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Nº 5 – Uma afinidade pela pitaya

Quinta-feira, 9 de Abril 2020

Vivi um turbilhão de emoções ao longo das últimas semanas. Mas a situação deixou de me afetar tão profundamente quando bani o Facebook e o Twitter da minha vida. Neste estado de emergência, o que procurei e acabei por encontrar foi a paz.

O meu jardim beneficiou com este confinamento. Esta semana podei cinco pitaias que há anos estavam a ser negligenciadas. São catos mas não querem o clima de um deserto. Preferem humidade e solo fértil. Corresponderam à falta de atenção com uma quantidade insignificante de fruta. Esta situação teve de mudar.

De certa forma, sinto uma empatia com a pitaia. Estou a respirar num país estrangeiro. As condições são diferentes e tenho procurado encontrar o que me alimenta nesta terra. Desde o início da minha mudança para Portugal, há 12 anos atrás, que faço um esforço consciente para criar ligações e fazer amigos na comunidade local. Procuro ativamente pessoas que se preocupam com a terra, com os processos de crescimento e com os processos regeneração. Penso que é isto por que estou a passar.

Cultivar legumes e frutas e ficar ainda mais consciente dos caprichos das suas necessidades parece ser uma excelente opção para este confinamento. Espero que muitos dos sobreviventes deste período angustiante abracem a necessidade de cuidar ainda mais profundamente da terra. Reparei numa citação atribuída a Eric Miller esta semana, “atualmente, todos reparamos que o capitalismo pede ao socialismo que o salve do colapso.”

Estamos aquém do momento em que os “ismos” são relevantes. Não sei qual vai ser o resultado desta paragem forçada. Mas sei do que precisamos quando a nossa saúde e bemestar estão ameaçados. É tempo de olhar para aquilo que temos, água, luz, ar, beleza da natureza e a possibilidade de produzir alimento. Temos ligações a amigos e a familiares. Temos redes e formas de comunicação apenas premindo um botão. Temos a possibilidade de obter uma consciência mais profunda do outro e do que o nosso planeta precisa.

Reclamações sobre o que não temos só trazem insatisfação. Espero que este momento nos ajude a ser ainda mais autossuficientes, emocional, mental e fisicamente. Em 1976, John Seymour escreveu no Livro Completo da Auto-Suficiência: ” a auto-suficiência não é voltar a um passado idealizado em que as pessoas se alimentavam com implementos primitivos. É avançar para um novo e melhor tipo de vida.”

Como é que isso poderia ser concretizado aqui no Algarve? Talvez através de um envolvimento local entre as comunidades, em que as pessoas partilham mais e quebram as barreiras entre si e o desconhecido. A IN Loco já organizou a entrega de legumes dos produtores a pessoas que não conseguem sair de casa. É assim mesmo!

Sue Hall

Jornalista, vive perto de Tavira; www.suehall.net

Precisa de legumes e frutas? Há produtores que os levam até si

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