A Eco123 falou com o biólogo Dr. Philipp Althöfer (47), o inventor de um método completamente novo de reciclagem de papel. Ele estudou Ciências da Natureza nas Universidades de Düsseldorf, Bona e Colónia. Tema da tese: Processo de tratamento biotecnológico de água, partindo do exemplo de uma fábrica de papel reciclado numa grande cidade. Tese de doutoramento 2001: Amaciamento e reutilização da água biologicamente tratada do circuito do fabrico de papel. Althöfer é leitor na Universidade de Colónia. Os seus alunos frequentam o curso de “tratamento biológico dos efluentes“. Pouco antes do nosso fecho de edição, Althöfer mostrou à ECO123 a primeira máquina deste novo processo e colocou-a a trabalhar.
ECO123: Considera-se agora mais cientista ou um empresário?
Althöfer: Pelo tempo despendido, eu sou definitivamente mais empresário. Mas fiz muita investigação científica na área. Quando se pode oferecer conhecimento científico, também faz sentido criar uma empresa. Eu fundei a Aerocycle GmbH (Lda.) em Colónia em 2001, e com a promoção comecei o meu próprio negócio.
Na sua página de Internet diz Colónia-Londres, porquê?
Tem a ver com a cooperação científica na área da Electrotécnica com o Kings-College, de Londres. Nós conseguimos construir uma boa colaboração. Todos estes procedimentos são hoje electronicamente controlados.
Como é que alguém inventa uma máquina assim?
Nós descobrimos coisas que gostaríamos muito de melhorar. E quando ainda nos queremos dedicar ao seu estudo científico e penetramos profundamente na matéria, encontramos problemas técnicos e queremos oferecer soluções. Está dentro de nós – ou não, se possuímos uma bússola para contextos técnicos. A natureza é o modelo: aqui não existe desperdício, sobrevivem apenas os organismos e processos mais eficientes, logo a Biologia é uma ajuda crucial.
Se eu entendi bem, inventou uma máquina na qual a água na reciclagem do papel tem apenas um papel secundário. Como é que você junta ecologia e economia?
Imagine que tem um fardo de papel velho, que habitualmente pesa 350 kg. Nele estão incluídas todas as qualidades de papel possíveis: cartão, papelão, revistas, jornais. Nada está separado ou limpo. Por isso há muitas impurezas, tudo coisas que não nos interessam ter: matérias plásticas, metais, areia, vidro – algumas com uma proporção de até 20%.
Estes fardos de papel velho viajam pelo mundo inteiro. No global circulam cerca de 200 milhões de toneladas de papel velho por ano. Essa é a matéria-prima principal. Que é exportada até à China. Quase todas as fábricas usam papel velho, e há também aqueles que só trabalham com ele. O papel velho tem que ser tratado. Para o fabrico do papel são necessárias as fibras. Portanto, todas as fábricas de papel têm que desfibrar o papel. Para isso – e essa é a técnica convencional – é usada muitíssima água. Geralmente, a proporção de papel para a água é de 5% papel velho e 95% de água. Isso entra na chamada pasta, que todas as fábricas de papel têm. Pode imaginar isso assim. Uma misturadora sobredimensionada desfibra os fardos e dissolve o papel velho em água. Isso consome muita energia, porque toda a água é movida e poluída, pois nesta etapa as impurezas ainda estão presentes na água. No nosso processo é exactamente o contrário. 95% de papel velho e só 5% de água. Também precisamos de um pouco de água – água da chuva amolecida, nós trabalhamos com uma ferramenta de impacto num moinho – que fica muito quente. As fibras iriam queimar-se se nós não acrescentássemos alguma água, e uma grande parte evaporava. Ao mesmo tempo, também há o pó para molhar. Dessa forma consumimos muito menos energia. O processo seco tem a vantagem decisiva de que se pode mais facilmente eliminar as impurezas, separá-las das fibras de papel.
… Imagino que retira os metais via ímans…
… Certo. E separo os não magnéticos via gravidade. Chamamos a esse processo separação gravimétrica integrada. À medida que o moinho roda, nós separamos e as partículas pesadas simplesmente caem. Isso só é possível a seco, pelo que são necessários vários passos do processo convencionais.
E o que faz com o plástico?
O plástico também é mais pesado que as fibras do papel. É igualmente moído, porque é especificamente mais pesado e pode ser separado também a seco. Um exemplo ilustrativo muito banal é quando sujamos as nossas calças de ganga com lama. É muito mais fácil se secarmos e depois escovarmos. Assim removemos logo quase todas as manchas e depois é só meter na máquina de lavar. Se deixarmos ficar a lama e metermos directamente na máquina, as manchas acabam por não sair completamente. Uma vantagem realmente decisiva deste processo é que o tratamento dos resíduos de papel é feito a seco.
Que possibilidades se abrem, quando se usa menos água no fabrico de papel reciclado, e, portanto, também se acumula menos água poluída?
Em primeiro lugar, a imensa economia da água por si só. Depois, o evitar das águas residuais daí resultantes. Sai sempre mais caro do que a água doce. No processo a seco nós podemos não só desfibrar, como também separar as substâncias inertes e as tintas a seco. Convencionalmente, para isso precisamos de níveis de “Cleaner”, e a desvantagem é sempre a mesma: no estado húmido é sempre difícil separar as partículas. Elas são prensadas a alta pressão através de poros finos. Isso consome muita energia. No estado seco é possível sacudi-las para fora das fibras.
Existem diferentes máquinas grandes? E quanto custa esta?
Esta aqui cria até 30.000 toneladas por ano. Numa hora são cinco toneladas ou 100 toneladas por dia. É o suficiente para uma fábrica de papel muito pequena. Mas a maioria está entre as 50.000 e as 500.000 toneladas de papel por ano. Damos ao nosso processo o nome de FRT (Fiber Refreshing Technology). Por trás disso está o facto que a qualidade do papel através da reciclagem convencional normalmente diminui continuamente. São necessárias sempre fibras frescas, para que o produto volte a ganhar consistência. Com esta técnica totalmente nova as fibras são poupadas e podemos fabricar produtos essenciais que são interessantes para a indústria do papel: desde envelopes a papel higiénico. A máquina mais pequena tem um custo na ordem dos cerca de 500.000 euros.
A sua invenção também poupa energia e espaço?
Poupa até 80% de electricidade. Os fardos que são prensados a partir das fibras FRT, com as mesmas dimensões pesam 30 a 50% mais do que os fardos de papel velho. Isso significa um correspondente melhor uso da capacidade de carga dos camiões e contentores marítimos com vantagens ecológicas significativas: meios de transporte até agora tinham carga útil máxima limitada, podem em comparação com os convencionais fardos de papel velho, transportar 30 a 50% mais fibras FRT.
Muito obrigado pela conversa.
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