Quando eu era uma criança de oito anos de idade aprendi nas aulas de geografia, que na terra vivem quase três bilhões de pessoas. A quantidade de vidas que esse número representa, não tinha significado para mim. Hoje tenho mais 50 anos de idade e durante esse espaço de tempo a população mundial quase que triplicou. Será que é mesmo assim? Compreende, o que eu estou aqui a escrever e a tentar, eu próprio, compreender? Vivem agora neste nosso lindo planeta azul, a TERRA, sete bilhões e meio de pessoas. E o seu número não está a diminuir. Volto a verificar os dados das Nações Unidas. Não estão enganados. Daqui a pouco tempo até seremos dez bilhões de pessoas. Como querem que isso funcione?
Também poderia contar esta história na perspetiva de um leão, tigre, elefante, rinoceronte, chita, orangotango, coral, panda gigante, gorila, ou na perspetiva de uma abelha. O que acha que estas espécies têm todas em comum? Sabe o que é? Pertencem às quase 83.000 espécies que foram integradas na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Mais do que 23.900 destes animais são espécies em risco de extinção, porque a forma de vida dos sete bilhões e meio de pessoas lhes deixa cada vez menos lugar. A notícia de que 75% de todos os insetos simplesmente desapareceram nos últimos 30 anos por causa da forma de vida do Homem, também é inquietante. Ou talvez não?
Mas talvez estes números nem me devessem incomodar. Talvez nos próximos tempos eles não se agravem mais. Nos próximos tempos? O que quer dizer isso? Será que não se irão agravar? Como é que isso seria possível? Queríamos tanto um final feliz em todas as histórias da ECO123.
Esperar pelas catástrofes que são consequência das alterações climáticas não é um bom princípio. Elas são imprevisíveis e injustas. Será que as alterações climáticas vão conter a explosão demográfica? A humanidade como um todo não tem a coragem e mal tem a inteligência para controlar a sua demografia e para escapar ao seu próprio declínio. Preferimos matar-nos uns aos outros em conflitos e em guerras, e colher furacões, chuvas torrenciais, cheias e incêndios florestais. Dessa forma, forçosamente, grande parte da civilização fica inabitável. Não irão reconstruir a Florida, o Texas e a Califórnia mais três vezes de certeza. Porque com cada furacão, os recursos são mais escassos. Os seguros vão acabar por não segurar mais as casas. O risco será demasiado elevado.
Portanto, o que podemos fazer? Na história do nosso planeta já houve cinco extinções em massa. Mas o prognóstico para a sexta extinção é que esta irá superar todas as outras. Será? Como a população mundial está em constante crescimento exponencial, os erros do nosso modo de vida, o consumo e as emissões também aumentam sempre exponencialmente, mas os recursos, bem como o número de espécies de plantas e animais, diminui de forma exponencial.
Não são realmente boas notícias, certo? É um cocktail mortífero de alteração climática com poluição, doenças, fome, guerras e perda de habitat.
A única boa notícia possível baseia-se numa única hipótese, que é desenvolvermo-nos AGORA intelectual e emocionalmente, e claro, para melhor, e investirmos todos os nossos conhecimentos e recursos no melhoramento da formação e educação da nossa próxima geração, a nível mundial. E Portugal deve começar. Mas receio que isso não seja possível em comunidade, porque não sei o que é isso, melhorar? Será possível encontrar um denominador comum? Á parte de uma “política do filho único” para cada casal (haverá rejeição?) seria condição de sobrevivência para os nossos filhos e para a nossa espécie a transmissão sustentável do saber. Entretanto em Portugal preocupam-nos as greves dos professores e os problemas que eles têm por resolver.
Mas ainda não há resposta para a questão central. Onde estará a causa das nossas crises? será que esta se deve ao facto de, no nosso sistema de ensino, aprendermos sempre conhecimentos isoladamente, mas nunca aprendermos a compreender inter-relação dos mesmos com a vida e os seus princípios? Será também porque não nos compreendemos a nós próprios e aos habitats do nosso meio ambiente? E será que queremos continuar continuar neste caminho para sempre? A mesma didática, os mesmos conteúdos, as mesmas abordagens?
Nesta edição a ECO 123 aborda o tema da educação; a aprendizagem pelos nossos erros e também a educação focada em capacidades como o respeito e o amor, colocando-as no centro das atenções. A ECO123 pergunta: como deveria ser a vida das nossas crianças no século 21, para que na nossa nave, no planeta TERRA, seja possível sobreviver afinal?