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Nº 62 – Uma Parceria Económica Regional Abrangente?

Sábado, 21 de Novembro de 2020

Depois de anos de negociações, este domingo foi assinado o maior acordo comercial do mundo entre 15 países. Da Parceria Económica Regional Abrangente (RCEP, sigla em inglês) fazem parte os dez Estados membros da ASEAN, o Brunei, o Camboja, a Indonésia, Laos, a Malásia, o Myanmar, as Filipinas, Singapura, a Tailândia e o Vietnam, bem como a Coreia do Sul, a China, o Japão, a Austrália e a Nova Zelândia.

Este tratado é o resultado de longas e intensas negociações, iniciadas em 2012, e é considerado um reforço da influência chinesa na região. Embora o seu âmbito seja relativamente limitado, o RCEP abrange mais pessoas do que qualquer acordo comercial anterior. Só a China contribui com 1,4 mil milhões de pessoas para os cerca de 2,2 mil milhões afetados pelo acordo.

Como mostra o gráfico seguinte, o RCEP também tem um peso económico significativo, representando quase um terço do PIB global em 2019. Com um PIB acumulado de 25,8 triliões de dólares, a recém-formada aliança comercial é maior do que o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, o sucessor do NAFTA) e o Espaço Económico Europeu, que compreende a UE27, Noruega, Islândia, Liechtenstein e, durante a fase de transição do Brexit, o Reino Unido.

 

Monchique first

Nós, em Monchique, vivemos as nossas vidas através de outro modelo económico, um modelo que se baseia principalmente na ecologia. O nosso modelo agrícola é independente de outras regiões, e muito mais pequeno. Curtas distâncias, sustentabilidade e economia local são as nossas principais prioridades: temos quase tudo o que precisamos para viver bem, inclusive medronho e azeite. Em Monchique, temos muito bom pão, de farinha portuguesa, os nossos próprios produtos lácteos, feitos a partir de leite de cabra, presunto de porco preto e, claro, uma minúscula loja chinesa. Uma segunda e grande loja foi à falência há algumas semanas. Não precisamos de demasiadas coisas vindas do estrangeiro. E, acima de tudo, não precisamos de esperar oito anos para assinar um contrato estúpido entre diferentes países e produtores.

Encontramo-nos às sextas e aos domingos no mercado e, em apenas meia hora, ‘despachamos’ todas as nossas compras. Ovos, maçãs, laranjas, beterrabas, couve-flor, alho francês, feijão, milho doce, batatas, e muito mais. Se tivermos tempo, tomamos um café entre amigos. São portugueses e estrangeiros que se reúnem depois das compras. Esse é o nosso dia-a-dia. Pensamos que isto é muito mais amigo do ambiente e provoca menos emissões de carbono, e é certamente mais humano. Vivemos todas as quatro estações intensamente e, com elas, vem a rotação de culturas. O tempo em Monchique ainda passa lentamente, apesar de estarmos ligados à Internet. Tornámo-nos quase autossuficientes e esse continua a ser o nosso objetivo para o futuro.

Porquê transportar maçãs ou costeletas de borrego da Nova Zelândia para Monchique? Comprar sapatos da China para quê, se temos o nosso próprio – excelente – sapateiro em Monchique, que nos garante reparações rápidas e de alta qualidade? Deixem-me acrescentar o seguinte, antes de terminar: o conceituado economista anglo-germânico Ernst F. Schumacher publicou uma grande ideia em 1972, relativamente aos serviços que prestou a Winston Churchill e Mahatma Gandhi, em 1946. “O que é pequeno é belo”, este é o título do seu best-seller. A dimensão não é garantia de valor: pode ser vantajosa, mas não o é forçosamente. Em economia, a dimensão leva a uma concentração de poder, destrói a diversidade e, normalmente, não é sustentável.

Não tenho nada mais a acrescentar a esse modo de vida.

Uwe Heitkamp (60)

jornalista de televisão formado, autor de livros e botânico por hobby, pai de dois filhos adultos, conhece Portugal há 30 anos, fundador da ECO123.
Traduções: Dina Adão, John Elliot, Kathleen Becker

Fotos:dpa

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