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As plantas do nosso caminho

Quando fazemos um passeio pelo campo estamos longe do valor das imensas plantas que habitam o solo. Para além da sua beleza, elas podem acompanhar a viagem que é a nossa vida, protegendo a saúde, curando o corpo e a mente em períodos de convalescença.

A cada ano que passa descobrem-se 2.000 novas plantas. São usadas na medicina, na alimentação, no ambiente, nas roupas, em biocombustíveis e na confeção de venenos. Atualmente são perto de 5.500 as plantas utilizadas para consumo humano. Um pequeno passeio de quatro quilómetros no coração de Monchique com a especialista em plantas silvestres, Fernanda Botelho, e Monchique Passeios na Serra, revelou um pouco mais sobre a flora local, os seus usos medicinais e culinários.

Erva-de-São-Roberto, dente-de-leão, urtiga, labaça, orégão, linho ou trevo convivem, lado a lado. São ervas medicinais, acessíveis a qualquer pessoa, consumíveis em chá, cruas ou confecionadas. Numa altura em que os médicos recomendam tanto os fluidificantes do sangue, é bom saber que o salgueiro-branco (por ser detentor de salicilatos, está na origem do ácido salicílico, composto principal da Aspirina), o Ginkgo Biloba ou o alho podem ser nossos aliados. Assim como a tanchagem ou as malvas que, “por terem muita mucilagem, são capazes de proteger as paredes do estômago e intestino”.

O manancial de usos é enorme: do saramago e das mostardas comem-se as flores e as sementes; as capuchinhas e as ervilhacas, bem como a flor das frondosas camélias japónicas que grassam em Monchique, “são deliciosas em saladas”. Já a fumária é apropriada “para quem tem problemas de diabetes”, o fruto do lupínio ou tremocilho, o tremoço, “muito aconselhado para a gota ou para fazer baixar o colesterol”. E que dizer das mentas e das suas propriedades desparasitantes? Do surpreendente sabor dos fetos, cujo consumo deve ser controlado, por conter traços de cianeto?

Enquanto descansamos sob os sobreiros, lado a lado a um manto de linho-bravo branco, Fernanda fita o lugar. “Três meses de chuva ininterrupta fizeram saltar cá para fora plantas incríveis que eu não sabia existirem em Portugal. As sementes podem dormir 10 anos debaixo do solo e, quando encontram as condições ideais, saltam de forma mágica da terra!”.

Formada em pedagogia de Montessori e Waldorf, esteve muitos anos em Inglaterra e aprendeu muito sobre plantas em várias formações, nomeadamente na Scottish School of Herbal Medicine, mas é dos seus avós que guarda os ensinamentos mais antigos. Hoje as plantas fazem parte da sua vida. “Não tomo medicamentos e não coloco na pele nada que não possa comer também”, diz, opinando que “Às vezes são precisos apenas pequenos passos para mudar de estilo de vida. É a nossa saúde que está em causa”.

Dicionário botânico de um passeio por Monchique

PERCURSO: Descansa Pernas – Viador – Tanque do Povo – Fonte da Mata Porcas – Mata Porcas – Cerro do Toiro – Bica Boa – Descansa Pernas

DISTÂNCIA: 4 Km

A
• Acácia (Acacia longifolia) – Acacia

• Alecrim (Rosmarinus officinalis) – Rosemary

• Alfavaca-de-cobra (Parietária officinalis) – Wall pellitory

• Alteia (Althaea officinalis) – Mallow

• Amor de hortelão (Galium apparine) – Cleevers

• Arruda (Ruta sp) – Rue

• Aroeira-mansa (Schinus terebinthifolius) – Christmas berry wilelaiki

B
• Borragem (Borago officinalis) – Borage

C
• Calêndula silvestre (Calendula arvensis) – Calendula

• Camélia japónica (Camellia japonica) – Japanese camellia

• Capuchinha ou “bico-de-papagaio” (Tropaeolum majus) – Nasturtium

• Carqueja (Pterospartum tridentatum) – Carqueja

• Castanheiro (Castanea sativa) – Chestnut tree

• Celidónia ou Erva-do-Betadine (Chelidonium majus) – Celandine

• Cenoura-brava (Daucus carota) – Wild carrot

• Crisântemo (Chrysanthemum) – Crysanthemum

D
• Dedaleira (Digitalis purpúrea) – Foxglove

• Dente-de-leão (Taraxacum officinale) – Dandelion

E
• Eucalipto (Eucalyptus sp) – Eucalyptus

• Erva-cidreira (Melissa oficinallis) – Lemon balm

• Erva-leiteira (Euphorbia helioscopia) – Sun spurge

• Erva-das-sete-sangrias (Glandora próstata)
– Scrambling gromwell

• Erva-de-São Roberto (Geranium robertianum) – Herb-Robert

• Ervilhaca (Vicia sativa) – Vetch

• Esteva (Cistus ladanifer) – Gum cistus

F
• Feto-comum (Pteridium aquilinum) – Eagle Fern

• Fumária (Fumaria officinalis) – Fumitory

G

• Gladíolo silvestre ou “calça-de-cuco” (Gladiolus communis) – Cornflag

L
• Labaça (Rumex sp) – Docks

• Lavanda (Lavandula sp) – Lavender

• Língua-de-ovelha (Plantago lanceolata) – Narrowleaf plantain

• Linho-bravo (Linum bienne Miller) – Pale flax

• Louro (Laurus nobilis) – Bay laurel

• Lupino (Lupinus) – Drew’s Silky Lupine

M
• Malva silvestre (Malva sylvestris) – High Mallow

• Malvaísco (Althaea officinalis) – Marsh Mallow

• Margarida (Bellis perennis) – Daisy

• Mentrasto (Mentha suaveolens) – Wild mint

• Mostarda (Sinapis alba) – White mustard

• Morrião (Anagallis arvensis) – Pimpernel

• Morugem (Stellaria media) – Chickweed

N
• Nêveda ou calaminta (Nepeta cataria) – Catnip

• Nogueira-comum (Juglans regia) – Walnut

O
• Olaia (Cercis siliquastrum) – Judas-tree

• Orégão (Origanum vulgare) – Oregano

P
• Papoila (Common poppy) – Papaver rhoeas

• Perpétua-das-areias (Helichrysum stoechas) – Curry Plant

• Poejo (Mentha pulegium) – Pennyroyal

R
• Ranunculus (Ranunculus) – Buttercups

• Rosmaninho (Lavandula) – Wild lavender

S
• Sabugueiro (Sambucus nigra) – Elder

• Salgueiro-branco (Salix-alba) – White willow

• Salvia (Salvia officinalis) – Common Sage

• Santolina (Santolina chamaecyparissus) – Cotton lavender

• Saramago (Raphanus raphanistrum) – Wild radish

• Silene (Silene niceensis) – Silene

• Silva (Rubus) – Blackberry

• Soagem (Echium plantagineum) – Purple viper’s bugloss

• Sobreiro (Quercus suber) – Cork oak

T
• Trevo (Trifolium repens) – White clover

• Trovisco (Daphne gnidium) – Spurge flax

U
• Umbigos de Vénus (Umbelicus rupestres) – Navelwort

• Urtiga (Urtica urens) – Nettle

Dina Adão

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