Sábado, 17 de Outubro de 2020
Há temas que são bem mais importantes do que o Covid ou as eleições com o Tio Patinhas. O que eu gostaria de saber é como se pretende o futuro da Humanidade e disto a que chamamos “a nossa economia”? É uma questão fundamental que tem que ser colocada e respondida agora. 2020 é o ano indicado para fazer uma pausa e refletir sobre este assunto fundamental: será possível e, se sim, como poderá a ecologia ser conjugada com a economia?
É interessante verificar como se alteraram os comunicados de imprensa das grandes empresas durante os últimos meses. Se recentemente a mensagem central ainda eram os resultados das operações, agora, está em foco a cor “verde”. A cor verde? – perguntam. Sim, a neutralidade climática está na moda. O medo quanto ao futuro está por toda a parte. Agora, as multinacionais realçam a sua preocupação com o meio ambiente em vez de destacar os dividendos. Dito de outra forma: quem investia nas empresas só pensava em obter mais-valias. Quanto mais, melhor. Agora é diferente. Nesta crise, perguntamo-nos qual será o nosso futuro?
Leio a notícia de que a Tetrapac sueca pretende alcançar em breve a quase neutralidade climática. Quase? E a Nestlé, a Volvo, a Airbus e muitas mais afirmam o mesmo. Será? Os burlões no CO2 da VW, diga-se de passagem, também alinham. Mas não vejo nada que se relacione com a amizade pelo ambiente nos produtos da Tetrapac. Todo o lixo que provocam as suas embalagens poderia ser evitado se fizéssemos as nossas compras localmente. A Tetrapac faz embalagens a partir de petróleo. Onde está aqui a neutralidade climática? A neutralidade climática está na fruta que esprememos para fazer o nosso próprio sumo. Tetrapac? Para quê? Tenho um recipiente que uso sempre que compro leite diretamente ao produtor e, por vezes, até faço o meu próprio iogurte, kefir ou queijo com ele. Evito o lixo da Tetrapac. Esses, a Nestlé, e muitos outros, só pretendem salvar a sua imagem com falsas medidas “verdes”. Mas veremos mais um exemplo da atualidade.
O banco mutualista mais antigo de Portugal, o Montepio Geral (fundado em 1844, com 328 sucursais, prejuízos de 408,8 milhões de euros em 2019) e com o maior número de associados (mais de 600.000) está em dificuldades por erros cometidos Direção na gestão do banco. Há especulações sobre uma possível compra por parte do BCP Millennium, fundado em 1985 no Porto.
Pergunto-me se o Montepio conseguiria vencer sozinho caso agisse de forma transparente e sustentável, fazendo uma aliança com os valores da ecologia? Claro que uma terapia (estratégia) destas não se concretiza de hoje para amanhã, nem pode ser ditada de cima para baixo. A sustentabilidade é algo construído de baixo para cima, como uma árvore bem enraizada. Requere tempo. Mas fica a questão sobre como e até que ponto os bancos e a economia em Portugal podem trabalhar de forma verde.
Será que os bancos deveriam ter diretrizes éticas? Será que deveriam investir apenas em projetos sustentáveis? A sustentabilidade garante estabilidade. Esta é garante para qualquer atividade económica. E é por isso que a cor verde levanta questões fundamentais à economia e ao sistema financeiro. Por que razão investir na Galp ou na EDP e não optar antes pela cooperativa COOPÉRNICO? As regras da ecologia criam bases sustentáveis que alimentam o hoje e o amanhã. E há que incluir regras para a transparência e política empresarial que poupem os nossos recursos, para possibilitar a vida às gerações futuras. É este o significado mais profundo da sustentabilidade. Um banco como o Montepio, ainda para mais de raiz mutualista, tem que se reinventar. Caso contrário será comprado e desaparecerá, tal como qualquer outra empresa.
Mas como podem os bancos investir valor sem fomentar mais lixo, sem se envolverem na venda de armamento, na exploração até à exaustão dos recursos hídricos, em monoculturas ou na exploração social? Em Portugal, precisamos urgentemente de um verdadeiro banco que invista na agricultura local e sustentável, e não em OGM e em combustíveis fósseis; que invista na mobilidade e produção energética verde e limpa e deixe de parte as monoculturas do eucalipto para apoiar as florestas autóctones com diversidade que se mantêm saudáveis hoje e amanhã.
Estes tempos de Corona levaram ao processo de adaptação e downsizing da nossa economia. Há companhias de aviação a fechar. A indústria automóvel e os respetivos fornecedores lutam pela sua sobrevivência, bem como os hotéis e os bancos. Esta conjuntura afeta também o endividamento dos Estados, que teima em financiá-los, e o turismo, que destrói o país com os seus projetos imobiliários. E as pessoas?
Procuro em vão por um banco mutualista em Portugal que só invista em valores eticamente sustentáveis. Um banco que apoie obras de adaptação para a eficácia energética das casas no Porto e em Lisboa e a reconstrução de casas ardidas no campo, para as proteger melhor contra as ondas de calor, as tempestades e os incêndios nesta crise climática; um banco que invista na agricultura familiar e regional, numa agricultura biológica e socialmente empenhada e nas redes de distribuição regionais para produtos alimentares saudáveis, em negócios sustentáveis e na educação. Desejo que o greenwashing não tenha futuro, e que o futuro pertença à verdadeira economia verde. À economia circular. Só aí é que um projeto como o Acredita Portugal faria sentido. Se um banco apresentasse soluções para si, mas também para os seus clientes. O sucesso do Acredita Montepio depende da resposta ao aliar a economia com a ecologia.