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Nº 11 – Deixamos o Centro Agrícola (CEA) de Tavira aberto!

Quarta-feira, 15 de Abril 2020

de  Sue Hall

Esta semana tem sido de altos e baixos. O confinamento está a afetar-me mas tem havido momentos de felicidade. Os pontos baixos estão relacionados com a ansiedade por causa do número de infetados e do tempo exato que teremos de ficar em casa. Um ponto alto recente foi a entrega de 30 hambúrgueres de couveflor feitos por um amigo da REconomia. Marcelo tem um restaurante vegetariano em Tavira e oferece agora a entrega em casa de certos alimentos do seu menu. Foi um membro fundador do grupo REconomia de Tavira.

Estou num grupo online chamado REconomia Practitioners. Surgiu com o movimento de transição. Há alguns anos atrás, alguns de nós criámos um grupo local em Tavira. Nós chamámos-lhe “REconomia, Tavira”. No primeiro ano, criámos uma moeda local e apresentámo-nos regularmente no mercado de exterior de Tavira para promover os bens e serviços locais. Temos um diretório do que as pessoas oferecem e do que querem em troca. Criámos muitas pontes, mas o desenvolvimento desse comércio tem sido lento.

Desde o encerramento, a maioria de nós na REconomia tem estado bem. É um momento de reflexão. A última tentativa de nos reunirmos foi por causa da Marcha das Alterações Climáticas, que acabou por ser cancelada. Acho que este tempo de inação está a dar a alguns de nós uma oportunidade de descobrir como podemos evitar voltar à atividade normal após o confinamento. Esta sociedade dependente do carbono tem de mudar. Influenciar estruturas e o poder é sempre obra de ativistas, mas também é importante a partilha de ideias.

Fiquei satisfeita por ver que o modelo da “Economia Donut” de Kate Raworth será formalmente adotado pelo município de Amesterdão como ponto de partida para as decisões na política pública. Foi a primeira cidade do mundo a assumir este compromisso.

Segundo o Guardian, “A premissa central é simples: o objetivo da atividade económica deve ser o de satisfazer as necessidades fundamentais de todos considerando os limites do planeta. O “donut” é um mecanismo que mostra o que isto significa na prática.”

https://www.theguardian.com/world/2020/apr/08/amsterdam-doughnut-model-mend-postcoronaviruseconomy

Há uns meses atrás, o concelho de Tavira foi convidado a declarar o estado de emergência devido às alterações climáticas. Recusou. Pergunto-me se será fácil encorajá-los a adotar um modelo económico que funcione a favor e não contra as necessidades do planeta.

Atualmente, esta cidade está a realizar uma consulta pública sobre o Plano de Urbanização de Tavira. O plano implica o possível encerramento do Centro Agrícola (CEA). Este centro é essencial para a formação de pessoas com capacidade para mitigar o impacto das monoculturas e das alterações climáticas. Um dos temas do CEA poderia ser a sensibilização para a importância da água no âmbito de um plano de gestão ecológico deste recurso. O CEA poderia desempenhar um papel no controlo da produção intensiva de framboesas em estufas. Os trabalhadores nessas estufas são na sua maioria do Nepal e vivem em edifícios sem condições de habitabilidade. Atualmente, 21 trabalhadores das estufas têm Covid-19. Foram retirados do armazém onde estavam a morar e estão agora a viver no recinto da feira. O Município de Tavira está a tentar tranquilizar os habitantes, afirmando que tem o assunto controlado. Acho que não estavam a contar com estes problemas.

Neste momento, é difícil ver como pode existir uma consulta pública eficaz, já que a cidade toda está encerrada. Não sou a única a pedir que a consulta pública seja adiada para depois do confinamento, permitindo aos grupos reunir para dar uma resposta, individual ou coletiva.

Sue Hall

Jornalista, vive perto de Tavira; www.suehall.net

Photos:dpa & Sue Hall

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