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Nº 72 – É tudo uma questão de energia, certo?

Sábado, 30 de Janeiro de 2021

Durante a pandemia do novo Corona têm-se revelado – como nunca antes – as mais variadas atitudes nas pessoas. E são estes momentos desafiantes que têm feito com que o ser-humano consiga ultrapassar os seus problemas. Agora, estamos numa fase em que, no fundo, o objetivo consiste em travar a propagação do vírus Covid-19. Esta é uma luta entre o Homem e o vírus, Golias e David. Quem sairá vencedor? Desde que temos uma cabeça entre as orelhas, e um cérebro para pensar, que estamos aptos a decidir o nosso futuro. E, se pensarmos bem, chegamos à seguinte conclusão: Qual é o comportamento responsável pela maior propagação do vírus? Isso! São as deslocações. São as viagens de A para B e para C. São elas que transportam e espalham o nosso inimigo, que o levam de uma pessoa para outra. E, entretanto, contabilizamos mais de dois milhões de mortos.

Quem vai ao restaurante para comer e beber, desloca-se. E isso, de momento, é quase impossível. Os restaurantes estão quase todos fechados e as deslocações foram muito restritas. Mas continuamos a comer e a beber. Tem que ser, obviamente. Mas, como nos movimentamos menos, até deveríamos comer menos. Vou revelar como estou atualmente a resolver este dilema: verificando o meu dia a dia, notei que já só tomo duas refeições por dia, comendo também muita fruta da minha horta: laranjas, toranjas, clementinas. Mas ainda podemos ir às compras. Que tal desenvolver mais esta linha de pensamento? Muitos dos problemas podem ser resolvidos simplesmente não fazendo nada. É incrível, mas real. O melhor para quem não quiser ser contagiado é ficar em casa. Dormir mais e apanhar banhos de sol, quando o tempo estiver bom para absorver vitamina D. Uma vida mais consciente pode ser praticada, aqui e agora. Claro que, para alguns, isto pode ser aborrecido – não se sabem ocupar sozinhos. Mas é uma questão de tentar a mudança. Há muitos que procuram o contacto com o mundo exterior em brincadeiras pelo telemóvel. Alô, está aí alguém que se sinta tão mal ou tão bem como eu? Mas, ao fim e ao cabo, vamos acabar por constatar que isso não é mais do que uma forma de matar o tempo.

Quero aproveitar bem o meu tempo e, por isso, reparto o meu dia, dando-lhe um ritmo. Começo bem cedo por pensar no que irei comer durante o dia, no que pretendo cozinhar. Nestes tempos de Corona, muitos já devem ter reparado que estar na cidade não é o ideal. Porquê? É difícil ter uma horta para cuidar. Esta semana cabei de plantar muitos morangos. Se estivesse a viver na cidade, faria uma lista com os objetivos para os próximos tempos. Em primeiro lugar estaria: ir para o campo. Há muitas pessoas a fazer essa lista de momento, caso tenham essa possibilidade e energia para raciocinar. A ação pode ficar para depois e para quando houver essa possibilidade. De momento, não nos devemos deslocar muito. É um tema para o futuro, para quando o Golias e o David… já sabem a história.

Tenho quase sempre uma grande alegria de viver, ou seja, tenho (lido muitos livros) sempre batatas (doce), cebolas, alhos e ovos na cave – e na cozinha, e também azeite de produção própria. Na horta e no prado existem ervas comestíveis e plantas estranhas que crescem depressa quando chove o suficiente. Servem para fazer uma salada de entrada com rúcula, dente-de-leão e capuchinhos. Corto as batatas em pequenos cubos ou rodelas finas, conforme me apeteça nesse dia. E hoje é dia de fazer uma tortilha para o almoço. Frito os cubos ou as fatias de batata com cebola picada numa frigideira com azeite até ficarem douradas. Depois, bato vários ovos numa malga, em que acabo por colocar também as batatas e a cebola frita (sem esquecer o sal e a pimenta) e deixo essa mistura a apurar durante 30 minutos. Entretanto, também junto alguns gramas de noz-moscada. Depois, alouro tudo e finalizo, colocando a tortilha no forno, com calor superior. De momento, também há cogumelos na floresta que podem valorizar significativamente uma refeição, se se souber diferenciar inequivocamente os comestíveis dos venenosos. Como sobremesa sirvo um puré feito de maçã com passas, canela e mel.

E, para terminar, a notícia do dia: pela primeira vez foi atribuída uma estrela Michelin a um restaurante vegan. Um reconhecimento especial para criações saudáveis e amigas do ambiente da chef Claire Vallée, do restaurante “ONA”, em Arès, a oeste de Bordéus (https://www.clairevallee.com). Veremos quando uma distinção desta ordem será atribuída em Portugal.

 

Uwe Heitkamp (60)

jornalista de televisão formado, autor de livros e botânico por hobby, pai de dois filhos adultos, conhece Portugal há 30 anos, fundador da ECO123.
Traduções: Dina Adão, Tim Coombs, João Medronho
Fotos: Stefanie Kreutzer & dpa

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