Sexta-feira, 1 de Maio de 2020
A Primeira Guerra Mundial terminou com a gripe espanhola, em 1918. Esta frase – tal como está – nunca foi escrita num manual de História. Por que não? Diz-se que esta epidemia excedeu em mais de três vezes o número de pessoas que morreram no campo da guerra. A gripe espanhola não tem nada a ver com a Espanha. Sabia? A gripe espanhola foi trazida dos Estados Unidos para a Europa. A mãe de todas as pandemias, como também é chamada, começou quando um vírus na criação industrial de uma capoeira, no estado do Kansas – ou mais precisamente no concelho de Haskell -, se propagou aos seres humanos na primavera de 1918, através de um avicultor, e foi transportada para a Europa pelos militares americanos, e assim, para o campo de batalha da Primeira Guerra Mundial. Outra “curiosidade”: a febreamarela pôs fim às guerras de Napoleão; a peste acabou com a Guerra dos 30 Anos. Devo mencionar outras pandemias? A gripe suína e das aves, a gripe de Hong Kong, a cólera e o ébola, na África Ocidental: como é que as epidemias derrubam os impérios e os sistemas económicos? Como estarão os EUA dentro de alguns meses? O orgulho e a estupidez são sempre prévios à queda. E, mesmo na altura, como agora, existiam teorias da conspiração. Não vou ocupar-me a falar sobre as mesmas. Quero levar esta história até outro ponto.
Que sentido existe em ter gerações de historiadores e economistas, incluindo jornalistas, educados nas universidades, e que não sejam de modo algum capazes de ser úteis à Humanidade? Ou, dito de outra forma, porque razões professores de História e jornalistas se têm mostrado tão inábeis no seu trabalho para a defesa da Humanidade? Esta enorme massa de conhecimentos, de suposta inteligência, não conseguiu, até hoje, impedir uma pandemia. Pelo contrário.
Poderíamos aprender, se tivéssemos sido ensinados na escola e pelos nossos pais e avós, valores muito uteis nos dias de hoje, como ser atento e paciente. Aprendemos isto no facebook? Não vamos aprender. Só vivemos, trabalhamos e nos divertimos porque temos de continuar sempre com a vida e o trabalho, com o ego? Será que vivemos porque não podemos fazer mais nada?
Tivemos agora esta oportunidade. Porque é que a usamos pouco? Durante seis semanas, muitos de nós tiveram tempo para entrar em si mesmo, para meditar, pensar, encontrar formas de sair do beco sem saída. A gripe espanhola no outono de 1918 provocou uma segunda e, posteriormente, uma terceira vaga de infeção. O que provocou mais de 50 milhões de vítimas. Sem problema?
Bem, podíamos chamar agora a este nosso assunto a Matemática. Há quase oito mil milhões de pessoas, das quais alguns milhões são dispensáveis. São? Será que o Criador falhou no design quando criou o Homem? Vivemos em média 70 anos, comemos cerca de 100 kg de carne por ano, e só nos esforçamos por algo a que Karl Marx chamou valor acrescentado e a que outros filósofos deram um outro rótulo, um nome diferente. Mas, no final, não importa. O que é importante agora é o que fazemos com a nossa massa cinzenta, como podemos encontrar a saída no labirinto da crise. E é aqui que são chamados, tanto os economistas, como os historiadores. Mas, tal como em 1918, nada acontecerá de diferente em 2020. Todos querem agora de volta a sua liberdade de circulação e o regresso à “normalidade”. Aqui têm. Sirvam-se da liberdade e vamos todos infetar-nos mutuamente com Covid-19. E deixemo-nos, assim, arruinar! A vida resume-se a uma singular questão entre Ter e Ser, não é? E o resto é apenas história, certo? O Homem tem um defeito dentro de si. Sem memória coletiva, ele esquece. Reproduz-se uma vez a cada 20 anos e está cada vez mais distante de si mesmo.
Recomendo o livro “Epidemias e Sociedade: da Peste Negra à Atualidade”, de Frank Snowden, publicado pela Universidade de Yale (Leitura grátis na internet).