Sábado, dia 4 de março de 2023.
Recebi, no outro dia, uma estranha chamada telefónica referente à peça de teatro da semana passada. “Isso não foi acordado!” – vociferou no telefone uma voz para o meu ouvido. Primeiro, afastei o telefone do ouvido e depois respondi que nada tinha sido acordado em relação à apresentação, pois não celebro acordos quando escrevo alguma coisa. Os pensamentos são livres, tanto no teatro como na imprensa. Ou não é? 25 de Abril!
Entendo que é um erro da direção contar ao público um conto de fadas em que a ficção se baseia na realidade, sendo esta, no entanto, manipulada pela maravilhosa mentira da reciclagem como solução. Era tudo o que eu tinha a dizer.
E esclareci a minha posição de que, por uma questão de princípio, não escrevo uma crítica sem ter visto primeiro o ensaio geral. E nenhum comunicado de imprensa, por muito bem feito que seja, pode mudar isso.
Por essa razão, faço-me convidado para o ensaio da peça de teatro que me interessa e tento fotografar os protagonistas da peça, em cena. Sou logo proibido de o fazer e dizem-me que poderia escolher fotografias do dossier de imprensa da peça. Afinal, até onde vai a liberdade de imprensa, em Lagos, no belo Algarve, em 2023?
Antes de ter escrito a recensão, ou seja, no próprio dia do ensaio geral, sou gentilmente convidado a assistir também à estreia da peça. Com todo o gosto – respondi. Ao telefone, pedem-me então que retire o artigo da publicação, porque trata de forma crítica a reciclagem do plástico. Porque nem todo o plástico é igual e não pode ser reciclado. Então, porque não evitar o plástico, porque não boicotar o plástico? Porquê insistir naquilo que já foi exigido há mais de 30 anos e com que a Nestlé e outras empresas causam os maiores problemas possíveis na natureza?… O lobby da indústria do plástico (petróleo e químicos) chega, desta forma, ao pequeno teatro em Lagos e introduz-se no enredo com uma inverdade…
Uma peça de teatro que trata da questão dos resíduos e depois oferece a reciclagem como solução? Informo a diretora de que o plástico não é reciclado, mas sim deitado fora ou exportado para o Extremo Oriente. Infelizmente, esta é a realidade. Porque o plástico não pode ser reciclado – na melhor das hipóteses existe um “downcycling” –, a indústria produz continuamente novo plástico que inunda os oceanos, as praias, a natureza e os aterros sanitários desta Terra. O nosso mundo está a transbordar de resíduos de plástico.
Resultado: a ECO123 é desconvidada de ver a estreia. Os bilhetes são cancelados na bilheteira do teatro e assim termina a chamada telefónica. Obrigado, Alice no País das Maravilhas. A diferença entre publicidade comprada e jornalismo vivo é enorme e ainda não chegou a Lagos. Os jornalistas têm de viver com isso nos dias de hoje. Afinal, não foi há muito tempo que Salazar se disfarçou e se adentrou na sociedade carnavalesca. E aí não foi detetado.