Sábado, dia 17 de janeiro de 2025.
As imagens e o filme da Califórnia a que assistimos são aterradores. Não devemos deixar que as nossas florestas e as nossas casas sejam devastadas pelo fogo. Há soluções para este problema dos incêndios florestais. Exatamente no momento em que estamos a instalar o décimo aspersor de alta potência na nossa própria floresta, chega-nos a notícia de que, em Los Angeles, floresta e edifícios estão envolvidos em chamas e os ventos se transformaram em tempestades, ateando incêndios que devastam comunidades inteiras. Isto permite-nos vislumbrar o que aconteceu na semana de 3 a 10 de agosto de 2018, na serra de Monchique, quando um cabo de alta tensão da E-REDES roçou várias vezes num eucalipto e, com uma temperatura de 44º Celsius, as faíscas atearam um incêndio florestal. Quando no sábado, 4 de agosto de 2018, pelas 14 horas, se pensava que o fogo estava debelado, o vento mudou de Sudeste para Noroeste (será que, na Proteção Civil, ninguém vê as previsões meteorológicas?) e o incêndio, dado como extinto, reacendeu. Desta vez, deflagrou logo a sério, e os bombeiros, nessa mesma tarde de sábado, já estavam a caminho de suas casas para o fim de semana. O que é que aprendemos dos imensos incêndios florestais em Monchique, no Algarve?
Em primeiro lugar: “Ajuda-te a ti próprio e só então serás resiliente. Só assim terás uma chance”. No meio da crise climática, tanto o Estado como os seus políticos, neste caso, a presidente da Câmara de Los Angeles, o governador da Califórnia e o senil Presidente dos Estados Unidos, são impotentes. Nós conhecemos relativamente bem a insuficiência da política em Monchique e em Portugal e, como somos ambientalistas, tivemos uma ideia muito especial. Em primeiro lugar, fundámos uma cooperativa que se compromete a considerar a floresta como um bem comum a ser protegido. Aí, a par dos seres humanos, vive um grande número de outros animais e plantas. Tínhamos acabado de comprar um vale arborizado que, no incêndio de agosto, depois de quatro outros incêndios florestais, desta vez, ardeu completamente. Junto a alfarrobeiras centenárias, e com uma mangueira de jardim, extingui o fogo. Ainda assim, consegui salvar quase metade da nossa floresta. Interliguei cinco mangueiras, obtendo assim uma mangueira de 250 metros de comprimento. A pressão da água foi ficando cada vez menor e, no final da quarta-feira, quase no fim do incêndio que já ardia há uma semana, o sistema municipal de água entrou em colapso, e da mangueira corriam apenas alguns pingos. Lá se foi a política por água abaixo.
Por isso, confie apenas nas suas próprias forças e procure pessoas igualmente “tricotadas” com uma filosofia de autonomia criativa. Coopere entre os seus vizinhos. Porque o Estado e os seus políticos só reagem, na maior parte das vezes, demasiadamente tarde e de forma inadequada a eventos deste género. E uma incompetente burocracia apenas agrava o problema, em vez de o solucionar. Construa uma grande cisterna, recolete a sua própria água da chuva a partir das caleiras da sua casa. Para 50.000 litros, precisamos apenas de seis dias de chuva por ano. Instale um mecanismo de extravasamento e encha outra cisterna. Para completar este conceito, plante uma árvore, depois uma floresta, e canalize o excesso de água da chuva para as raízes das árvores do seu jardim.
Recolha água no inverno para o verão seguinte
Pegue numa folha de papel DIN/A4 e desenhe o seu terreno florestal, depois marque os melhores locais a partir dos quais poderia defendê-lo de eventuais incêndios florestais. Está a ter em linha de conta o vento e tempestades de Norte, Noroeste e também de Nordeste? A quantos metros devem os vários aspersores pulverizar a água da chuva que se encontra na cisterna? Quantos litros de água utiliza numa hora? Precisa de uma distância de 25 ou 30 metros para se proteger a si e aos outros do fogo? Ou necessita de mais distanciamento do fogo? Construa o seu próprio sistema resiliente de anti-fogo, considerando ventos que propagam fogo e faíscas a cerca de 80 a 120 km por hora. Da cisterna até ao seu comando (a que chamamos bunker) sai um tubo de água, com uma polegada e meia. Confortavelmente sentado no sofá, ser-lhe-á possível abrir e voltar a fechar as torneiras. O bunker é o centro de controlo de onde saem os tubos de água de 1 ¼ polegadas. De cada aspersor individual sai o seu próprio tubo de água, que deverá ser colocado no subsolo. E isto é praticamente tudo o que precisa de fazer durante um incêndio. Esteja alerta. Use uma máscara de gás e roupa à prova de fogo. E nunca faça este trabalho sozinho. Quatro olhos veem mais do que dois. Faça-o em conjunto com um amigo, um vizinho, com o parceiro. A mangueira deverá ficar perto da torneira, como reserva, para ser utilizada se o fogo atingir uma zona que os aspersores não conseguem alcançar.
Reverdejar o planeta
A instalação do nosso sistema antifogo, a que chamámos WetNet, é capaz de salvar, não apenas vidas, mas sobretudo a base da vida em si mesma, a floresta. Trata-se de proteger um grande pedaço de natureza que levou muito tempo a crescer e que está cheia de vida. As árvores transformam o dióxido de carbono em oxigénio, o elixir da vida que precisamos para respirar. As árvores dispensam sombra e contribuem para harmonizar o clima. A natureza procura sempre equilibrar os caprichos do homem, encontrar um meio termo entre altos e baixos, se a deixarmos, se apoiarmos a floresta para que permaneça um habitat. As florestas doam alimentos: nozes, amêndoas, figos, etc.
Quem vive na cidade e não conhece a floresta, dificilmente poderá atribuir um valor a uma árvore. Muitos procuram fazê-lo através do dinheiro. Mas rapidamente percebemos que não se pode comer o dinheiro. Não só devemos preservar a floresta, como também temos de assegurar a sua diversidade. Enquanto cooperativa, queríamos inventar um sistema através do qual pudéssemos proteger a nossa floresta do fogo, e isto, após inúmeros incêndios florestais em Monchique. Não encontrávamos nada assim à venda. Por isso, fizemo-lo nós próprios. Comprámos mais de um quilómetro de tubos de água de PVC flexível, que podem suportar uma pressão até 10 bar.
E agora temo-lo e já se encontra integralmente instalado. Recordamos o que fizeram os nossos antepassados no século XII, no Alentejo, no Convento de São Paulo, na Serra da Ossa, perto do Redondo, quando os monges recolhiam a água da chuva do inverno nas cisternas das caves do que é hoje um hotel de cinco estrelas e assim tinham sempre água fresca disponível nos meses quentes e secos de verão, também, e sobretudo, para regar os jardins no período seco.
As pessoas têm de viver de alguma coisa: de batatas, alfaces, tomates e cebolas, também de curgetes, pimentos e tantos outros legumes e, especialmente, de frutas de árvores, como: damascos, pêssegos, laranjas e limões, e por aí adiante; por exemplo, as famosas uvas com as quais se faz o vinho.
Nós, em Portugal, somos tão ricos, especialmente em história. Devíamos unicamente estar cientes disso, e recordá-lo. Porque a água é tudo, e, sem água, o tudo é nada. E com água apagam-se incêndios florestais, e particularmente, encharcam-se com água as florestas ressequidas até ao tutano, para que os fogos nem cheguem a propagar-se. E o que é ainda mais importante é a diversidade na floresta. Não é o eucalipto que nos traz a verdadeira riqueza; a variedade de diferentes árvores autóctones (por exemplo, sobreiros, castanheiros, alfarrobeiras, amendoeiras e figueiras, e muitas outras) assegura que a floresta tenha a humidade necessária para não se consumir em chamas vezes sem conta. Porque só o eucalipto e outras espécies arbóreas invasoras é que sugam as últimas reservas de água do solo. De facto, tem que se conhecer o contexto quando se aprovam leis em Lisboa. E dever-se-ia verificar atentamente, em estudos de campo, quais são os danos provocados pelas monoculturas, em Portugal e na Europa. Afinal, os incêndios florestais são causados pelas alterações climáticas provocadas pelo ser humano.
Na próxima semana, continuaremos aqui esta história. Tem três partes e conta o processo dos aspersores, uma técnica que, quando corretamente instalada e depois cuidadosamente utilizada, poderá ser responsável por apagar incêndios florestais.