Só nos apercebemos das vantagens da vida no campo, numa aldeia, ou seja, longe da cidade e da costa, quando nos deslocamos a pé, por exemplo numa caminhada. E quem é que gosta de ter um terreno junto à praia inundado por água salgada, ou de lavar os dentes com água que sai a saber a sal ou a cloro da torneira de sua casa?
As cidades como Aveiro, Olhão, Faro, Albufeira, Portimão, Setúbal e Figueira da Foz estão todas aproximadamente ao nível do mar. Uma maré viva no tempo das alterações climáticas, ou as fortes chuvas de uma trovoada, significam que o mar ou o rio se chega às casas e empurra a água da canalização de volta para dentro da cidade. Nas grandes cidades, como Manila (Filipinas), Banguecoque (Tailândia) e Dhaka (Bangladesh), ficar com os pés molhados já faz parte da rotina diária. Quem juntar a isto a agravante de retirar água do lençol freático debaixo da cidade para a abastecer com água potável, que não se admire se, devido às cavidades assim criadas na terra, a cidade e a sua infra-estrutura abaterem 30 a 50 centímetros por ano e se, em breve, as cidades das regiões costeiras se afundarem no mar.
Atualmente já há muitas jovens famílias nas nossas cidades que notaram que, no interior do país, podem usufruir de uma vida melhor com e para os seus filhos. As suas vidas nos apartamentos dos arranha céus têm pouco verde e muito betão, pouco lugar para brincar, pouco espaço para viver, e muitos custos correntes. Levam décadas a pagar as prestações dos seus créditos bancários, sem saber se, no final da amortização, o apartamento ainda estará de pé. Assim passam os anos das suas vidas como reféns da procura de um emprego melhor e de um melhor salário.
E, entretanto, os políticos, numa desesperada fuga para a frente, tentam vender uma política do remedeio como se fosse algo sofisticadíssimo, quando o que seria necessário era uma mudança de rumo ecológico. Quando caminhamos pelo campo, passamos por muitas casas abandonadas, ruínas sem vivalma, mas com boas terras e árvores de fruto, numa paisagem linda, ao abandono. Será que já não há ninguém que queira viver no campo? Não será esta a hora de comprar uma ruína, restaurá-la de raiz de forma ecológica, segundo técnicas e construção tradicionais? Volta-se a falar de construções em adobe e em palha. Paulatinamente, brotam novas propostas de arquitetos e empresas de construção ecológicas para as ruínas de uma paisagem outrora florida. Remodelações não se anunciam – fazem-se.