Cor de laranja não é o mesmo que cor de tangerina, já que esta é exclusiva de Guimarães, mais especificamente do restaurante vegetariano que se encontra mesmo em frente ao castelo que serviu de berço ao condado portucalense.
Idealizado em Santo Tirso mas materializado em Guimarães, este é o único restaurante vegetariano em toda a cidade, mas nem por isso deixa de reflectir a história gastronómica da zona em pormenores como o uso de ervas aromáticas típicas como o alecrim ou a presença de alimentos fumados, ambos combinados no prato de arroz de alecrim e tofu fumado. Da mesma forma, o Cor de Tangerina propõe aos seus clientes uma versão vegetariana do tradicional molho de caçador que ficou humoristicamente baptizado como “molho de caçador que não foi à caça”.
Embora fundado há 8 anos por um grupo de amigos, este restaurante é dirigido por Dinis Mendes, Liliana Duarte e Eduardo Gonçalves que perseguem uma cozinha de fusão das várias tendências alternativas saudáveis como o veganismo, o crudivorismo ou a macrobiótica. Essa preocupação com a saúde é também de certo modo espelhada em várias das sobremesas, nomeadamente numa versão da mousse de chocolate com açúcar mascavado e chocolate negro.
Na cozinha deste restaurante a escolha dos ingredientes é fundamental, não apenas por causa do seu sabor mas também devido à sua história na cozinha vimaranense e de igual modo porque a forma como o comércio é feito importa.
Se na sua génese, o Cor de Tangerina era uma loja de produtos de comércio justo então chamada Azul de Tangerina, essa preocupação nunca abandonou os responsáveis, já que além de confeccionar os pratos, Dinis, Liliana e Eduardo também fazem questão de ter como fornecedores os pequenos produtores locais, organizando também uma feira mensal de produtos biológicos.
Desde modo, através da agricultura de proximidade, o ideal do comércio justo é praticado na zona onde se inserem, assim como a questão da sustentabilidade é resolvida através dos produtos típicos de cada época. Esta postura deriva do facto deste restaurante apresentar ainda outras facetas, particularmente a de cooperativa, como forma de afirmar uma participação activa no desenvolvimento sustentável.
Outra das facetas que Dinis, Liliana e Eduardo fazem questão de vincar é a da tentativa de reforçar a pedagogia alimentar junto do público através de pequenas acções de sensibilização como as visitas às escolas a fim de exemplificar formas de concretizar lanches saudáveis, e paralelamente explicar todos os factos implicados na produção e comercialização de todos os bens que chegam às mãos das crianças.
Ainda que no início, Dinis, Liliana e Eduardo tivessem encontrado algumas resistência derivado do facto de Guimarães ser uma cidade conservadora e tradicionalista, actualmente os cidadãos vimaranenses já não os estranham, chegando inclusivamente a contar agora com vários clientes regulares, assim como com visitas frequentes de turistas estrangeiros. Aqui os autênticos sabores lusitanos fundem-se verdadeiramente com a modernidade da alimentação vegetariana abraçando assim a tradição e a contemporaneidade numa mesma refeição.