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Primeira parte – Apenas homens?
Segunda parte – Entrevista com João Duarte CPM

Nº 102 –
Primeira parte – Apenas homens?
Segunda parte – Entrevista com João Duarte CPM

Sábado, dia 28 de agosto de 2021

Nem uma mulher entre os candidatos. Será que só escolheram figuras masculinas para os cartazes? Mais de metade da Humanidade não participa nestas eleições? Parece impossível! Como jornalista, cidadão europeu estrangeiro, sei que estou em Portugal, e não no Afeganistão. A seleção dos candidatos em Monchique, e em muitas outras autarquias, não representa o eleitorado como eu desejaria.

E, depois, há ainda o candidato de um novo partido neofascista, o Chega. Também não têm uma mulher como cabeça de lista. A esses, tenho apenas a dizer: Basta. Propõem que incendiários sejam castigados mais severamente, presos a uma árvore e queimados. Pela minha parte, sei que estamos num Estado de direito e que bastaria a justiça aplicar bem as leis que temos. Se um incendiário é condenado a doze anos de prisão, deve cumpri-los. Não deve ser libertado após dois, quatro ou seis anos para voltar para a casa de sua mãezinha. Um Estado que se baseia na vingança não tem futuro. O futuro do Estado depende da sua justiça.

E, por isso, também desejo a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o que implica que o eleitorado tenha uma escolha por onde optar. É a isso que chamo de justiça. Este sistema é feito por homens e não significa verdadeiramente uma escolha. Mais de metade da Humanidade, as mulheres, não se candidata. Mas, por que não? Dos seis homens que se candidatam em Monchique entrevistei cinco, e nenhum destes me parece 100% qualificado para a função de presidente da câmara. Ou estarei enganado? Um mais, os outros menos. Será que posso dizer ou escrever isto? Serei neutro? Não, não sou. Mas sou independente. Não pertenço a nenhum partido. Analiso todos com o mesmo rigor. Nenhum deles me impõe nada, nem que o apresente como sendo melhor do que os outros. Infelizmente, nenhum deles tem um plano para solucionar o maior problema da Humanidade: os incêndios, as alterações climáticas. Nenhum deles quer pegar nessa “batata quente” e solucioná-la. Talvez uma mulher seja capaz de o fazer melhor. Talvez fosse mais independente na tomada de decisão. As mulheres em Portugal têm melhor formação e mais coragem política. Trata-se, não só, de tomar decisões difíceis, mas também de as explicar (melhor) ao eleitor.

 

Desertificação

Como conseguir a neutralidade climática para Monchique? E como travar estes incêndios catastróficos? Coloquei estas questões a cada um dos candidatos e as respostas foram – resumidamente – uma desilusão. Há um deles que pretende colocar o carro à frente dos bois. Há que viver com o que se tem. Pois, a desertificação…

Pretendem começar por repovoar Monchique. Mas ninguém quer vir para cá porque as pessoas sabem que está sempre a haver incêndios. Qual é a origem destes incêndios? E haverá postos de trabalho qualificados em Monchique? Uma fábrica da Tesla, por exemplo? Energia solar e eólica para a vender? Haverá muitas empresas de TI em Monchique? O problema começa pela falta de postos de trabalho bem remunerados. Que tal pegar no problema e analisá-lo detalhadamente para depois ver que soluções estão disponíveis? Por que razão há tantos incêndios em Monchique? Será que temos que tirar os fósforos às pessoas? Será tarefa da política preocupar-se com os descontentes, com os que ficaram, os incendiários e negligentes? Sim, com certeza que é. Há que fazer parte da solução. Temos que descobrir as razões que levam a que haja regularmente incêndios em Monchique.

Em 2018, foi a negligência da EDP e a incompetência da Proteção Civil e dos Bombeiros. Deixaram um fogo considerado extinto sem vigilância. O vento virou e voltou a ativar o incêndio. Trata-se de desmistificar os fogos e os incêndios florestais, analisando-os detalhadamente para compreender como surgiu o fogo, por que não foi extinto e como se poderá, futuramente, combater este género de incêndios de forma mais profissional. E trata-se de reduzir os riscos e investir em prevenção. A população deve ser habilitada e formada para conseguir extinguir o fogo no seu início, nos primeiros 15 minutos – antes que o vento o espalhe. Claro que a monocultura do eucalipto também é determinante para o perigo de incêndio em Monchique. O eucalipto é uma espécie que retira toda a humidade da terra, transformando-a em óleo, que é de fácil combustão. Que tipo de silvicultura queremos? Florestas diversas sustentáveis e bem geridas? Ou uma floresta em que as árvores são meramente um produto para a indústria, para alimentar as máquinas do IKEA e da Navigator Company?

No dia a dia, ainda se trabalha com ameaças. Isso é algo que tem que mudar. Aplica-se as ameaças no caso das crianças, dos adultos, e até dos animais – sem resultado à vista. Espalha-se o medo com ameaças. Há muitos anos que temos incêndios em Portugal. Porém, todos os governos, de todas as cores, não questionam o seu sistema baseado na ameaça. A obrigação de limpar os terrenos, abater todas as árvores 50 metros à volta das casas, limpar o mato, imposta com a ameaça de elevadas coimas, já não move ninguém a limpar os seus terrenos. Salazar morreu. António Costa já deveria estar consciente disso. E deveria saber os motivos que levam as pessoas do campo para a cidade.

Vão porque procuram uma vida melhor. E, por que não melhoramos a nossa democracia, proporcionando vidas melhores? Por exemplo, dando participação no poder às mulheres, já que os homens não encontraram solução nestes anos todos. Indira Ghandi, na Índia, Rute Silva, em Vila do Bispo, Rosa Palma, em Silves, e Isilda Gomes, em Portimão, são a prova de que, havendo vontade, há soluções para os problemas criados pelo Homem. Sejam guerras, a pandemia ou as alterações climáticas.

A solução para os incêndios tem que ter pés e cabeça, e englobar investimentos inteligentes e corajosos nos serviços imprescindíveis dos Bombeiros – controlados por auditores independentes e incorruptíveis. Precisamos do feminino que, em vez de castigar comportamentos repreensíveis, recompensa comportamentos positivos focados em soluções para o meio ambiente. Tornar possível o inimaginável. Os incêndios florestais, entretanto, tornaram-se um assunto de tal ordem importante que deveria ser combatido com a Bazooka (Ursula von der Leyen), e não com a caçadeira para caçar javalis. Imaginemos que existe um quartel de Bombeiros como o de Monchique, também em Marmelete e no Alferce, a 20 e a 8 km de distância, respetivamente. E também em localidades mais afastadas, como em Selão, Caldas, Tojeiro, Portela da Viúva, Perna da Negra e Fornalha. Investir muito para melhorar os meios dos Bombeiros, descentralizando-os para que possam chegar mais depressa ao local e apagar o fogo, acentuando assim também a importância que lhes damos num estado democrático. Quatro carros de combate aos incêndios para 400 km2 não são de certeza suficientes, mas 40 carros dos Bombeiros, e muitas equipas bem equipadas, podem ser uma boa base de trabalho. Ser bombeiro ou bombeira é das profissões mais importantes e nobres nestes tempos. Protegem o meio ambiente e a Humanidade das alterações climáticas. E, quando nos vamos deitar, continuam a apagar os fogos e permanecem de vigília.

O Presidente da Câmara de Monchique, Rui André, do PSD, andou a fintar as vítimas do incêndio catastrófico de 2018 durante três anos. Prometeu reparação e não cumpriu. Nem uma das 61 casas destruídas, que eram de primeira habitação, foi reconstruída. E também não será reconstruída nenhuma das 50 casas ardidas de segunda habitação, se as associações das vítimas não ganharem a sua causa em tribunal. O Presidente da Câmara nem sequer participou na acusação do alegado incendiário. Se fosse um político responsável, tê-lo-ia feito. Quem pratica uma política de promessas vãs não se pode admirar quando os cidadãos, desiludidos, passam a seguir o Chega. Rui André nem sequer se preocupou em contabilizar os estragos e arrastou a revisão do PDM durante 12 anos. Quem não se interessa pelos estragos também não se preocupa em evitá-los. Seria uma solução criar uma Lei que obrigasse a aderir ao seguro contra incêndio, tempestades e sismos para se obter a licença de habitabilidade. Em entrevista à ECO123, João Duarte, do movimento independente Cidadãos por Monchique explica o que pensa sobre o tema dos incêndios e das alterações climáticas.

 

Segunda Parte: Continue a ler e ouvir (Podcast) a entrevista com João Duarte Cidadãos por Monchique. Precisa de assinatura ativa para aceder o contéudo a seguir:

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Chamo-me João Duarte e tenho 48 anos. Sou natural de Monchique, aqui nasci e vivo. Sou casado, tenho dois filhos e tenho uma formação na área da Engenharia Mecânica.

ECO 123: Quais os motivos que o levaram a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Monchique?

João Duarte: Há praticamente 20 anos que vemos o nosso concelho a degradar-se. Não temos assistido a uma união por parte de políticos e cidadãos. Tenho uma visão mais técnica e acredito que temos que mudar a visão do nosso concelho.

Dispomos de um grande potencial em termos naturais, que está a ser desaproveitado. Temos que reunir uma boa equipa com boa gente para renovarmos o nosso concelho, para trazermos as melhorias necessárias.

 

 

Estamos a falar do Movimento Cidadãos por Monchique (CPM). Qual é o vosso programa?

Este movimento foi criado há oito anos, altura em que nos candidatamos, pela primeira vez, contra o atual presidente, que está de saída. Não acreditamos nas suas promessas – e nas suas políticas – praticamente enganou toda a população durante 12 anos. As nossas promessas, feitas há quatro anos atrás, estão atualizadíssimas, mas agora temos que dar mais ênfase na reestruturação da rede viária, na habitação e na possibilidade de criação de empregos sustentáveis, que estejam relacionados com a Natureza.

Em agosto de 2018, um incêndio lavrou quase toda a terra em Monchique, Alferce, Esgravatadouro, Caldas, até aos concelhos de Silves e Portimão. Que medidas tem o vosso Movimento para acabar com os incêndios?

Passamos mal com os fogos de 2018. Temos ideias ao nível da construção das habitações, que seja uma construção resiliente aos fogos. E também temos projetos e ideias para a restruturação e organização do meio florestal. Temos, para isso, que ouvir a opinião de todas as pessoas que estão ligadas à floresta, para podermos construir um projeto credível contra o fogo.

Quase 20% do concelho foi lesado. Mais de 750 agricultores perderam culturas, florestas, 61 casas de primeira habitação, 50 de segunda habitação. E, até hoje, ninguém recebeu qualquer recompensa. Não considera importante resolver esta situação antes de começar a fazer política?

Se tivermos a oportunidade de dirigir o nosso concelho, é averiguar o que aconteceu mesmo com as pessoas lesadas, porque não se admite essa situação. A Câmara deve ser o primeiro organismo a dar esse apoio e a desbloquear as situações para que as pessoas lesadas tenham os apoios para renovar as suas casas. A política da habitação deveria ser revista. As políticas são pensadas a nível nacional, esquecendo por exemplo a morfologia, o tipo de terrenos, as condições habitacionais, o viver das pessoas. Devem fazer parte dos novos projetos, entre outras medidas, aspersores em cima das casas, diferentes espécies florestais ao redor das habitações.

Pode imaginar como se sente este povo?

Claro que sim. Agora temos que tentar alcançar a liderança, chegar às pessoas e ver quais são as suas reais necessidades.

É uma grande herança a de Rui André.

Uma grande herança pela negativa. Há muito trabalho a ser feito. Durante 12 anos não foram feitas a manutenção preventiva e corretiva, por isso passamos e vemos o estado em que se encontra o nosso concelho. Quando havia algo avariado, Rui André optava por retirar, não reparava, não fazia as manutenções adequadas. E estamos aqui na estrada do Esgravatadouro e sabemos no estado em que ela está, completamente degradada, por simples falta de manutenção. Podem criticar que Carlos Tuta não deixou estradas bem feitas, mas deixou estradas alcatroadas.

Nem sempre é o dinheiro a mandar. O primeiro passo para os lesados dos incêndios poderá estar na reconciliação. Porque, se continuamos a fazer política como se nada tivesse acontecido, como ficam as pessoas?

Há três anos que isto perdura… o desapontamento.

É também candidato à CMM o Chega.

É normal que esses partidos surjam. As pessoas estão descontentes e o Governo tem sido gerido pelo PS e pelo PSD, que, praticamente, não têm feito nada para ajudar as populações. Temos observado nas pessoas que se dirigem à Assembleia Municipal. Existe um partido que faz uma proposta, outro até concorda, mas, ou abstém-se, ou vota contra, porque é um veto político, e isto é contra as populações. A única forma de unirmos as pessoas e trabalharmos como um coletivo é com movimentos independentes. Quantas mais forem as pessoas que aderirem ao nosso movimento, melhor será o caminho que somos capazes de trilhar.

O eucalipto é uma espécie que arde bem e gosta de arder. Ocupa 80% da mancha florestal de Monchique. Que solução?

É uma espécie que tem aumentado, por opção dos proprietários, pelo forcing das empresas ligadas à pasta de papel, como a Navigator, entre outras. Se tivermos um terreno e plantarmos eucalipto, temos uma rentabilidade ao final de nove anos, mas se plantarmos medronheiros, ao final de talvez cinco anos, já começamos a ter alguma rentabilidade. Até chegar aos nove anos, temos, para lá da rentabilidade, a criação de postos de trabalho, a transformação… porque o que dá dinheiro às pessoas é a transformação. Possivelmente existem terrenos no concelho em que a terra não dará para mais nada, mas noutros… esse será o último recurso.

O fogo de 2018 passou junto a florestas geridas por essas grandes empresas de celulose, e essas não arderam. É uma questão de gestão. Temos que criar transformação em Monchique. Podemos apostar no cultivo do limão, na sua transformação, num licor, num gelado…, no medronho, na cortiça. É na passagem do setor primário para o setor secundário, através da transformação, que vamos ganhar dinheiro, criar potencial económico.

Quais os principais pontos do Movimento?

Temos que apostar no melhoramento das vias.  Como eu, que me desloco todos os dias para Loulé, há quem se desloque para Portimão ou para Silves… Há que criar condições para que Monchique seja um local bom para se viver, e dentro da natureza.

Vejamos que ter uma criança num ATL em Monchique custa menos de metade do que se for em Portimão.

A escola é uma boa ponte. Mas as escolas em Monchique estão cheias de amianto.

As escolas têm que ser sustentáveis, amigas do ambiente, e incluir também o ensino profissional. Precisamos de carpinteiros, mecânicos, canalizadores, sapateiros, e outro tipo de ofícios, porque os técnicos e a formação técnica é uma mais-valia para o concelho e permite criar novos postos de trabalho. E daremos assim oportunidade às pessoas de serem empreendedoras e construírem o seu próprio emprego, família e casa aqui em Monchique.

A transformação do teto das escolas pode passar pelo recurso a energias eólicas, fotovoltaicas. Temos um grande potencial para fazer isso tudo.

Sei, porque em casa tenho um sistema limpo de energia fotovoltaica…

Tenho trabalhado bem para reduzir a minha pegada ecológica e a da minha família. Tenho três painéis de produção de energia fotovoltaica, desde 2008. No primeiro incentivo abracei logo esta decisão. E tenho um jipe que se move a óleo vegetal. Até ao fogo de 2018 fazia a reciclagem dos óleos provenientes das cozinhas e utilizava no meu próprio veículo. Se lermos um pouco da história de Rodolfo Diesel, ficamos a saber por que motivos construiu um motor a diesel. Fê-lo para que os agricultores dispusessem de uma ferramenta para trabalhar as suas terras com um combustível acessível que pudesse ser construído através das plantas oleaginosas. E uma planta oleaginosa, quando está a crescer e a formar o seu próprio fruto, está a tirar CO2 da atmosfera, a fazer a renovação. Em termos de ciclo, representa zero.

… pensa comprar uma viatura elétrica?

Mais tarde, com a evolução, sim. Se conseguir carregar as minhas baterias com a energia proveniente dos meus painéis é meio caminho andado para avançar. Mas, o facto de a energia no país ser ainda 47% proveniente de fontes fosseis, deixa-me reticente. E tem também a ver com a exploração das matérias-primas para o fabrico das baterias.

Podemos transformar Monchique num concelho Zero Emissões. Por onde começar?

Na produção de energia e no consumo de iluminação pública. Metade dos candeeiros públicos poderiam ser alimentados a energia fotovoltaica, reduzindo substancialmente a fatura paga à EDP. E temos o Moinho do Poucochinho, entre outros, que fazem parte do património do concelho – e que devem estar abertos à população – mas aos quais podemos associar pequenas unidades de energia hídrica. Este tem que ser um caminho construído com pressa, inteligência.

Nós devemos mudar. Mas não temos de o fazer por necessidade. Devemos fazê-lo por inteligência e pela ambição que temos para a vila. Temos uma ideia para a otimização, manutenção e regulação das infraestruturas do concelho. Não consideramos que a Serração, que se encontra junto ao Cemitério, seja a localização ideal para um Pavilhão de eventos.

Não temos sequer em Monchique uma sala para eventos culturais…

Posso avançar com algumas ideias…

Quer fazer alguma promessa?

Não. Os nossos objetivos estão traçados e o que nós prometemos é muito trabalho e dedicação. Dentro da ideia das artes, cultura e educação, a ideia que vimos a desenvolver e que foi apresentada há quatro anos à população, passa por mudar os Bombeiros do centro da vila para os armazéns da Câmara. Enquanto hoje o edifício não possui ponto de entrada e de saída de viaturas, neste espaço existiria a possibilidade de criar boas condições de circulação; o acesso ao Alferce, Marmelete e Portimão, Foia e Estrada de Saboia seria, também, possível sem os congestionamentos da vila e, logo, mais rápido.

Não se prevê a construção de um quartel em Marmelete, Casais ou Alferce?

Precisamos de pequenas unidades. Pontos de barragens em sítios estratégicos poderão ser igualmente uteis, permitindo o acesso a um helicóptero.

E, se alterarmos o tipo de construção, contemplando uma pequena reserva de água e os aspersores em cima do telhado, talvez o tempo de deslocação dos Bombeiros a um fogo possa não ter de ser tão rápido.

Pretendemos também retirar o heliporto do atual local. Foi construído provisoriamente por Carlos Tuta, num espaço que era reservado a eventos, feiras, no coração da vila.

Os armazéns da câmara passariam para o Parque Empresarial, a edificar-se com tempo, fora da vila. O espaço ideal seria a Nave. É uma planície, tem duas estradas, acessibilidades, uma ribeira; a estrada da Ribeira das Canas, que tem que ser melhorada, reconstruída, alargada, para criar a estrada de acesso rápido a Portimão, à A22, permitindo retirar da nossa estrada turística os veículos pesados de mercadorias. Esta estrada seria utilizada para o turismo, o ciclismo e outras atividades lúdicas. Nos primeiros quatro anos podemos iniciar as bases desses projetos, e ouvir as pessoas, a sua opinião. Acham que este é o caminho que devemos percorrer juntos? Será importante ouvir quais as suas prioridades.

Falarão, decerto, do Centro de Saúde.

Temos que criar condições para que todos os habitantes tenham médico de família. Existe um apoio da Câmara à Universidade do Algarve para a formação de médicos e temos que ser os primeiros a pedir que, depois de formados, esses profissionais façam a sua especialização/estágio nos concelhos onde existem mais dificuldades.

O Centro de Saúde está em péssimas condições. Sabemos que é difícil incentivar médicos para o interior, mas se pudermos oferecer outro tipo de concelho, instituições e acessos, por certo virão, também porque gostam de vir para cá almoçar, provar o medronho, usufruir da natureza…

Um indivíduo que vá tirar um curso de aviador na Força Aérea, fica agregado à instituição um determinado número de anos. Se o custo da formação é de todos os contribuintes, por que não ficar um determinado período (equivalente aos custos da formação) ligado ao serviço público e nos concelhos mais necessitados? Essa lei tem que ser revista.

Há quatro anos faltou-nos disponibilidade financeira para chegar às pessoas. Somos um movimento independente e os recursos que utilizamos para a nossa campanha são os da nossa equipa.

Quantas pessoas fazem parte do CPM?

Somos trinta elementos.

Pessoas de Monchique…

Também de outros locais. Tentamos concorrer a Marmelete e ao Alferce, mas devido à alteração da política do PS e do PSD para prejudicar as candidaturas dos movimentos independentes, só conseguimos formar o nosso grupo depois da revogação da lei, há perto de um mês e duas semanas. Há quatro anos, começamos em fevereiro e comentávamos: “estamos a começar tarde”, este ano começamos em junho, ainda mais tarde. Mas não baixamos os braços.

Não vamos receber subsídios nem apoio de nenhum partido político, assim daremos mais valor ao nosso dinheiro e ao dinheiro da nossa população.

Screenshot Autarquicas2017

O que pode mudar em Monchique caso o Movimento seja eleito?

A primeira a mudar é a atitude. O fundamental é sabermos ouvir as pessoas, chamar as que são crítico-construtivas para que nos possam ajudar. As pessoas que são críticas são uma mais-valia. Criticam porque gostam de ver as coisas diferentes, melhores. Quando um político começa a rodear-se de “yes men” quem paga é o povo. O nosso concelho não evoluiu e tem atravessado um deserto. Basta mudar a atitude com que é feita a gestão da Câmara e usar o bom senso para construirmos um concelho saudável, sustentável e amigo do ambiente. Um movimento independente consegue reunir consensos, traçar caminhos e fazer obras muito mais rapidamente.

Obrigado pela conversa.

Uwe Heitkamp (60)

jornalista de televisão formado, autor de livros e botânico por hobby, pai de dois filhos adultos, conhece Portugal há 30 anos, fundador da ECO123.
Traduções: Dina Adão, Tim Coombs, João Medronho, Kathleen Becker
Fotos: Uwe Heitkamp, dpa

 

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