves PS.

 

ECO 123: Quem é Paulo Alves?

Paulo Alves: Chamo-me Paulo Alves, sou candidato à Câmara Municipal de Monchique nas próximas eleições de 26 de setembro, pelo PS. Sou natural de Monchique, aqui nasci há 51 anos, em meio rural, onde vivi até aos 16 anos, sem estradas alcatroadas, energia elétrica, televisão ou telefone. Vivi bem. Sou uma pessoa feliz, amo a minha serra e a vila. Sou casado com a enfermeira Suzel Gamito, com quem tenho dois filhos, um com 22 (que já se licenciou) e outro com 17 anos, e por cá quero continuar, fazendo o melhor pelo concelho e pelas pessoas que nele habitam.

 

 

António Costa como Primeiro-Ministro é uma ajuda para que possa vencer estas eleições? 

É o nosso Primeiro-Ministro, líder do PS. Naturalmente que ajuda. Não se deslocou a Monchique, fizemos a apresentação da nossa candidatura no sábado passado, no Largo dos Chorões, esteve presente o Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e temos todo o apoio do Governo nestas eleições.

Nas últimas eleições perdeu contra Rui André. Que motivos o levam a tentar novamente?

Não considero que tenha perdido, teria perdido se lá estivesse. Concorri contra um autarca que se encontrava no poder há oito anos e, mesmo assim, eu e a minha equipa, conseguimos ser a única força política, em 2017, a recuperar força em relação às últimas eleições, num contexto difícil de perca de eleitores, ficando a 200 votos.

Porquê votar PS nestas eleições?

Embora nas eleições autárquicas, por proximidade, se procure ver mais a equipa, as pessoas que a constituem em si, os partidos também são importantes. As pessoas estão num partido porque se identificam com a ideologia do mesmo. O PS é diferente do PSD porque este, de momento, nem é um partido social-democrata, tem outra ideologia… mas o PS é um partido de centro-esquerda, que se preocupa com as pessoas, que tem a capacidade de se colocar no lugar do outro. Identifico-me com isso, é essa a nossa principal preocupação: as pessoas. E é para isso que queremos trabalhar: solidariedade, responsabilidade, respeito, que ninguém fique para trás. Esse é também um dos grandes pilares do Partido Socialista.

Monchique já se encontra empobrecido pelo grande incêndio de 2018. Como candidato, como se propõe travar os futuros incêndios?

Não tenho uma solução milagrosa. A responsabilidade de cada um é algo de muito importante. O mundo começa na nossa rua, na nossa freguesia, no nosso concelho. Temos que começar por algum lado. E na questão dos incêndios fala-se no reordenamento da paisagem, na substituição de espécies… e a questão da prevenção tem que ser fundamental. Um município tem muitas responsabilidades nas questões da gestão, das faixas de contenção, por exemplo; das faixas primárias (responsabilidade do ICNF, mas onde a câmara também pode atuar); nas faixas de gestão secundárias, junto às faixas de comunicação, que a Lei refere que devem ser feitas dez metros para cada lado; a criação de medidas para aqueles proprietários que não cumprem a limpeza à volta das habitações, de grande importância (vimos as inúmeras casas que arderam em 2018, que, por incrível que pareça, passados três anos, ainda estão muitos casos por resolver…). Já se deveria estar a pensar até numa possível solução para as casas que são de segunda habitação. Tudo isso é importante. Mas também nos pontos de água. Seria importante criar uma rede de pontos de água fixos ou amovíveis, envolver as populações.

A questão do programa “Aldeia segura – pessoas seguras”, com unidades locais de Proteção Civil, como funcionou no Alferce (que já estava constituída) e como já funciona em Marmelete, estender isso a outras populações é importante. Mobilizar pessoas para participarem ativamente no processo de proteção civil, porque todos somos Proteção Civil, é esse o meu lema.

A questão dos incêndios florestais também tem muito a ver com a educação. Promover a educação junto dos mais novos, gerir comportamentos…

É claro que as monoculturas – e eu não sou fundamentalista em relação a nada na vida, e muito menos no que se diz em relação aos eucaliptos. Porque considero que há lugar a floresta de produção, há lugar a floresta de espécies autóctones, há lugar a floresta de fruição, mas tudo tem que ser devidamente ordenado e gerido.

Há um outro aspeto fundamental na questão dos incêndios: a deshumanização do território. E sem pessoas no território não se conseguem gerir esses espaços. As pessoas que faziam a sua vida nos territórios florestais, e que tinham esses espaços bem geridos, ordenados, limpos, foram atraídas para os centros urbanos e quiseram manter o mesmo nível de rendimento que tinham; foram plantando e reflorestando, mas sem o devido ordenamento. Cabe às autoridades locais promover essa educação e esse ordenamento.

Por que motivo Monchique perdeu habitantes, nos últimos 12 anos, e São Brás de Alportel, duplicou o seu número?

São situações diferentes. E Monchique não perdeu habitantes apenas nos últimos 12 anos, e sim nos últimos 20, 30 anos.

Brás de Alportel tem beneficiado da proximidade com Faro e do seu desenvolvimento. É bem mais próximo de Faro do que Monchique de Portimão…

Mas que condições oferece Monchique? Escolas com telhados de amianto, onde chove dentro; não existe uma Casa do Povo; não há Cinema ou iniciativas culturais…

Existem coisas básicas que as pessoas procuram, como o acesso à habitação, emprego, saúde, segurança, e depois, o lazer. Tudo isso é importante para fixar cidadãos. Por incrível que pareça, em Monchique não há uma estratégia local de habitação. E este é um estudo que se faz para permitir saber em que áreas devemos intervir, quais são as necessidades do concelho: se na reabilitação dos centros urbanos, se na construção de novos fogos ou noutras situações. Essa estratégia local de habitação é essencial, por exemplo, para que o município se possa candidatar a fundos externos.

Mas há outras situações. Na Saúde, por exemplo, há uma dificuldade enorme na fixação de profissionais, principalmente médicos. Precisamos de fazer alguma coisa, nem que seja encontrar soluções para que o médico que se queira fixar em Monchique tenha uma habitação ao seu dispor. E enquanto sociedade, temos que, dentro do orçamento do município, concordar que isso é importante e tem potencial para nos mantermos e fixarmos aqui.

Para a criação de empregos e a fixação de jovens, incluir jovens recém-licenciados em projetos estruturantes dentro da autarquia também é importante. A maior parte dos jovens que saem têm outros horizontes que Monchique não lhes dá.

Mas também o lazer é importante. Continua a decorrer um programa importantíssimo: o “365 Algarve”, no qual, em Monchique, tivemos a experiência dos espetáculos do “Lavrar o Mar”, que se enraizou já quase dentro da nossa comunidade. Agora, faz falta infraestruturas. Como faz falta uma escola nova, que já deveria estar construída. Em 2015 foi celebrado um protocolo entre a câmara e a Secretaria de Estado do Ensino que previa a construção de uma escola nova, ou a reconstrução daquela, e isso caducou em 2017 e nada foi feito. E era financiada a 50%. Uma escola secundária em Monchique é essencial, bem como a de Marmelete, na qual arrancaram agora as obras para a remoção do amianto, e para a sua requalificação.

O que podemos esperar de Paulo Alves, caso seja eleito presidente de Câmara?

Não procuro protagonismo individual, valorizo muito o protagonismo coletivo. O protagonista principal tem que ser Monchique. Esperem de mim uma pessoa aberta, comunicativa, trabalhadora…

Vamos receber mais eucaliptos ou mais floresta diversificada?

Exageramos um bocadinho na cultura do eucalipto e há zonas no nosso território onde este tem que ser retirado. Noutras, devidamente ordenado, pode ficar, porque cria empregos, desenvolve a economia e tem um peso significativo na mesma. O Plano de Reordenamento da paisagem das serras de Monchique e de Silves prevê a valorização dos socalcos e a remuneração dos ecossistemas – e era bom que pudéssemos colocar isso em prática – que é compensar as pessoas, principalmente os pequenos proprietários – que querem substituir as suas áreas de eucalipto, que já estão abandonadas, que não são rentáveis… por outro tipo de cultura, como o sobreiro, o castanheiro… Este livro, “Subsídios para a monografia de Monchique”, de José António Guerreiro Gascon, escrito em 1940, mostra que existiam em Monchique castanheiros, carvalhos, sobreiros, medronheiros, oliveiras, e até… vinha. Depois, por razões diversas, essas espécies foram-se perdendo e sendo substituídas. 

Paulo Alves é bancário de profissão. Imaginemos que tenho 25 mil euros para investir. Como seria melhor investi-los no concelho?

Sou bancário há 27 anos e gerente bancário há sensivelmente 18 anos. Temos que ir pelo caminho que nos distingue, que nos diferencia enquanto concelho: os enchidos, o mel o medronho… Se pretender investir esse dinheiro em sobreiros ou carvalhos só terá um rendimento para os netos…

Quem faz um investimento, ou procura o lucro imediato (e aí, em Monchique, seria difícil), ou então investe numa perspetiva de futuro. A agricultura de proximidade, biológica, as ervas aromáticas, medicinais.

Ou seja, sujar as mãos…

Sim, eu gosto muito de sujar os dedos, as mãos, os pés, as pernas… do investimento ligado à terra…

Tem que ser sempre com transpiração?

Sim, com sangue, suor e lágrimas (risos). O meu avô dizia: “Paulo, nunca te desfaças deste bocadinho de terra, porque ele te vai ser útil em qualquer momento da vida.” Investir também é investir na nossa felicidade, não é apenas investir a nível monetário. Devemos procurar também investir num mundo melhor do que aquele que encontramos, para nós, para os nossos filhos, para os nossos netos…

Vou levar estes 25 mil euros. Compro dois equipamentos com 40 painéis solares, capazes de produzir eletricidade verde que me traz autossuficiência energética. O que pensa de fazermos de Monchique uma vila, um concelho de zero emissões?

Zero-emissões pode ser utópico. Isso faz parte da responsabilidade individual de que falávamos atrás. As energias renováveis e alternativas são importantes e um dos nossos projetos, caso chegue à presidência, passa por promover a eficiência energética nos edifícios municipais. Faz falta em Monchique. Há uma diferença entre a produção doméstica de eletricidade relacionada com os painéis solares e as grandes superfícies, que acabam por ter por base o lucro. Não é que o lucro não seja importante, porque todos procuram ter rendimento. Mas temos que avaliar os impactos ambientais dessas opções, porque também os tem, certamente.

Existe também a energia eólica. Há pouco falávamos na floresta e poderíamos ter falado também na biomassa. Fala-se há muito numa central de biomassa, que poderia aproveitar os sobrantes da floresta e mantê-la limpa.

Esse é um projeto que se fala desde o tempo do ex-presidente Carlos Tuta, e nada aconteceu… O que esperar do PS nos próximos quatro anos num planeta cujos recursos são finitos?

A nossa apresentação, lançada no dia 14 – que será divulgada em breve – já revela algumas linhas nesse sentido. Queremos intervir na habitação, no parque escolar, promover o respeito pelo meio ambiente… as alterações climáticas estão aí, é inevitável fugir dessa realidade.

Temos que arranjar estratégias no concelho que nos protejam. Uma das nossas ideias passa por lançar um Fundo de Emergência Municipal, que possa acudir de imediato as pessoas em períodos de catástrofe, ou uma Reserva Municipal, que possa disponibilizar materiais (equipamentos de proteção individual, ou outros)… A nossa política tem por base as pessoas e o seu bem-estar…

Mas, depois do incêndio de 2018, a situação é miserável.

A situação é difícil, é um desespero. A situação económica para quem vivia da floresta – agricultores, silvicultores, apicultores – piorou. Provavelmente, apenas para o ano (passados quatro anos, portanto), é que os produtores de medronho poderão passar a colher de novo frutos de relevo. Houve fundos de apoio – ainda existiram mais de 300 candidaturas na questão da agricultura (e aí o Governo interveio), poder-se-ia ter arranjado outra solução para a questão das pequenas perdas, menos burocrática. Mas, ainda assim, houve muitas candidaturas que foram pagas.

Faz falta em Monchique um Gabinete que apoie as empresas, as instituições no acesso a fundos públicos, a candidaturas – e esta é uma responsabilidade da câmara. Pode ser composto por técnicos camarários, ou exteriores, que envolva os jovens universitários recém-licenciados que possam fazer cá os seus estágios, e que apoiem diretamente a economia do concelho, para que esta possa crescer. É uma das lacunas da própria câmara a incapacidade que teve de ir buscar fundos ao exterior, porque as receitas da câmara não são para investimento. É claro que há que fomentar a questão do mel, do medronho, das ervas aromáticas e medicinais, do turismo de natureza. O desenvolvimento para Monchique tem que ser sustentável e de respeito pelo meio ambiente.

O que está por detrás da palavra sustentabilidade? Há dois anos perdemos o IMT de quase 500 mil euros na venda das Caldas de Monchique. O PS votou a favor desta medida na Assembleia Municipal. Qual é a sua posição?

Quando o projeto surgiu na câmara, os vereadores do PS votaram contra. A proposta levantava-nos dúvidas. A proposta foi melhorada pela empresa, apresentada à Assembleia Municipal, e foi aprovada, não só com os votos do PS, houve votos favoráveis das outras forças políticas, da CDU ao PSD. Temos que desmistificar essa ideia de que perdoamos. O município nunca recebeu qualquer imposto deste empreendimento, porque antes era uma fundação. E também temos que apoiar quem quer investir em Monchique.

Mas não criou emprego…

Mas faz falta uma coisa, um regulamento de apoio ao investimento, para que quem investe saiba com o que conta, e quem apoie, veja salvaguardado o que está regulamentado.

E em relação ao investimento que foi feito nas Caldas de Monchique… a empresa investiu em 2017, quando compraram o complexo; em 2018 tiveram o incêndio, agora atravessaram uma pandemia, foram, portanto, confrontados com situações que talvez os possam ter impedido de avançar com o plano de negócios pensado.

Mass a Câmara perdeu um valor em impostos de IMT.

Não recebeu porque há essa prorrogativa que, em termos de Assembleia Municipal, se pode conceder esse perdão, e a empresa comprometeu-se a passar a sede aqui para Monchique, e aqui pagar os seus impostos, e comprometeu-se com os postos de trabalho, mas há sempre imponderáveis.

Também temos que pensar mais além. Como estavam as Caldas antes desta compra? Estavam ao abandono. E temos um exemplo próximo do complexo de turismo que é o engarrafamento das Caldas, que tem tido um sucesso tremendo, e na qual existem sócios comuns entre as duas empresas. Provavelmente se, daqui a uns anos, as Caldas de Monchique crescerem e se rejuvenescerem, criando um complexo turístico-termal de relevo, poder-se-á constatar que foi bem empregue essa isenção do IMT.

O cidadão decidirá com o seu voto no dia 26 de setembro.

É sempre o cidadão que decide. Mas este também tem que ter a noção de que, tal como quem é eleito tem a sua responsabilidade, quem elege também o tem.

Obrigado.

 

Uwe Heitkamp (60)

jornalista de televisão formado, autor de livros e botânico por hobby, pai de dois filhos adultos, conhece Portugal há 30 anos, fundador da ECO123.
Traduções: Dina Adão, Tim Coombs, João Medronho, Kathleen Becker
Fotos: Uwe Heitkamp, dpa

 

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