Sábado, 15 de Agosto de 2020
Se o clima não estiver muito quente, plantam-se agora em agosto as couves para o Natal e prepara-se o terreno para as sementeiras e plantações do Outono. É uma boa altura para secar frutos (figos) e hortícolas (tomates). Regar bem as árvores jovens e cobrir a terra à sua volta com palha, mulch ou erva seca…
Estávamos no início do ano quando o Almanaque Agroflorestal Plantei.eu brotou em Montemor-o-Novo. A sua semente traduziu-se no desejo de divulgar conhecimento e informação útil sobre práticas agrícolas e florestais sustentáveis. Em papel e em formato digital, propõe um calendário de plantações e uma lista de ações, e explora um novo tema a cada mês. Em agosto? Prepara-se o terreno para as sementeiras e plantações do próximo outono. Sugere-se semear beterraba, brócolos, cebola, couve-flor, couve- galega, grão-de-bico, morangos, piripiri, rabanete, rúcula; plantar alface, alho-francês, beterraba, brócolos, cebola, couve-flor e colher cebola, cenoura, meloa e melancia…
“Apetecia-me fazer algo na horta, e sentia que a informação estava muito dispersa, precisava de pesquisar em vários lugares”, recorda Isabel Pinto Coelho, membro da Cooperativa Integral Minga e mentora do projeto. “Uns sites têm informação sobre árvores, outros sobre flores, outros sobre hortícolas. Há artigos muito interessantes sobre propagação de árvores ou recolha de sementes, perdidos dentro do site do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Apaixonava-me pela informação que os meus amigos biólogos me davam, e sentia necessidade de fazer a ponte entre estas pessoas e o público em geral. Simplificar a informação técnica e torná-la mais atrativa”, explica.
Como o hortelão prepara a sua colheita, Isabel colhe histórias de pessoas e de agroflorestas, técnicas, fotografias, vídeos, artigos e fichas de plantas com as quais vai nutrindo o site e as redes sociais. Plantei.eu é fruto das mãos, das mentes e dos corações de um grupo de membros da Minga, com a participação dos biólogos Bernardo Sá Nogueira e José Mateus; a ilustração, a aguarela, pertence a Miguel Schreck. O apoio do programa No Planet B!, da AMI, permitiu financiar parte de um trabalho que foi essencialmente voluntário.
O almanaque tem circulado gratuitamente por escolas, associações ou cooperativas, e pode ser adquirido online. Com as receitas, pretende-se continuar a produzir conteúdos, criar mais materiais educativos e financiar ações concretas, como formações de agrofloresta ou instalação de viveiros.
“São urgentes práticas mais sustentáveis de produção alimentar; criarmos mais zonas florestais, que permitam mais biodiversidade. O solo é a base de toda a vida. Através dele conseguimos perceber a saúde de uma paisagem. Hoje, os solos estão a morrer. Mais de metade de Portugal corre risco extremo de desertificação”, sublinha Isabel.
A agrofloresta surge como uma resposta, ao combinar a produção florestal com produção hortícola, e ajudando a regenerar o solo. Em Montemor, a Minga procura trabalhar com produtores no terreno e ajudar a transformar o paradigma da monocultura e do uso de químicos, para instituir uma maior variedade de produções, nomeadamente florestal. “Da beringela à madeira de nogueira, das aromáticas e dos óleos essenciais de sálvia e lavanda às bagas dos arbustos… a agrofloresta permite maior diversidade de produção, em vários extratos, bem como uma maior rentabilidade.”
A ótica é a de recuperar e manter a saúde dos solos e das plantas, de cuidar da natureza. “Compreendendo que todos os elementos fazem parte, que todos fazem falta. Do morcego que come insetos à joaninha que se alimenta de pulgões, passando pelos cogumelos que comunicam entre si…”, explica Isabel. Esta é, afinal, a inspiração principal do projeto: “Perceber que o ser humano é só mais um desses elementos. Só mais um trabalhador entre os vários trabalhadores da natureza.”